O Globo - 08/01/2010
Não há nenhuma surpresa em Lula ser o brasileiro mais confiável na pesquisa do Datafolha. O que espanta é saber que, entre 27 personalidades populares, só ele e Sílvio Santos eram conhecidos por todos os entrevistados.
Significa que há milhares, milhões de brasileiros, eleitores em algum rincão deste país, que não conhecem, não ouviram falar, não sabem quem é Roberto Carlos, nem Chico Buarque, o padre Marcelo Rossi, William Bonner ou Caetano Veloso, que secundaram e, em certas regiões e faixas de escolaridade, superaram Lula como o brasileiro mais confiável do momento.
É assim mesmo: na democracia é cada cidadão, um voto. O de um bandido e o de um herói valem o mesmo.
Mas é desolador saber que tantos homens e mulheres com tão pouco acesso a um mínimo de informação vão continuar elegendo os piores candidatos — ignorando que eles continuarão a atrasar a sua vida. E a de sua aldeia, seu estado e seu país.
É difícil imaginar que alguém com qualquer interesse, ou possibilidade, de se informar sobre os candidatos não conheça nem o Roberto Carlos, que está aí ha 50 anos, fazendo o bem. Este é um eleitor que não tem vontade e nem motivos para votar.
Como é obrigado, vota em qualquer um, nos piores, nos que perpetuam a sua miséria. É este voto podre que os defensores do voto obrigatório lutam para manter — porque se beneficiam dele. O Brasil é uma das raras democracias do mundo em que este anacronismo antidemocrático e injustificável ainda existe. Qualquer reforma eleitoral decente começa pelo fim deste atraso.
O financiamento público de campanhas não vai acabar com o caixa 2 — para a maioria será só um caixa 3.
Já não lhes basta o horário eleitoral “gratuito” — mas pago pelo contribuinte às emissoras? E os fundos partidários, os escritórios regionais dos parlamentares, as visitas às bases, as propagandas como “prestações de contas do mandato” — tudo com dinheiro público? E estamos falando só dos políticos honestos, que, ainda assim, nos custam tanto quanto os corruptos. E ainda querem mais? Eles pensam que a gente não conhece o Roberto Carlos. Ou os nossos políticos.