REVISTA VEJA
A mesma revista inglesa de circulação mundial, The Economist, que em 2009 colocou na capa a imagem do Cristo Redentor decolando impulsionada por um foguete, o que representava a força emergente da economia brasileira, fez um diagnóstico bem mais sombrio na semana passada: "O Brasil despenca". A revista registrou o crescimento pífio do PIB e sugeriu à presidente Dilma Rousseff que troque de equipe econômica se quiser se reeleger em 2014. Descontando-se o excesso de otimismo de três anos atrás e o catastrofismo de agora, a realidade é que a política econômica do atual governo tem falhado consistentemente em promover o crescimento da economia.
O fracasso não se deu por Brasília não ter tentado impulsionar a economia. A presidente fez tudo o que os empresários pediram. Eles queriam juros baixos? Os juros baixaram a patamares recorde. Queriam câmbio favorável à exportação? O dólar superou a casa dos 2 reais. Queriam menos encargos na folha salarial? Os encargos foram reduzidos em alguns setores. Queriam combustíveis e energia elétrica mais baratos? O governo espremeu a Petrobras, e a estatal segurou os preços, subsidiando- os. Agora espreme a Eletrobras e as estatais estaduais de energia para que façam a mesma coisa.
Com tantos incentivos entregues sob medida, a presidente tinha a certeza de que despertaria nos empresários o "instinto animal", expressão do economista J.M. Keynes para definir a vocação de investir. Despertou, sim, mas apenas o instinto animal da fuga. Há cinco trimestres o investimento vem caindo. A indústria, que deveria ter se beneficiado mais dos incentivos, terá seu pior ano desde 2009. Uma reportagem desta edição de VEJA traz pane da explicação para esse aparente paradoxo.
A reportagem mostra o significado político da recente queda de braço entre Brasília e os estados governados pelo PSDB que discordam na maneira de reduzir a tarifa elétrica para empresas e domicílios. Todo mundo quer gasolina e conta de luz mais baratas. Mas fazer isso na marra é um equívoco perigoso. Um erro que explica não apenas a briga entre Brasília e os estados, mas o despertar do instinto de fuga dos investidores ao verem estatais do porte da Petrobras e da Eletrobras ser dilapidadas por políticas de preço definidas em Brasília. A desconfiança é o mínimo denominador comum das recentes medidas econômicas. Elas disseminaram o temor generalizado de que os investimentos no Brasil não obedecem à lógica de mercado, mas ficam à mercê da vontade do governo e das conveniências políticas da presidente.