o México e as eleições (II)
Política

o México e as eleições (II)


actualização 7/7, 18,00
Confirmação de fraude - López Obrador, apela ao povo em El Zocalo, enquanto afirma que são inaceitáveis os resultados oficiais da eleição presidencial




actualização 6/7, 18,30
com 99.36% das assembleias contadas dizem que Calderon volta a ter vantagem, desta vez de apenas 0,39%
a coligação "Para o Bem de Todos" (AMLO) impugnará as eleições
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Com 98.45% de assembleias de voto contadas, a diferença entre Calderón e a AMLO era de 1 por cento a favor do candidato conservador, quando faltavam contar 2 mil e 17 assembleias, representando 1 milhão, 111 mil e 350 potenciais sufrágios. Tanto bastou para que o "insuspeito" & "influentissimo" jornal o "Publico" saísse a terreiro, quarta-feira dia 5, com este cabeçalho:

Com os candidatos da esquerda mexicana possivel todos aos gritos de "fraude! denunciando a existência de três milhões de votos «perdidos» afinal segundo a ANSA Latina o Instituto Federal Eleitoral (IFE) informou finalmente que “o candidato Andrés López Obrador do Partido da Revolução Democrática (PRD), soma agora 37,06% dos votos e tem uma vantagem de 2,71% sobre o conservador Felipe Calderón com 34,36%”. Sempre quero ver que historieta é que o "Publico" vai inventar para nos vender amanhã. O mais certo é o assunto "desaparecer" do mapa mediático. E, como isto de "eleições" se mostra actualmente quase irrelevante para mudar o que quer que seja, vamos então continuar com a parte da história que interessa conhecer.

Quem não se consegue pôr na pele do outro, nunca saberá imaginar quanto a desenfreada exploração dos paises do 3º Mundo gerou ódios de morte ao longo de muitas gerações anti-colonialistas, evoluindo nos ultimos 50 anos na deriva para o anti-americanismo, em virtude de ser a superpotência quem lidera o processo de exploração, ainda que exista o deliberado propósito de mascarar essa intenção, nomeadamente pela promoção e financiamento de élites locais e respectivos governos vassalos. Por todo o mundo é tradicional o ódio ao Imperialismo dos povos latino americanos, dos muçulmanos, de asiáticos e enfim, dos ex-soviéticos, ainda que estes últimos se possam ter deslumbrado por alguma propaganda capitalista, ilusão depressa desvanecida quando se vê por exemplo o PIB da Russia cair para metade em 10 anos e a sua população, antes de um nivel cultural dificil de igualar no Ocidente, agora a viver na miséria. Desde o aliciamento que provocou os êxodos dos regimes do antigo bloco soviético, uma das perguntas mais frequentes dos parasitólogos que seguem o capitalismo é esta: - “porque é que ninguém foge dos países capitalistas?
Mas, como é vidente, no Ocidente os emigrantes também sempre fugiram,,, aliás a “pátria dos emigrantes, foragidos de situações de miséria extrema, por excelência são os Estados Unidos”. Um dos exemplos mais concretos do fenómeno de emigração em massa (para efeito de propaganda o facto seria designado por “fuga de”) é o que se passa com o vizinho mais próximo a sul, o México (ver perfil do país, aqui)

"o Povo e os seus Lideres"
José Clemente Orozco
Palacio Nacional, Guadalajara

Porque razão o México é pobre e os USA são ricos?
Actualmente os pobres são atraídos para onde se lhes oferece uma oportunidade de fazer parte da sociedade de consumo. Mas para a compreensão de como aqui se chegou, e do que foi a construção deste modelo é imprescindivel que se recapitule o processo de conquista do vizinho do Norte e a exploração a que foram (e ainda são) sujeitos todos os povos na América latina, o antigo “quintal dos gringos”, com especial incidência nos mexicanos:
O Património Roubado, parte I
http://mrzine.monthlyreview.org/vogel010506.html
O Património Roubado, parte II
http://mrzine.monthlyreview.org/vogel020506.html

