O acidente de Massa e a volta de Schumacher
Política

O acidente de Massa e a volta de Schumacher


DA VEJA

NOCAUTE A 260 POR HORA

Felipe Massa escapa por um triz ao se chocar 
com peça desgarrada na pista e Michael Schumacher 
é chamado para substituí-lo na equipe da Ferrari


Kalleo Coura

Tamas Kovacs/AFP
O IMPACTO E O SUSTO
Massa pouco depois do acidente: 
concussão e edema no lobo frontal

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No sábado 25, o mundo da Fórmula 1 viveu um daqueles momentos de sobressalto e angústia que ocorrem quando um piloto sofre um acidente grave. Enquanto tentava aprimorar sua colocação no grid de largada do Grande Prêmio da Hungria, Felipe Massa foi nocauteado no circuito de Hungaroring. Uma mola de 12 centímetros e 800 gramas se soltou do amortecedor traseiro do carro de Rubens Barrichello, que estava à sua frente, e, quatro segundos depois, atingiu em cheio o lado esquerdo do capacete de Massa, logo acima da viseira. A Ferrari de Massa estava a 260 quilômetros por hora, numa pequena reta entre as curvas 3 e 4 do circuito. Para se ter uma ideia da magnitude do choque, ele produziu um impacto de 210 quilos, equivalente ao de um disparo de fuzil AK-47, arma militar semiautomática. Massa desmaiou e seus pés pressionaram ao mesmo tempo o freio e o acelerador, antes de se chocar contra uma barreira de pneus a 190 quilômetros por hora. O piloto sofreu uma concussão - movimento brusco da massa encefálica na caixa craniana - e um edema leve no lobo frontal. Levado para o hospital militar de Budapeste, foi submetido a uma cirurgia para corrigir o afundamento do crânio que sofreu no local da pancada e que comprimia seu cérebro. A vida do piloto foi salva pelo capacete que usava, capaz de resistir ao impacto de 1,5 tonelada. Para os brasileiros, num primeiro instante, o acidente teve um gosto especialmente amargo. Trouxe à lembrança a morte de Ayrton Senna no circuito de Imola, na Itália, em 1994.

Para alívio dos brasileiros e de todos os fãs da Fórmula 1, quatro dias depois do acidente Felipe Massa já andava pelo quarto do hospital. Alimentava-se normalmente e conversava - em português, inglês e italiano - com familiares e amigos que foram visitá-lo. Sua alta está prevista para esta segunda-feira, quando deve regressar ao Brasil. Mesmo assim, ainda não se sabe quando o piloto brasileiro poderá voltar às pistas. Enquanto isso, para substituí-lo, a Ferrari convocou os serviços do piloto recordista de vitórias da história da Fórmula 1, o alemão Michael Schumacher, 40 anos, heptacampeão da categoria, que havia se aposentado no fim de 2006.

No domingo anterior ao acidente de Massa, o inglês Henry Surtees não teve a mesma sorte que ele ao ser atingido na cabeça por uma roda, numa prova da Fórmula 2. "Se Massa usasse um capacete da década passada, não estaria vivo", diz o holandês Derk Evers, engenheiro da fabricante de capacetes Arai. "Os modelos usados por Senna eram quase como brinquedos comparados aos de hoje. Mas nenhum capacete é projetado para proteger contra um impacto lateral de uma roda, como foi o caso de Surtees", ele completa. Segurança nem sempre foi uma preocupação na Fórmula 1. Nos primeiros grandes prêmios, na década de 50, os pilotos não usavam capacete - apenas uma touca de couro e um par de óculos para proteger os olhos do vento e de choques contra insetos. Além disso, não era obrigatória a presença de equipes médicas no circuito para atender os acidentados. "Na minha estreia nas pistas, como não tinha dinheiro para comprar um capacete de piloto, peguei emprestado com um amigo um modelo usado por paraquedistas", relembra o piloto mineiro Alex Dias Ribeiro, que participou da Fórmula 1 na década de 70 e disputou sua primeira corrida com um carro construído em apenas 25 dias.

Daniel Maurer/AP
A VOLTA DO CAMPEÃO
Michael Schumacher: 3,2 milhões de euros por corrida para substituir Massa na Ferrari na atual temporada de Fórmula 1


A cada grande acidente, os engenheiros que se dedicam ao automobilismo procuram encontrar soluções para evitar os perigos de andar a mais de 300 quilômetros por hora. Quando o piloto austríaco Niki Lauda sofreu o acidente que deformou seu rosto pela ação de diversas queimaduras, no autódromo alemão de Nürburgring, em 1976, seu capacete já era protegido com material antichama. Para ser mais confortável, porém, o acessório ficava muito frouxo na cabeça e acabou voando com o impacto do acidente. O desastre de Lauda provocou um alerta na Fórmula 1 sobre a importância de aperfeiçoar a tecnologia dos capacetes. Desde a morte de Ayrton Senna, a última ocorrida na categoria, outras precauções foram tomadas com relação à segurança dos pilotos. Passou-se a usar nos carros uma hiper-resistente estrutura deformável em formato de U em volta do pescoço e da cabeça. O chassi foi ampliado até a altura da orelha e adotou-se o dispositivo Hans - destinado a evitar fraturas na base do crânio.

Ainda é cedo para dizer se o acidente deixará sequelas em Felipe Massa. Segundo o neurocirurgião Manoel Jacobsen Teixeira, da Universidade de São Paulo, se o edema tiver sido mesmo leve e superficial, provavelmente Massa não ficará com sequela alguma. Mas, se tiver predisposição a convulsões, poderá desenvolvê-las. "A concussão, por sua vez, pode causar dor de cabeça similar a uma enxaqueca, dificuldade de concentração e sensações de tontura", diz Teixeira. Enquanto aguarda a recuperação de Massa, a Fórmula 1 celebra a volta às pistas do grande Michael Schumacher. O veterano piloto receberá 3,2 milhões de euros por cada corrida que disputar. Caso substitua Massa até o fim da temporada, mesmo assim suas chances de virar campeão são remotas. Para que isso acontecesse, teria de vencer todas as provas e empatar em pontos com o inglês Jenson Button, o líder do campeonato. Este, por seu turno, não poderia pontuar mais. Nessa situação, Schumacher levaria o título mundial pelo maior número de vitórias na temporada. No hospital, quando soube que Schumacher o substituiria no Grande Prêmio da Europa, em Valência, na Espanha, Massa brincou: "Isso se eu não correr, né?". Todo o Brasil torce para que ele volte logo às pistas.






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