FOLHA DE SP - 07/11/11
BRASÍLIA - A onda da "faxina" chegou a seu teste de estresse. Uma coisa é trocar ministros. Outra, bem mais complicada, é substituir um governador, movimento que necessariamente implica desmantelar toda uma construção política.
Já são mais do que suficientes os motivos para o afastamento imediato de Agnelo Queiroz (PT-DF).
Como antecipou a Folha, o governador é alvo de inquérito no STJ. Sob seu comando se instalou no Ministério do Esporte a quadrilha que maquiava convênios e se apropriava de dinheiro de programas sociais _escândalo responsável pela queda de Orlando Silva (PC do B).
Agnelo criou o Segundo Tempo, o plano de estímulo à prática esportiva em áreas carentes que serviu de fachada para o desvio de verbas.
Não só deu guarida aos criminosos, mas com eles estabeleceu relação de intimidade. Chamava de "mestre" um dos ongueiros encarregados de pilhar os cofres do ministério, conforme revelaram gravações telefônicas autorizadas pela Justiça.
Mais: alguns de seus principais assessores no governo do DF têm ligação com entidades ou pessoas atoladas nas fraudes no Esporte.
Acossado por tantas evidências, Agnelo passou recibo na semana passada. Exonerou cerca de 70 delegados de polícia, em uma clara manobra para desarticular as investigações em curso _e tentar controlá-las daqui em diante.
Não fossem duas peculiaridades, o quadro já seria idêntico ao que, há quase dois anos, derrubou o governador José Roberto Arruda.
A primeira é que o PT faz cara de paisagem, mesmo sendo Agnelo, egresso do PC do B, um "cristão novo" no partido. Em 2009, o DEM se desvencilhou rápido de Arruda.
A segunda é que estamos longe da próxima eleição, saída natural para uma crise dessas proporções.
Agnelo pode tentar resistir no cargo, mas apenas reforçará a ideia de intervenção federal na capital.