Apesar da fronteira EUA-Mexico ser das mais vigiadas do mundo, os mexicanos tentam sempre dar o salto,,, diáriamente milhares juntam-se nas localidades fronteiriças esperando uma oportunidade,,, então, até aí, neste contexto as empresas norte-americanas viram “uma oportunidade” de negócio – criando indústrias de montagem nas cidades fronteiriças periféricas do norte e a partir das quais encomendam peças a subsidiárias mexicanas (as chamadas “maquilladoras”) situadas nas cidades mexicanas mesmo em frente, que aproveitam esta mão-de-obra a preços irrisórios, clandestina e sem direitos sociais de espécie alguma, as mais das vezes com os operários dormindo em camaratas improvisadas ou até mesmo no chão nas próprias manufacturas - algumas cidades “geminadas” para este negócio da china são, (veja no mapa), San Diego-Tijuana, Calexico-Mexicali, Yuma-San Luis, Nogales(Tucson)-Nogales, Douglas-Água Prieta, Deming-Ciudad Juarez, El Paso-Guadalupe, Presidio-Ojinava, Del Rio (Texas)-Ciudad Acuna, Eagle Pass- Piedras Negras, Laero-Nuevo Laredo, McAllen- Reynosa, Brownsville- Matamoros.
É necessário que se faça uma contextualização histórica para podermos situar as "Maquiladoras" e entendermos como e porquê acontece a sua formação. Estas empresas surgiram no fim da década de 50, graças ao acordo para a "Indústria Maquiladora de Exportação" uma classificação criada pelo SECOFI (Secretaria de Comércio e Fomento Industrial), no qual se admitia investimentos comerciais estrangeiros, com beneficios especiais, dentro do México e visavam desenvolver a região. Eles deveriam concordar em importar dos EUA 75% dos componentes e depois exportar o produto final de volta, isentos de impostos. As taxas são pagas apenas sobre o valor acrescentado. Vale bem a pena ler com atenção este artigo para se perceber que começamos a descrever esta situação específica para resolver os problemas nesta área pobre e com crises endémicas de emprego e pobreza, para no final acabarmos por constatar que o esquema aqui ensaiado, graças ao êxito para a exploração americana, acaba por alastrar a todo o resto do mundo. O nosso Vale do Ave e as Multinacionais que se instalaram em Portugal logo de seguida não foram outra coisa que não a implementação do mesmo modelo de sucesso.

Mas, com a novissima divisão internacional de trabalho, que privilegia a importação de produtos manufacturados da China e outros países asiáticos, até este modelo entrou em crise, as encomendas ao lado mexicano têm decaído drásticamente (lá como cá) e a pressão dos emigrantes clandestinos agravou-se durante os últimos anos de governos neoliberais. Tal como este método de exploração é apelidado de "globalização" assim os efeitos causados também são de igual forma globais e os mesmos em toda a parte.

Dois mil seiscentos e setenta indocumentados mexicanos morreram na fronteira com os Estados Unidos nos últimos seis anos, muito pela acção directa de brigadas civis de voluntários “patriotas”, designados por “Minuteman”, milícias armadas que defendem o território contra esta invasão dos bárbaros, apostados em roubar postos de trabalho aos naturais, onde tambem eles se debatem com altas taxas de desemprego derivadas das deslocalizações de empresas e serviços para outras paragens onde o capital se reproduz de forma mais apetecivel. Viva a Liberdade!

No México após o tratado Nafta (1994), que trouxe ainda mais prejuízos conquanto aconteçam benefícios para os suspeitos do costume, os salários têm vindo a baixar sistemáticamente, caindo os rendimentos médios dos trabalhadores 40% enquanto o trabalho precário aumentou. Ao fim de uma década metade da população vive na pobreza, 19% na indigência e o desemprego continua a crescer. Como atrás ficou dito, é a matriz deste modelo que foi exportada para todo o mundo.
Com o agravamento das condições, a repressão aumentou, atingindo-se o climax de violência institucional com os massacres do passado mês de Maio nas localidades de Texcoco e San Salvador de Atenco.
Para o próximo post, passado o intermezzo enquanto não se desembrulha a questão do embróglio eleiçoeiro, concluiremos visitando a situação dos mexicanos que conseguiram dar o salto deste inferno para a Terra Prometida.

"Prometheus", José Clemente Orozco, Pomona College, Califórnia (1930)



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