O Brasil viverá os primeiros meses de 2009 sob números ruins, que ainda têm a ver com 2008: na terça, dia 6, sai o resultado da produção industrial de novembro. As previsões de economistas e consultorias são de queda de 4% a 5%. A herança do ano passado ainda trará outros números negativos, como o PIB do quarto trimestre. O desafio deste ano não vai ser evitar a crise, mas reduzir seus efeitos.
A produção industrial caiu 1,7% em outubro e continuou caindo nos meses seguintes. Na primeira quinzena de dezembro, a venda de veículos caiu 3% em relação aos primeiros 15 dias de novembro, mês que já tinha registrado queda de 22% nas vendas, segundo a Fenabrave. A própria entidade prevê que este ano a queda total das vendas de veículos chegará a 19%. O desempenho tem efeito em toda a cadeia produtiva. Além de o mercado interno estar fraco, a sombra que paira sobre o setor automobilístico é o temor em relação ao destino das empresas na matriz. As siderúrgicas continuam reduzindo a produção.
A MCM Consultores e a Ativa prevêem queda de 4% na produção industrial de novembro, a MB Associados projeta queda de 4,5%, o Banco ABC e o Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco esperam uma retração de cerca de 5%. E a produção industrial afeta o PIB.
O próprio Banco Central acredita que a desaceleração na atividade econômica fará com que o número do PIB do quarto trimestre seja de 0,7%. A MB Associados já revisou para baixo o crescimento do PIB para 2009, de 2,8% para 2,3%, e mudou também a projeção para o PIB do primeiro trimestre de 2009, de crescimento de 1,3% sobre o primeiro trimestre de 2008 para a estagnação.
O mais otimista é o Orçamento. Mesmo após a revisão de crescimento de 4,5% para 3,5%, esse número ainda é muito maior do que todas as previsões. O economista Alexandre Marinis, da Mosaico, acha que o número é irreal, mas que terá efeitos concretos: todas as receitas do orçamento foram projetadas com esse PIB e, se o crescimento for menor, o governo terá receitas a menos, mas já projetou gastos com base nessa previsão de arrecadação. O resultado pode ser o de reduzir o superávit primário.
“Como a maior parte do orçamento é comprometida com despesas obrigatórias, e como o governo contratou muito e reajustou nos últimos anos, ele não abriu espaço para o investimento público. E, aí, vai ter de rever o superávit primário. A meta do ano que vem não deve ser atingida”, diz Marinis.
Para o economista-chefe do Banco ABC, Luiz Otávio Leal, as medidas adotadas pelo governo até agora foram acertadas, mas elas não fazem parte de uma ação maior, coordenada. Para ele, o governo errou ao conceder benefícios a servidores, que vão ter um impacto nos gastos de cerca de R$ 44 bilhões até 2011. “É defensável aumentar o gasto público em obras de infraestrutura, em construção civil, que geram mais emprego e mais renda. Não é defensável o aumento de gastos com as que estão sendo feitas por essas medidas provisórias. Não é deixar de reajustar, mas isso pode ser feito de maneira escalonada. Num momento desses, de menor receita, é hora de manter os pés no chão, e não de meter os pés pelas mãos.”
O economista José Júlio Senna, da MCM Consultores, diz que, para minimizar com mais eficiência os efeitos da crise no Brasil, o governo deve conceder benefícios e desburocratizar a produção como um todo. “O Brasil vai ter de afrouxar a política monetária. Tudo o que se puder fazer para destravar a produção vai ter de ser feito pelo governo. Tem de ter vontade política. Há um grande espaço para estimular a economia, reduzindo gastos públicos, diminuindo impostos e desburocratizando a produção como um todo. Esse é o desafio do Brasil para 2009.”
O momento do mundo é outro. O crédito não circula, os investimentos externos estão se reduzindo, o mundo está comprando menos matéria-prima, o que impacta as exportações brasileiras e reduz a entrada de recursos. O governo montou um orçamento com um PIB inflado. Em 2009, na pior das hipóteses até agora, podemos ter um crescimento de 1,75%, que é metade do que foi projetado. Nesse caso, a receita do governo poderia cair para a metade. A atividade industrial está retraída, não vai ter o volume dos três primeiros trimestres do ano passado.
A preocupação deve ser com a queda da atividade. O Banco Central deve cortar os juros já na primeira reunião deste ano – a MB Associados prevê a Selic em 10,75% no fim de 2009 –, e o governo precisa agir em todos os setores, reduzindo a carga tributária, inclusive para pequenos e médios empresários, que são os que mais empregam e sofrem com os impostos.
Esta é a primeira crise do governo Lula, e o ano é o teste decisivo. Em 2003, na crise que enfrentou no início de seu governo, ele tomou as decisões certas de manter a estabilidade e o ajuste fiscal. Desta vez, o governo tem sido contraditório. Algumas decisões são acertadas, outras inteiramente fora de propósito. Em 2009 é que o governo Lula consolidará sua herança. Os erros deste ano poderão prolongar a crise até 2010, ano de eleição presidencial.
Com Leonardo Zanelli