O Copom decide Celso Ming
Política

O Copom decide Celso Ming



O Estado de S. Paulo - 21/07/2010



O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, define hoje o novo nível dos juros. Mas não está tão claro o que alguns passaram a exigir há poucas semanas, que os juros devam parar de subir ou, até mesmo, devam cair. Ontem, a aposta majoritária do mercado financeiro passou a ser a de um aumento dos juros de 0,5 ponto porcentual ao ano, um degrau mais baixo do que o de junho.


A economia brasileira ingressou agora na fase de desaceleração. A produção continua aumentando, mas a ritmo mais baixo do que os 9% ao ano registrados há alguns meses. Isso não significa ainda que esteja em curso um ajuste em direção ao crescimento mais sustentável da economia. A indústria reduziu sua marcha muito mais em consequência da retirada dos incentivos tributários (suspensão da redução de impostos) do que em consequência da queda consistente do consumo. É natural que a indústria de veículos, por exemplo, diminua suas vendas depois de uma longa temporada de antecipação de compras. No entanto, o crédito ao consumidor e às empresas continua farto e pode puxar o consumo em outros segmentos.

É verdade, também, que a marcha da inflação está contida em comparação com o que acontecia no início do ano. A evolução do IPCA de junho em relação ao mês anterior, por exemplo, foi zero e os números do IPCA-15 ontem divulgados sugerem que julho registre inflação negativa, em decorrência da queda dos preços dos alimentos. Conforme se confirma pela pesquisa Focus do Banco Central, o mercado já trabalha com números mais baixos do que prevaleciam há sete semanas, em direção ao centro da meta de inflação, que é de 4,5% neste e no próximo ano. E essa virada das expectativas é, por sua vez, um elemento importante que o Banco Central terá de considerar.


Mas há outro dado inquietante que o Copom também terá de avaliar cuidadosamente. Trata-se do impressionante aumento das importações, de 45,8% no período de 12 meses terminado na terceira semana de julho sobre igual período do ano passado. Não dá para dizer que estão sendo feitas à custa de uma retração das exportações, porque estas também estão crescendo. E estão crescendo 33,9%, uma enormidade num mercado externo açoitado pela crise, embora num ritmo menor do que as importações. A relativa valorização do real diante do dólar, quase sempre apontada como causa dos desequilíbrios comerciais, é insuficiente para explicar a disparada das importações porque as exportações seguem muito fortes.


O Brasil é o único país emergente cujas importações estão crescendo a essas proporções. A enorme esticada, que continua em ascensão, pode ser explicada pelo vigor do consumo interno. É, por sua vez, fator que também concorre para a retração da inflação interna, na medida em que os mercados externos estagnados estão saturados de mercadorias e agora concorrem para a redução global dos preços.


Por enquanto, as importações atendem ao robusto consumo interno. Mas podem ser vistas como excessiva dependência de fornecimento externo, numa conjuntura em que o investimento brasileiro, ainda que mais alto, continua não sendo suficiente para garantir um crescimento sustentado da ordem de 5% ao ano.




ENTENDA


Os preços caem

Primeiramente, um conceito. O IPCA-15 que ontem veio negativo em 0,9% difere do IPCA apenas quanto ao período de pesquisa de preços para efeito de medir o custo de vida. A amostra de preços é a mesma. Teoricamente, o IPCA mede a inflação mensal do início ao fim do mesmo mês, em comparação com igual período do mês anterior. Enquanto isso o IPCA-15 mede a evolução dos preços do dia 15 de um mês ao dia 15 do mês seguinte.


Raio X

Assim, o IPCA-15 passa um raio X da inflação no meio do mês e dá uma ideia melhor da trajetória no curto prazo. Os números ontem divulgados sugerem que a inflação de julho (do dia 30 do mês anterior a 30 do seguinte), que somente será divulgada em agosto, ficará negativa.


Alimentos mais baratos

Como já avançado no texto ao lado, essa inflação negativa se deve a dois fatores: à queda dos preços dos alimentos e à entrada de importados mais baratos em reais.



loading...

- Sem Euforia - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 08/08 A inflação de julho (evolução do IPCA) veio dentro do esperado, de apenas 0,03%. Com isso, a inflação em 12 meses, que em junho estava nos 6,70%, caiu para 6,27% (veja gráfico). A presidente Dilma e o ministro...

- A Inflação Escapa Da Meta Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 23/08/2012  Se pairava alguma dúvida, agora já não há mais. A evolução do IPCA-15 mostrou que existe um processo de esticada da inflação que não vinha sendo previsto pelo Banco Central, presidido pelo economista Alexandre...

- Consumo Robusto - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 17/08Apesar do baixo nível da atividade produtiva, o consumo interno continua, digamos, de muito bem para melhor.Os números apontados ontem pelo IBGE mostram que, em junho, o volume de vendas no mercado varejista avançou 1,5%...

- Celso Ming A Inflação Perde Força
O que fica agora para ser discutido não é mais se os juros básicos (Selic) vão ser cortados, mas quanto vão ser cortados. Uma redução de 0,25 ponto porcentual agora parece pouco diante da força do recuo da inflação. Os números do IPCA vieram...

- Celso Ming A Inflação Da Petrobrás
A inflação está claramente em queda no Brasil e, nisso, mostra que o principal receio do Banco Central não está se cumprindo. Ou seja, a alta do dólar não está sendo repassada para os preços. A implicação imediata dessas premissas é a de que...



Política








.