A seleção faz hoje a segunda apresentação na Copa das Confederações da qual é anfitriã e até empate com o México pode significar passo decisivo para a classificação. O teste será mais rigoroso do que o da estreia, diante do Japão, em que já se notou evolução. Tomara haja dificuldades em Fortaleza – e que o desafio se mostre bem complicado contra a Itália, no sábado. Só assim Felipão, torcida e crítica terão ideia justa de pontos fortes e de aspectos frágeis da equipe que tem como objetivo maior a Copa de 2014. O resto fica em plano inferior.
O torneio preparatório para o Mundial do ano que vem se transformou também em alvo de protestos populares. A moçada que há dias sai às ruas para lutar contra aumento de tarifas de transporte público aproveitou a ocasião e escancarou o quanto está irritada com governantes e cartolas pelos custos engordados e inflacionados das praças esportivas erguidas pelo País. Os bilhões despejados em estádios soam como escárnio para os cidadãos.
Até que enfim uma parcela da população deixou o esquindô, esquindô de lado e trocou o sonso “Ah, sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!” por slogans realistas. Foram necessários mais de seis anos para que milhares tirassem o véu dos olhos e enxergassem com nitidez o destino do dinheiro deles. Este caderno de Esportes já apontava, em 2007, abusos nas obras do Pan no Rio e, em seguida, cobrava transparência de autoridades nos projetos para Copa e Jogos de 16. Na época foi avacalhado por muitos.
As manifestações talvez tenham chegado tarde para o Mundial (mas não para a Olimpíada), porque a farra da grana corre solta e não há como interromper os trabalhos. Agora, se descobriu que quase R$ 30 bilhões estão espalhados Brasil afora, a maior parte nas “arenas”, várias candidatas a elefantes brancos depois de julho de 2014. E as cifras vão crescer. Faltam argumentos consistentes para explicar, por exemplo, por que um campo aqui custa até R$ 1 bilhão, enquanto na Itália a Juventus ergueu belíssima casa nova, em Turim, para 41 mil torcedores, por R$ 300 milhões.
Muita gente cansou de desfaçatez e deseja ser ouvida. No entanto, há quem viva num mundo de fantasia, em que tudo vai muito bem, obrigado. Como os alegres convidados para o Baile da Ilha Fiscal, em 1889, dias antes da queda do império, ou como a corte de Luis XVI e Maria Antonieta, que em 1789 não percebia a aproximação da Revolução Francesa. Quando se deram conta, os soberanos tinham perdido o poder e, anos depois, a cabeça…
Nesse sentido foi emblemática a capa da edição de ontem do caderno Copa das Confederações, do Estado. Os repórteres Jamil Chade e Leonardo Maia fizeram retrato impecável do que pensam personagens importantes no momento. Não surpreendeu, e infelizmente nem chocou, a reação da dobradinha Joseph Blatter e Jerôme Valcke, os senhores que dão as cartas na Fifa. O presidente aposta na sedução do esporte, no poder que tem de desviar a atenção de problemas, ao afirmar que “o futebol é mais forte do que a insatisfação das pessoas” e ao prever que o fogo de palha passará. Seu secretário geral e fiel escudeiro foi além: “Tenho certeza de que, se o Brasil ganhar a Copa (de 2014), essas críticas vão desaparecer.”
O discurso orquestrado (lembra?) contou com acordes do ministro Aldo Rebelo. O antigo presidente da União Nacional dos Estudantes e destaque do PCdoB, partido que sofreu na carne perseguição política e policial, foi duro ao garantir que o governo não vai “tolerar” atitudes que emperrem a realização das competições, com a ressalva de que são direito assegurado em democracia.
A dupla José Maria Marin/Marco Polo Del Nero não saiu do tom. “Seria preferível que a atenção estivesse no futebol e acho que é a preocupação de grande parte do povo brasileiro” (Marin). “Quantos foram?(nos protestos) Mil? Tem 199 milhões de brasileiros trabalhando e esses querem atrapalhar” (Del Nero).
Desce o pano, rápido.
*(Minha crônica no Estado de hoje, quarta-feira, 19/6/2013.)
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