O Brasil volta aos trilhos.
Política

O Brasil volta aos trilhos.


A incapacidade de perceber as necessidades e o potencial deste Brasil fez com que os nossos administradores públicos abandonassem os Trilhos.



BRASIL VAI ENTRAR NOS TRILHOS
O Brasil sobre (novos) trilhos
Autor(es): Leandro Mazzini
Jornal do Brasil - 04/01/2010

Após décadas de privilégio para a malha rodoviária, o Brasil, com o PAC da mobilidade, volta, a partir deste ano e até 2014, seu foco para o transporte sobre trilhos. Esse projeto - que será lançado até a segunda quinzena deste mês - e o PAC 2 têm obras de ampliação dos metrôs em várias cidades (como o Rio), implantação de Veículo Leve sobre Trilhos em outras capitais (Brasília já começou a sua) e até promessa de monotrilhos (trens suspensos) para São Paulo e Manaus.


Com o PAC da Mobilidade, país redescobre o trem

Entrevista - Marcio Fortes

BRASÍLIA - Comandante de projetos bilionários no governo federal, Marcio Fortes é um homem público cauteloso para não prometer as maravilhas que todos os projetos à sua mesa vislumbram, mas é audacioso a ponto de garantir que muita coisa sairá do papel com o trabalho de sua equipe e as parcerias da União com os governos e prefeituras.

Nesses meandros do poder consolidou-se o PAC da Mobilidade Urbana, aposta do presidente da República, sob a tutela de Fortes, de que as capitais sedes da Copa de 2014 no Brasil terão seus problemas de trânsito de veículos e tráfego de pessoas minorados.

Gol contra de quem pensar em realizações a curto prazo, e bola na trave para os que insistirem em acreditar que tudo depende só do ministério. Um gerenciador – tal como um mestre de obras – Fortes é detalhista e garante que só será concretizado aquilo que realmente for eficiente para tais cidades, e que resolva os problemas. Nesse contexto, estão esboçados planos que colocam o Brasil de volta aos trilhos – desta vez urbanos. O PAC que será lançado até a segunda quinzena deste mês, e o PAC 2, diz Fortes nesta entrevista ao Jornal do Brasil, têm obras de ampliação dos metrôs, implantação de Veículo Leve sobre Trilhos em algumas capitais (Brasília já começou a sua investida) e até promessa de monotrilhos (aqueles trens suspensos) para São Paulo e Manaus.

Embora ainda seja anunciado, esse PAC da Mobilidade já anda sobre rodas. É o caso do Rio que, a princípio, tem projetos aprovados de corredores exclusivos para ônibus. Os próximos meses darão a velocidade ao que se espera do programa.

O PAC da Mobilidade Urbana é um grande projeto comandado por sua equipe há meses e tem foco na Copa de 2014. O que se pode esperar dele?

Nós aprofundamos a análise na parte da Copa do Mundo, ou seja, o apoio financeiro que será destinado às 12 cidades-sedes da Copa do Mundo na área de mobilidade, envolvendo vários projetos que privilegiam a questão do transporte coletivo urbano.

Dentro desse contexto do transporte urbano, nós podemos esperar mais investimentos no metrô, ou projetos alternativos na questão dos ônibus? Ou a situação dos ônibus já está saturada?

A questão é que a Copa do Mundo tem data, ou seja, 2014. Os projetos têm os seus cronogramas e uma coisa tem que bater com a outra, porque você não pode ter uma obra que no projeto vá ultrapassar, na sua execução, a data limite. E também não pode passar antes, uma data muito próxima à realização do evento, sob o risco de atraso e de comprometer inclusive os objetivos do projeto de mobilidade. Com isso nós, ao olharmos esses projetos, procuramos ver aqueles que já tinham andamento na com licença ambiental, ver a questão das desapropriações, como estavam; a questão do projeto, se já definido, não apenas como estudo, mas já com projeto básico. Hoje, por acaso, já vi até projeto executivo, vimos a questão do cronograma. E, claro, vimos a questão, que é fundamental, da participação daquilo que nós queremos, ou seja, facilitar e agilizar a circulação de torcedores e turistas entre os pontos de referência da Copa

Como?

O local do evento, a arena, o estádio, a parte hoteleira, a rodoviária, o aeroporto, e, quando for o caso, o porto. Esses pontos de referências têm que estar atendidos por esses projetos que vamos apoiar e que vamos financiar em parceria com as cidades sedes ou eventualmente com os governos de estado, quando estiverem também participando dos projetos.

O presidente Lula garantiu no orçamento os recursos para o PAC da Mobilidade já a partir deste ano?

Não, a primeira versão desse PAC da Copa não terá orçamento geral da União, ele terá a parte de financiamento.

Do BNDES...

Será do Fundo de Garantia. O número de referência inicial foi de R$ 5 bilhões para financiamento, mas esse número será ultrapassado porque há muitos projetos de maior importância que deverão ser apoiados. A nossa ideia é que até o fim desta primeira quinzena de janeiro seja anunciado o pacote desses projetos de apoio à realização, na área de mobilidade, das ideias relativas à Copa do Mundo e à circulação com rapidez, segurança e garantia de êxito de acesso para os torcedores e para os turistas.

Como está a situação? Temos os projetos já avançados, algo sai do papel este ano? O quê de relevante pode vir em obra?

