Miriam Leitão O zero positivo
Política

Miriam Leitão O zero positivo


O GLOBO

PANORAMA ECONÔMICO

O PIB de 2009 deve fechar o ano próximo de zero e isso não é uma má notícia. Hoje, o IBGE divulga o PIB do quarto trimestre e fecha oficialmente o ano. Os economistas estão divididos entre o zero e o levemente negativo, mas o último trimestre deve ser um número bem positivo, tipo 2% de crescimento. Com tudo o que houve, o Brasil não se saiu mal

O economista Regis Bonelli lembra que é difícil fazer a projeção exata porque vai depender das mudanças que o IBGE fizer nas variáveis sazonais.

O IBGE revê números dos trimestres anteriores e isso afeta as projeções. Ele prevê que a queda pode até chegar a 0,5%, mas acha que é um bom resultado perto do que foi o desastroso ano de 2009 para o mundo: — No ano passado, a indústria caiu muito, a agropecuária teve queda, e só os serviços continuaram no positivo.

Este ano, o país está crescendo forte neste primeiro trimestre, a indústria está com números fortes, a safra será a segunda maior da história, o investimento está aumentando, a construção civil está com forte movimento.

Tudo isso levará 2010 a ter um crescimento de 5,5%.

O mundo discutiu no ano passado se a recessão seria em V, W, U ou L. Cada letra significa uma possibilidade para a curva da saída da crise. Ou uma recuperação rápida, em V; ou uma recuperação e nova queda, em W; uma queda e demora de recuperação, na forma de um U; ou uma recessão mais longa, como um L.

— Foi em V. No final, a economia ficou estagnada, mas não foi um ano parado, mas de grandes emoções — diz Armando Castelar, da Gávea Investimentos.

Para 2010, ele prevê crescimento de 6%. Mas acha difícil manter esse ritmo por causa da elevação do déficit em transações correntes, que este ano vai a 3% do PIB. O economista Gustavo Loyola, que acredita em -0,3% em 2009 e 5,5% em 2010, também teme que o crescimento não seja sustentável.

— O país precisa aumentar nossa capacidade de investimento e poupança — explica o diretor-sócio da Tendências consultoria.

A história do ano foi mais impressionante. Existem zeros e zeros, esse é positivo, dado o que se temia no começo de 2009.

— No último trimestre de 2008, a indústria tinha caído numa magnitude de 20%. No começo de 2009, houve um medo enorme da indústria e ela parou de produzir, entrou no ano apenas queimando estoques. As exportações despencaram. Mas o mercado interno voltou rapidamente a consumir. Além disso, como reflexos da luta contra a inflação, o Brasil estava com um setor bancário mais protegido — lembra Bonelli.

José Márcio Camargo, da Ópus Gestão de Recursos, acha que houve três fatores para explicar a recuperação em V, ou seja, o melhor cenário.

— A atuação rápida do Banco Central na liberação do compulsório e redução dos juros, a atuação dos bancos públicos que conseguiram suprir o crédito privado que ficou escasso, e o desempenho da China que beneficiou o Brasil — disse.

Regis Bonelli concorda que o Banco Central atuou rápido na liberação do compulsório, mas lembra que o BC elevou os juros em setembro, no início do pior da crise. Ele acha que houve excesso de conservadorismo: — De qualquer maneira, o Brasil se saiu melhor do que vários outros países.

É bem verdade que a queda foi forte. Sair de um ritmo de 6% para zero fez o país deixar de agregar R$ 180 bilhões ao seu PIB: — Para um país como o nosso, é uma perda pesada — diz Regis.

Em 2010, Bonelli acha que o país só não cresce neste ritmo de 5,5% se houver alguma crise séria de financiamento externo provocada pelos países endividados da Europa. Mesmo assim, no máximo isso provocaria uma redução do crescimento.

O Itaú Unibanco prevê queda de 0,2% no resultado de 2009; o Bradesco acha que ficará em zero. A MB Associados estima -0,1%, e que em 2010 o país crescerá 6%.

— O padrão do crescimento daqui para frente vai seguir o dos períodos passados.

Cresce forte mas como não temos taxa de investimento e poupança suficientes, a inflação volta e os juros têm que subir — diz Sérgio Vale, da MB.

Em resumo: a queda foi forte, mas a recuperação, rápida.

Não foram os 2% da aposta do ministro Mantega nem o desastre que se temia.

O país perdeu em não crescer.

Este ano terá crescimento.

Mas o que o país precisa é crescer por vários anos



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