Duda Teixeira
Pablo La Rosa/Reuters |
SÓ A LÍNGUA É SOLTA Mujica, em campanha: ele deve manter o rumo da economia |
O mais provável vencedor do segundo turno das eleições presidenciais no Uruguai, que acontece neste fim de semana, é José "Pepe" Mujica. Com 74 anos, bigodão e barrigona, o político foi guerrilheiro dos Tupamaros, um dos grupos de luta armada mais temidos da América Latina nos anos 60 e 70. Participou de sequestros de políticos e de assaltos a banco. Passou catorze anos na cadeia e fugiu duas vezes. Hoje, cultiva flores e hortaliças em seu sítio de 20 hectares. Tem um Fusca na garagem e traz sempre ao lado sua cachorra de 16 anos, que não tem uma perna. Finda essa breve apresentação, a pergunta é: uma vez eleito, Mujica se tornará mais um integrante da esquerda carnívora, aquela que destrói empresas, ataca jornalistas, persegue opositores e ecoa a retórica bélica e alucinada do presidente venezuelano Hugo Chávez?
Por ora, não há motivo para se preocupar com o país vizinho, de 3,4 milhões de habitantes. Na campanha uruguaia, ninguém demoniza a imprensa nem usa os sindicatos para atacar a oposição. Não se fala em estatização. A economia do país, muito ligada à produção de carne, trigo, lã e soja, cresceu em média 7% nos últimos três anos. O patrono de Mujica é o atual presidente, Tabaré Vázquez, que em seu governo triplicou o investimento externo, reduziu o gasto público e goza de popularidade acima dos 70%. Mujica deve manter as políticas em vigor. Quando aponta para fora do país, ele se espelha em políticos de uma esquerda moderada. Nos comerciais de televisão, apareceu ao lado de Lula e da presidente chilena Michelle Bachelet – os quais visitou em agosto, em seus respectivos países.
Pequeno e distante, o Uruguai parece despertar pouco interesse em Hugo Chávez. O venezuelano visitou Montevidéu em 2005 e 2006. Fez doações para bairros pobres e hospitais. Depois, esqueceu o país. Muito mais momentoso para o eleitor uruguaio é saber que espécie de relação cada candidato mantém com a Argentina governada pelos Kirchner. Os dois países estão envolvidos numa disputa em tribunais internacionais por causa de duas fábricas de papel e celulose em região de fronteira. Esse conflito criou na população um sentimento generalizado de hostilidade em relação aos Kirchner. Mujica comprou a briga. É ao "casal K" que ele destina suas críticas mais duras. Já os chamou de "gangue", "irracionais", "histéricos" e "loucos". Diz ele: "A institucionalidade do país não vale nada".
Caso o bigodudo perca o pleito, também não há expectativas de grandes guinadas. Seu adversário é o advogado Luis Alberto Lacalle, que foi presidente do país na década de 90 e disputa pelo conservador Partido Nacional. "Todos os partidos já participaram do governo, o que nos tornou muito pragmáticos e moderados", diz o cientista político Daniel Chasquetti, da Universidade da República, em Montevidéu. "O Mujica de hoje está longe de ser um radical."