o BPN, o Banco Fidúciário Internacional, os homens do Dos Santos e, outra vez Cabo Verde
Política

o BPN, o Banco Fidúciário Internacional, os homens do Dos Santos e, outra vez Cabo Verde


Anda meio mundo português com gorgulhos na consciência, intrigado com o preço da saldo por que foi vendido o banco de negócios cavaquista. Uma pequena noticia publicada a páginas 27 do pasquim CM na última sexta-feira (ampliar e ler no recorte abaixo) alerta a malta que não foi ao folclore de diversão da Junta de Freguesia contra o Relvas: “será que o caso BPN ainda vai no adro?” e lá vem de novo o Relvas. O Relvas está em todas, não é um ministro; o Relvas é um polvo cujo ministério funciona como pote (1).


António José Seguro, o ex-jotinha enfiado dentro de um fato de bom corte, actual líder que preside ao P”S”, pretende apenas investigar o caso BPN a partir da decisão da sua venda aos angolanos, a milhões de anos-luz de palavreado sobre a nacionalização dos prejuízos de um banco que tinha uma irrisória quota de mercado de 2,2%. Mas era um banco da malta do Cavaco.

Diz o Relvas e Companhia que a "trágica" situação do BPN foi obra do governo Sócrates. Só da gestão após o golpe. Dizem os jornais que o líder da distrital de Lisboa do PS Marcos Perestrello, ex Secretário de Estado da Defesa e actual deputado do PS, vai passar a ser administrador da empresa Finertec, uma holding financeira por onde passou Miguel Relvas como administrador executivo. E a Comissão Parlamentar de Ética na AR presidida pelo PSD deu parecer favorável a esta fusão clandestina de interesses (2).

Quem são os da Finertec?

A Finertec é uma empresa com estreitas relações com o poder político de Angola, de cujo Conselho de Administração fizeram parte nomes de relevo do PSD. Para além do Relvas, pelo conselho de administração da empresa passou o social- democrata António Nogueira Leite, agora vice- presidente da Caixa Geral de Depósitos. A Finertec tem ligações à Fomentinvest do mega-lobyista Ângelo Correia. Esta empresa comprou 20% do capital à outra para se colocar na corrida às privatizações dos próximos anos. Angelo Correia comprou igualmente 25% da Nutroton, uma sociedade controlada pelo empresário Joaquim Coimbra e que, até há pouco tempo, era liderada pelo ex-presidente do PSD, Luís Marques Mendes. Coimbra é desde sempre um dos militantes grandes contribuintes de "dinheiro verdadeiro" para o PSD (3) e foi ele junto com dois empresários angolanos quem salvou da falência o semanário “Sol” prestes a ser “adesivado” pelo PS de Sócrates. Do barão-sanguessuga Angelo Correia, um tipo com um impressionante curriculo na esfola de negócios (4), ficamos então a saber ser o seu núcleo duro empresarial capaz de mobilizar o líder politico da distrital de Lisboa do partido dito socialista. É obra. E a oposição uma treta. Enfim, expectável, o PSD, tal como o outro, não é propriamente um partido politico, mas sim uma célula morta de activistas económicos que desperta de cada vez que ganham uma eleição.

Valeu a pena dezenas de milhares de portugueses terem lutado pela “pátria” em Angola

A Finertec (5) constitui-se com base no empreendorismo de José Braz da Silva. Este empresário está em Angola há 20 anos, é amigo do actual governador do Banco de Angola e terá sido um alto dirigente da Fundação Eduardo dos Santos. No país africano tem empresas como a Comfabril, o maior importador de tractores e autocarros do país. Tem ainda negócios na construção e na energia. Diz quem o conhece, em Luanda, que nos anos 90 esteve implicado num caso de falsificação de dólares (6) mas que, obviamente, saldou os seus “atritos” com a justiça. Este empresário comprou a Construtora do Tâmega no estado de falência (7) e reactivou-a para, a partir de Portugal, complementar projectos na área da energia em Angola e no Brasil (8)

