Miriam Leitão Visão inglesa
Política

Miriam Leitão Visão inglesa



PANORAMA ECONÔMICO


O ministro das Relações Exteriores da Inglaterra, David Miliband, disse que o Brasil é um país fundamental na negociação para o acordo do clima. Ele admite que a negociação está em risco, mas concorda com Washington que o Protocolo de Kyoto é ultrapassado. Para Miliband, o G-20 já substituiu o G8 em questões econômicas, por ser mais capaz de refletir a nova estrutura de poder mundial.

Sobre o papel do Brasil, David Miliband, faz questão de frisar: — O Brasil está no meio do processo. É um país volante (swing country), é um pivô, por ser um grande emergente, porque tem um enorme volume de recursos naturais sob ameaça pela mudança climática, tem influência política global e está assumindo mais compromissos.

Em Londres, o que se ouve, em várias partes do governo, é que os Estados Unidos estão cobertos de razão de fazerem a crítica que fizeram ao Protocolo de Kyoto na reunião de Bangcoc.

— Toda a negociação é exatamente porque o protocolo de Kyoto expira em 2012 e temos que substituílo.

É sobre isso que estamos conversando todo esse tempo. E num novo acordo, os grandes países emergentes têm que assumir mais responsabilidades — diz.

Essa posição americana, de fazer terra arrasada de Kyoto, ameaça implodir a negociação porque para os países do Grupo dos 77, principalmente China, o que está sendo negociado tem por base o acordo de Kyoto.

Não é esse o entendimento em Londres. Aqui, o governo diz que o Reino Unido foi o primeiro a dizer que Kyoto não valia mais como base, por ter como defeito principal deixar grandes países, que se tornaram economias poderosas, como China, Índia e Brasil, sem compromissos explícitos.

Estou em Londres desde segunda-feira, a convite do governo britânico, e tenho conversado com várias pessoas do governo e fora dele sobre mudança climática.

Em reuniões que tive com outros integrantes do governo Gordon Brown, que participam da negociação, ouvi que o desastre de Bangcoc é muito perigoso mas que, nos bastidores, as conversas são muito mais convergentes do que parecem na retórica negociadora.

Miliband, na entrevista, disse que continua acreditando num acordo em Copenhague.

— Não há um plano B no bolso se houver fracasso em Copenhague — me disse David Miliband, cujo irmão, Ed Miliband, é o ministro de Energia e Mudanças Climáticas.

Eu o entrevistei recentemente no Brasil.

A mesma afirmação de que não há alternativa, não há um plano B, eu ouvi no gabinete do primeiro-ministro, mas com muito mais preocupação sobre o risco de que não haja acordo, se prevalecer o tom de conflito dessa última reunião preparatória.

— Copenhague não é impossível, mas ficou mais difícil.

Eu acho que se a negociação for informal, chegaremos a uma espécie de convergência, mas temos que transformar isso em acordo público. Vai ser muito difícil, mas não é impossível — disse o negociador.

Já David Miliband me disse que todos os países precisam fazer um esforço para dar um impulso para um acordo. Disse que é essencial que seja agora, porque há muita pressão internacional, os países investiram no processo negociador e há grande expectativa da sociedade. Mas ele acha que os Estados Unidos apontaram um problema no acordo que precisa ser levado em consideração: — Kyoto é ruim. Precisa ser substituído. Ele põe obrigações sobre os países ricos, o que é justo, mas não põe sobre todos. Temos que fazer um novo acordo ambicioso e justo. Não podemos perder essa oportunidade.

O governo britânico está convencido — e isso ouvi em várias partes — que o Brasil mudou sua posição. O próprio ministro Miliband disse que sua expectativa é que o Brasil assuma “metas quantificáveis” na reunião de Copenhague.

Miliband acha que a China também vai mudar: — A China disse em Nova York que vai fazer um corte substancial em suas emissões e nós achamos que ela anunciará uma meta.

A reunião do Fórum das Maiores Economias, aqui em Londres, será o momento em que a Inglaterra tentará construir pontes entre as partes.

Eles garantem que não estão alinhados com os EUA, que têm críticas às posições americanas, e que a Europa está bem na frente dos outros desenvolvidos em termos de corte de emissões. Dentro do governo britânico, eu ouvi frases fortes assim: — Não podemos reduzir nossas ambições. Fizemos o compromisso de limitar em dois graus a elevação da temperatura.

Qualquer coisa acima disso significa estar de acordo em matar milhares ou milhões de pessoas—me disse um negociador.

Ouvi também uma frase de um assessor governamental sobre o tema que dá bem o tom dramático com que a questão é acompanhada aqui: — Sou otimista porque todos os que trabalham com mudança climática são otimistas, do contrário cometeriam suicídio.

Um dos pontos que os especialistas consideram essencial é um acordo sobre financiamento. Mas o volume de dinheiro pedido pelos países em desenvolvimento é inaceitável.

— Eles pedem 1% do PIB dos países ricos. E isso não será dado de forma alguma — disse um dos negociadores.

Não será fácil o caminho para Copenhague. As próximas semanas serão decisivas.

oglobo.com.br/miriamleitao • e-mail: [email protected]

COM ALVARO GRIBEL



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