Lula faz a diferença Merval Pereira
Política

Lula faz a diferença Merval Pereira



 O GLOBO

As pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias, da CNT/Sensus e do Datafolha, têm boas notícias para todos, dependendo da leitura que se faça. O crescimento da candidatura da ministra Dilma Rousseff a coloca como uma candidata consolidada, não fossem os problemas de saúde, que continuam sendo uma barreira para que o PT e os partidos aliados do governo fechem acordos definitivos.

Mas o fato de a candidata de Lula ainda estar abaixo do nível que se convencionou ser o patamar básico do petismo, de cerca de 30% do eleitorado, indica que ela é uma candidata difícil de carregar. A ministra Dilma, apesar de toda a exposição dos últimos dois anos, reforçada pelo clima de consternação popular em torno de sua doença, está em uma faixa entre 16% e 23%, dependendo do instituto e de sua metodologia.

Os analistas da oposição não duvidam que ela chegue, porém, ao patamar de 30% até o fim do ano, começando a campanha eleitoral formal em 2010 em boa posição, a não ser que a doença a impeça de se empenhar numa campanha presidencial tão desgastante.

Na verdade, a dianteira do governador de São Paulo, José Serra, se mantém mais ou menos inalterada, e ele ainda tem margem de manobra à frente, pois, segundo a pesquisa Sensus, ele é conhecido por 52% dos entrevistados, tendo ainda campo para crescer durante a campanha.

Ciro Gomes e Dilma Rousseff são conhecidos por 36,1% e 32,8% respectivamente, o que demonstra primeiro que ambos têm chance de ampliar seu nível de conhecimento, e que a ministra Dilma, embora nunca tenha sido candidata a nada, está mais popular que Ciro e que o governador de Minas, Aécio Neves, que tem o menor nível de conhecimento de todos, 26,1%.

Dilma está com 16% na pesquisa Datafolha. Cresceu cinco pontos de março para cá. A diferença entre ela e José Serra (PSDB) diminuiu de 30 para 22 pontos. Serra ficou com os mesmos 38% que tinha em março de 2008, e Dilma não passava de 3%. No Sensus, Serra tem 40,4% das intenções de voto, contra 23,5% de Dilma.

A oposição espera que as viagens de seus dois presidenciáveis, os governadores de José Serra e Aécio Neves, possam neutralizar a exposição da ministra Dilma Rousseff.

Na sexta-feira, eles vão juntos a Foz do Iguaçu para uma reunião sobre agricultura. Serra vai a Belo Horizonte para conversar antes com o governador Aécio. Mais adiante, os dois vão a Fortaleza, e a Belém do Pará, em novos encontros regionais.

É majoritária a opinião no PSDB de que o partido tem que usar essas movimentações para marcar presença, mas o governador Serra continua achando que não tem que fazer nada, e reafirma a estratégia de se dedicar ao governo de São Paulo para só pensar no assunto no próximo ano.

Ao mesmo tempo em que aparece à frente nas pesquisas para a Presidência, Serra também melhora sua avaliação junto ao seu eleitorado primário, o de São Paulo, onde as pesquisas mostram uma aprovação ascendente.

A oposição admite que sua margem de ação, de exposição, é mais restrita que a do governo. Assim como os partidos aliados do governo, também a oposição acompanha o processo de tratamento de Dilma, aguardando sinais sobre sua real capacidade de recuperação para uma campanha política acirrada a que não está acostumada.

O fato é que a doença no mínimo atrasou o processo, na direção contrária do que Lula queria, que era chegar agora ao meio do ano com a candidatura dela consolidada, sem contestação no PT e entre os aliados, já montando chapas regionais.

Agora, está todo mundo com pé atrás. O processo ficou congelado, e os aliados estão em estado de alerta, enviando sinais para todos os lados.

O presidente Lula tem dito que só se preocupa com a união efetiva de Serra com Aécio, mas, até o momento, não há sinais de que haja mudança na disposição do governador de Minas de fazer parte da chapa dos tucanos como candidato a vice-presidente. Mas essa hipótese já foi mais inviável do que é hoje.

O PMDB tem enviado sinais para a oposição, e há três situações regionais que, bem resolvidas, podem jogar o partido na oposição.

Na Bahia, o ministro Geddel Vieira Lima precisa do apoio do PSDB contra o governador petista Jaques Wagner. O problema que existe lá é Paulo Souto, que é o único democrata que tem chances de se eleger governador.

No Paraná, o atual governador, Roberto Requião, pode compor uma chapa para o Senado com a oposição. Em Minas, há que se resolver a situação do ministro Hélio Costa, que quer disputar o governo do estado, mas se defronta com forças políticas importantes no PT - como o ex-prefeito Fernando Pimentel e o ministro Patrus Ananias -, mas também não tem grandes chances no PSDB, onde o governador Aécio Neves quer fazer seu vice, Antonio Anastasia, seu sucessor.

Esse conjunto de fatores, junto com as pesquisas, vai ser colocado na mesa em setembro, quando o PSDB deve definir seu candidato.

O único dado novo que atrapalha a análise da oposição é a popularidade de Lula se manter em patamar tão elevado durante uma crise tão severa quanto a que o mundo está atravessando.

Na última rodada, divulgada em março, 76,2% dos brasileiros aprovavam o desempenho dele, contra 19,9% que desaprovavam. Agora, a aprovação subiu para 81,5% contra 15,7%. O recorde de aprovação de Lula foi em janeiro deste ano, quando alcançou 84%.

O fato de Lula continuar tendo uma popularidade em torno de 80%, e ser o nome preferido quando colocado em uma lista de candidatos junto com Serra e Dilma, indica sua força eleitoral e coloca uma incógnita para a oposição.

Como atuar em uma campanha para substituir um presidente tão popular e com um governo tão bem avaliado pela grande maioria do eleitorado?



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