Depois de quebrado o tratado defensivo de Brest-Litowsk firmado entre os dois paises que tinham saido vencidos pelas potências ocidentais no final da 1ª Grande Guerra, muitos anos depois ... no dia 1 de Fevereiro de 1943 um coronel soviético irritado capturou um grupo de prisioneiros alemães, magros e macilentos, nos escombros de Estalinegrado, e gritou-lhes, apontando para os edifícios em ruína à sua volta: “estão a ver isto? é assim que Berlim vai ficar!” – “Padeniye Berlina” ("A Queda de Berlim", de que aqui ficam pequenos extractos) um filme realizado por Mikhail Chiaureli em 1949, com música de Dmitri Shostakovich, (o famoso compositor que tinha iniciado a feitura da 7ª Sinfonia durante os 999 dias do cerco nazi a Leninegrado), é um épico que conta a história da URSS perante a ameaça de destruição nos conturbados anos da 2ª Grande Guerra, vista pelos olhos de Aleksei “Aliosha” Ivanov um herói da batalha industrial pela modernização e da jovem judia Natasha uma educadora de infância, que presa e deportada pelos nazis para os campos de trabalho na Alemanha, mais tarde se converteria numa fervorosa militante comunista
Aliosha o melhor operário do ano, como prémio simbólico na batalha da produção, é recebido pelo presidente José Estaline que face à dureza do trabalho nas fábricas e da sua propensão para os temas culturais por via de se ter enamorado pela jovem professora, lhe diz: “não tenhas medo da poesia” – pouco depois teria inicio a devastadora invasão pela Alemanha nazi do território da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, no mais feroz ataque até então conhecido para impôr uma nova ordem mundial
“A convicção por parte de Hitler que o Exército Soviético estava em vias de sucumbir por completo, representou um dos mais catastróficos erros de cálculo da História militar. Os violadores da pátria soviética estavam quase a descobrir o verdadeiro significado do provérbio que diz: “colherás aquilo que semeaste” (Antony Beevor) Na frente do Oder continuaremos a lutar até que os americanos nos venham apoiar!! incentivava Estaline. A guerra: “Aliosha, então hoje não temos de ir para o trabalho?”. Os soldados improvisavam canções:
Em breve regressaremos a casa As raparigas virão ter connosco E as estrelas dos Urais brilharão para nós Um dia, recordaremos estes tempos. Kamenets-Podolsk e os Cárpatos azuis O ribombar dos tanques em combate Lvov e a estepe para lá do Vístula. Não vamos esquecer este ano. Iremos falar dele aos nossos filhos. Um dia, recordaremos estes tempos.
Na ponta final do desmantelamento da Alemanha Nazi, os dirigentes ocidentais Churchill e Eisenhower entraram em conflito, negando-se a atacar Berlim – as directivas determinam que os exércitos aliados devem conservar-se perto do Elba. Desde Dunquerque que as potências aliadas sempre mantiveram a secreta esperança que Hitler conseguisse militarmente erradicar a forma social de organização comunista da face da terra. Segundo documentos redigidos pelo Major Juhlin-Daunfel afirma-se: “os ingleses são parcialmente responsáveis pelo destino da Europa. É dever deles evitar que a cultura alemã seja destruida por um dilúvio vermelho". Esta intenção envolveria negociações secretas?
Mas a direcção politica da URSS sob o comando de Estaline tinha feito um esforço prodigioso de deslocalização das indústrias fundamentais recuando-as para campus no interior da Sibéria, (os famosos gulags) ao mesmo tempo que se reorganizava o exército pela mobilização geral dos povos asiáticos das estepes. Depois de uma defesa heróica, o contra-ataque seria implacável. No Natal de 1942 o 6º Exército alemão do general Paulus foi cercado junto ao Volga pelo Exército Vermelho, composto na sua totalidade por 6 milhões e 700 mil homens quando empreendeu a ofensiva no Vistula. Os alemães sabiam o que tinham feito nos territórios ocupados desde Junho de 1941 e que o Exército Vermelho tencionava executar a vingança.