O novo presidente da Construtora do Tâmega, António Maurício é um dos empresários angolanos mais influentes, estando estritamente ligado ao presidente e à família de José Eduardo dos Santos (9). É vice-presidente da Fundação José Eduardo dos Santos (FESA), uma instituição apontada por muitos como o veículo do MPLA (o partido no poder em Luanda), para o sector empresarial. António Maurício é também o presidente da ‘holding' Suninvest, uma das mais poderosas do aparelho estatal angolano. José Braz da Silva é também o empresário que gere um banco 'offshore' – o Banco Fiduciário Internacional (BFI), registado na Cidade da Praia. O BFI está na lista de entidades credenciadas pelo banco central de Cabo Verde na qual surge o problemático Banco Insular (10) o veículo que terá permitido ao Banco Português de Negócios "ocultar prejuízos e lucros, financiar empresas do grupo e esconder operações", como revelou há dias um ex-dirigente do BPN"

A 27 de Março de 2012 o Jornal de Negócios relata o que um dos investigadores do BPN disse em tribunal:

"O Ministério Público arrolou um conjunto de testemunhas que, além dos inspectores tributários, incluiu vários elementos da PJ e do Banco de Portugal, sendo que estes últimos foram também já ouvidos. O testemunho de Paulo Jorge Silva, já este mês, passou em revista, entre outras questões, a relação com o Banco Insular, também propriedade da Sociedade Lusa de Negócios. Um dos objectivos, explicou o inspector citado pela Agência Lusa, era “servir os empresários angolanos que queriam meter dinheiro fora de Angola”, estando também relacionado com outros dois bancos criados em Cabo Verde, o Banco Sul Atlântico e o Banco Fiduciário Internacional". Se dúvidas havia acerca da natureza do PSD ficaram esclarecidas : é um bando de mafiosos com ligações ao crime organizado á escala internacional. Uma teia para rodar dinheiros, conseguir contratos e fugir a responsabilidades e impostos.

Miguel Relvas e Nogueira Leite serão em breve, espera-se, chamados a depor na comissão parlamentar de inquérito sobre o BPN. Espera-se que não se limitem a debitar a promoção altruística para naives que consta na página virtual do grupo: “a Finertec é uma empresa que se dedica à exploração de recursos naturais do nosso planeta salvaguardando o futuro da Energia para as gerações vindouras”

notas: 
(1) “Miguel Relvas não é só o poderoso número dois do Governo de Portugal, segundo esta reportagem, ele tem amigos de peso e muitas portas abertas"  (ler aqui)
(2) O líder da distrital de Lisboa do Partido dito Socialista vai trabalhar para o Ângelo Correia e ainda há quem diga, como o blogue social democrataArrastão que a solução para a Esquerda nacional passa por uma maior abertura do Bloco de Esquerda e do PCP a coligações com o Partido Socialista? Esquecem-se de dizer é que essa abertura não é só com o PS. É também com a Troika, com o Ângelo Correia, com o Miguel Relvas, com Angola... (opinião daqui)
(3) Joaquim Coimbra afirmou em Abril de 2011 que o "Banco Insular não existia, era virtual" (Semanário Sol
(4) ver Currículo empresarial de Ângelo Correia aqui
(5) A única pista sobre a Finertec e Braz da Silva era a que é dada na notícia do Expresso em 2010: “a Finertec, que tem como administrador Miguel Relvas (o poderoso braço-direito de Passos Coelho no PSD), é considerada uma plataforma de interesses angolanos em Portugal
(6) Braz da Silva foi gestor do clube desportivo da Fundação José Eduardo dos Santos (fonte: dn)
(7) Janeiro de 2011. A Finertec, grupo do empresário José Braz da Silva que controla a Construtora do Tâmega, poderá investir este ano cerca de 15 milhões de euros numa série de projectos energéticos em Portugal, Brasil e Angola (fonte
(8) Braz da Silva sobre a OPA lançada sobre a Construtora do Tâmega: "Eu represento-me a mim. Sou o único accionista da Finertec e de todas as empresas do grupo. É tudo meu” (fonte
(9) António Mauricio preside à Construtora do Tâmega (fonte
(10) Depois do off-shore do ex-conselheiro de Estado Dias Loureiro, até Cabo Verde volta a aparecer neste filme, onde as autoridades se depararam com o mesmo problema, tendo instaurado processos de contra-ordenação a administradores do Banco Insular, detido pelo BPN, e agora ao nóvel Banco Fiduciário Internacional
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