Nós estaremos tratando, dentro do cronograma de segurança, basicamente de projetos que tenham a sua realização garantida. Por isso procuramos privilegiar obras de mais fácil execução e com grande retorno, é o caso dos corredores exclusivos de ônibus, de ônibus articulados de grande capacidade, não poluentes, a questão dos VLTs (Veículo Leve sobre Trilho), aqueles bondinhos, que também são quase que metrôs de superfície, com grande capacidade de deslocamento, também. Vamos ver as questões viárias que sejam necessárias, porque nós privilegiamos o transporte coletivo, mas temos muitas vezes que verificar a necessidade de obras de adaptação, de vias, para que a gente possa até mesmo ter o corredor ou pelo menos ter o VLT. E também para acesso a estádios. Muitas vezes as áreas em volta do estádio estão bloqueadas por qualquer motivo, com dificuldade de acesso, e há exigência da Fifa, e temos que encontrar alternativas de acesso viário para essas regiões. Também há projetos que estão sendo apresentados numa vertente original. É o caso de São Paulo, é o caso de Manaus, onde precisam ser apresentados projetos para novas trilhas, porque no caso de São Paulo, especificamente, é mais difícil você colocar um corredor ou um VLT, porque as vias já estão ocupadas, e a saída é pensar num monotrilho, que já está sendo proposto por São Paulo para ligar o metrô até a companhia de trens e também para o estádio, passando pelo Aeroporto de Congonhas.

O que seria esse monotrilho?

É o trem suspenso. Você coloca as estacas, e o trem corre por cima (como se fosse uma passarela para os vagões). Com isso você não ocupa espaço na área viária, embaixo, onde estão circulando os automóveis, os ônibus.

Seria como um teleférico?

O monorilho é um trem elevado, de boa capacidade, para fazer deslocamentos numa área em que você não tem espaço suficiente para colocar um VLT.

Isso está programado para São Paulo?

Sim, já está programado, e já estamos com um cronograma definido para São Paulo.

Outra cidade pode ganhar o monotrilho?

A outra capital que está pedindo é Manaus. Agora, os projetos, em geral, são de corredor exclusivo de ônibus, e de VLTs. Há um estudo ainda no que diz respeito a Curitiba, e está sendo analisado nessa reta final. É interessante, estive lá, existe o corredor que funciona muito bem, até da época do (Jaime) Lerner (ex-prefeito, pioneiro na implantação do corredor de ônibus no país). Agora, acontece que estaria chegando à sua capacidade máxima, segundo alguns. Dá para haver a possibilidade de adaptação para atender ainda mais os deslocamentos até a Copa do Mundo, mas é um projeto de tirar o corredor e, por baixo do caminho dos ônibus, escavar e fazer uma linha de metrô. A discussão é a respeito do prazo de execução. Não posso arriscar uma coisa que está funcionando, que é o corredor, e trocá-lo por algo que pode eventualmente não ficar pronto a tempo. Então o que está sendo discutida é a capacidade de rapidez de execução dentro desse projeto de engenharia.

Dentro de todos esses projetos, o VLT é a grande novidade no país. Brasília já terá o dela. Que outra capital do país pode ter um VTL, de fato?

Brasília tem dois tipos de VLT. Já tem o VLT, que é esse da via W3 (na Asa Sul), que foi anunciado pelo governo do Distrito Federal. E na análise que nós fizemos, tratamos de um VLT que vai ligar o aeroporto até o início da Asa Sul, para integrar com o metrô ou com outro VLT. Mas o que está sendo solicitado para nós é uma área mais limitada, que é do aeroporto até o fim da Asa Sul e também a retificação do trecho que passa pelo cruzamento do hospital Sarah Kubitschek, que é um complicador terrível, uma área de grande movimento. Então vamos retificar aquele trajeto e colocar o VLT ligando o aeroporto até esse ponto.

Isso está programado pelo Ministério.

Isso está no projeto que foi submetido pelo governo do Distrito Federal. Nós só estaremos anunciando as propostas finais no final desta primeira quinzena de janeiro.

O outro trecho até o início da Asa Sul, no shopping Pátio Brasil, seria esse financiado pelo governo francês?

É financiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento, isso o governo local já acertou. O outro ponto seria a discussão conosco – do governo federal com o governo do Distrito Federal, seria esse trecho do aeroporto até o entroncamento com a Asa Sul.

Além de Brasília, que outra capital pode ter o VLT?

Fortaleza também está pedindo o Veículo Leve sobre Trilho.

Há possibilidade? Isso já está sendo avaliado?

Há grande possibilidade de ser atendida, também. É um trecho longo de VLT, que vai da região hoteleira até próximo à área do estádio. Agora, outros VLTs que já estão em curso não estão nesse pacote, mas já estão sendo executados pela parte de edital, de compras, etc, já dentro das ações de compra da Companhia Brasileira de Trens Urbanos. São (os projetos) que não estão nesse PAC da Mobilidade. É o caso da área na região do Recife, onde vamos ter um VLT que vai ligar a parte de Cajueiro Seco até cabo; e tem também um outro VLT que está em fase de definição do projeto, e até de licitação, que é o de Maceió.

O que podemos esperar mais do Ministério das Cidades a partir deste ano?

Queria lembrar que o presidente Lula já colocou mais de uma vez que teremos, a partir de março, o lançamento do chamado PAC 2, ou seja, Programa de Aceleração do Crescimento na sua segunda versão, que vai dar grande ênfase também à parte da mobilidade. Aí todos esses projetos que não estão entrando para a Copa do Mundo, por causa do cronograma apertado, serão discutidos dentro do PAC 2.


(Colaborou João Batista de Araújo)



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