Na frente Ocidental não havia pressa. A luta pela Renânia começou durante a Conferência de Yalta. O embaixador Averell Harriman face ao incidente com um avião espião afirma que os EUA apoiam os polacos “brancos” contra os russos. O lieutenant King e Donald Bridge foram considerados terroristas ao serviço do governo emigrado para Londres. (Beevor, pag.148) Na frente Leste em fins de Fevereiro Danzig tinha 1,2 milhões de pessoas, e destes 530 mil refugiados. O total de refugiados vindos de Leste chegou a atingir os 11 milhões. Por essa altura Hitler declarou a Dinamarca território alvo de refúgio sagrado. (É preciso entender as raizes reaccionárias da pequena monarquia europeia). A 15 de Fevereiro de 1944 a 1ª Frente Ucraniana sózinha libertou 49.500 cidadãos soviéticos e 8.868 estrangeiros nos campos de trabalho forçados nas regiões industriais da Silésia.
Na Polónia afirmava-se que “depois da guerra continuaremos a combater os russos; temos 3 milhões de homens do exército de Anders para juntar aos ingleses, sob as ordens do nosso governo exilado em Londres. Tudo voltará a ser como antes de 1939”. E é nesta perspectiva de confronto militar que deve ser visto o que aconteceu em Katyn, um crime cometido por forças fascistas depois assacado pela propaganda aos soviéticos . A 17 de Janeiro de 1945 os russos reconquistam Varsóvia. O "Judenrat", o edificio da administração judaica estava intacto (porque eram as élites judaicas que controlavam o destino das vítimas entre o seu próprio povo). Dos 1.310 mil habitantes da cidade restavam apenas 162 mil. São exumados 65 mil vítimas dos massacres de Nikolaiev e Odessa. (A. Beevor). A 24 de Abril o Exército Vermelho toma Treptow, um bairro periférico de Berlim. 2 milhões e meio de homens cercavam a cidade, aliados à competência tecnologica dos tanques T34. Pela radio Nazi de Praga afirmava-se que a decisão do Fhürer em permanecer na capital do Reich dava à batalha um significado europeu. No bunker de Anhalter Bahnof alojavam-se 12.000 pessoas em 3.600 metros quadrados em condições insuportáveis. Os trabalhadores estrangeiros em Berlim, cerca de 300 mil estavam todos identificados com uma letra marcada na roupa e eram proibidos de entrar nos abrigos. Prevalecia a ideologia que o soldado é filho do Povo e Hitler condecorava milicias de crianças e adolescentes. Os habitantes de Berlim referiam-se à sua cidade como a “reichssenterhaufen” – a pira funerária do III Reich
Epilogo. O discurso politico como trabalho social na galvanização das massas.
“Padeniye Berlina” não é uma obra de propaganda, nem sequer uma visão apenas por uma perspectiva. O próprio Churchill, um conservador, reconheceu que Estaline chefiava um país com elevadas potencialidades e organização social, inclusivé com desenvolvimentos no campo da energia nuclear (o tipo de tecnologia mais avançada para a época). Sobre a direcção politica da guerra, as chefias sempre ouviram e levaram em conta a opinião de toda a hierarquia e nomeadamente sobre a actuação democrática de Estaline o filme mostra isso mesmo. O próprio Marechal Zhukov quando escreveu as suas “Memórias” afirmou que Estaline sempre optou pelas melhores decisões baseadas em conclusões obtidas pelos mais variados pontos de vista. A união e a decisão democrática centralizada construiram a força que destrui a besta fascista
“Padeniye Berlina”, sem dúvida o melhor filme feito sobre a 2ª Grande Guerra, foi retirado da circulação depois do “discurso secreto” de Nikita Khrushchev aos delegados do XX Congresso do PCUS em Fevereiro de 1956, no qual denunciava o cinema soviético produzido até então como tendo “a finalidade de proceder ao culto de Estaline”; como se daí para a frente, desde o principio do declinio até à extinção da URSS não tivesse havido mais "lideres" no partido que persistiu desde então em auto-denominar-se de comunista.
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