O troco em Dilma LEONARDO CAVALCANTI
Política

O troco em Dilma LEONARDO CAVALCANTI



CORREIO BRAZILIENSE - 15/10/11

Até o mês passado, os aliados insatisfeitos com a faxina da presidente rogavam pragas em silêncio. Apenas observadores mais atentos dos movimentos políticos percebiam a intolerância com as ações contra a corrupção. Não é mais assim. Agora, até estratégia os camaradas desenvolveram

Dilma Rousseff não perde por esperar. A história de tirar da Esplanada dos Ministérios aliados envolvidos em denúncias menores de corrupção já deu o que tinha de dar, e isso só fez mal a ela. Afinal, se desgastou cada vez mais com a própria base aliada. O troco pode ser dado ainda nas eleições municipais do próximo ano. Dilma perdeu e ainda não sabe.

Antes de mais nada, as frases acima não são deste colunista. Foram pronunciadas por dois cardeais governistas na última semana. Protegidos pelo anonimato, os políticos deixaram claro o que pensam sobre Dilma. Não são os únicos, ao contrário. É só tentar encontrar quantos aliados - até mesmo petistas e lulistas - defenderam a presidente publicamente.

O que era apenas sussurrado, agora ganha plenos pulmões, mesmo que em conversas de bastidores. Até o mês passado, a praga dos aliados era rogada em silêncio. Apenas observadores mais atentos dos movimentos políticos percebiam a intolerância dos aliados com as ações de Dilma na Esplanada dos Ministérios. O incômodo era tal que até criaram uma tese.

A tese da governabilidade relacionava a demissão dos ministros envolvidos em denúncias de corrupção com a má vontade dos partidos em votar projetos de interesse no Congresso. Pura chantagem. Um, dois, três ministros caíram e nada de revoltas. As legendas trocaram os nomes dos indicados e tudo ficou por isso mesmo, pois.

Atritos

A dificuldade do Planalto é que a pressão contra Dilma continua. E cada dia aumenta, como deixam claro os dois cardeais da base aliada. Agora, o principal argumento deles é o de que um projeto de continuidade do PT não se confirma com a presidente criando atritos com a base aliada. E que Dilma precisa mais dos parlamentares do que imagina.

Ao agir como estrategistas políticos, os críticos da presidente dizem acreditar que ela não tem - e nunca terá - a força de Lula, que ao longo dos últimos oito anos conseguiu queimar etapas na relação com o eleitor na ponta. O carisma do ex-presidente fazia com que ele atropelasse ministros, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, vereadores e líderes comunitários. Explico.

Para a base insatisfeita, os deputados federais e senadores têm uma teia própria de relações nos estados a partir dos parlamentares e ministros de Brasília. Isso garante a um candidato a presidente ter acesso ao eleitor a partir de uma espécie de efeito dominó, iniciado por conta das redes de votos conquistadas por deputados estaduais, vereadores e líderes comunitários.

Lula conseguiu neutralizar o efeito dominó de uma forma que os próprios políticos locais passaram a rogar pelo apoio dele. Mas isso não significa, na lógica dos aliados, que Dilma consiga fazer o mesmo. Ao contrário. Ao demitir ministros, a presidente estaria colocando em risco a própria reeleição em 2014 e, de imediato, a força do Palácio do Planalto na corrida municipal no próximo ano.

A torcida dos insatisfeitos com Dilma pode perder força caso a popularidade da presidente continue em alta. E, como se sabe, isso depende menos de aliados ressentidos - com suas estratégias e chantagens - e mais da força da economia no próximo ano e em 2014.

Armadilha

Em Porto Alegre, ontem, uma vaia irritou Dilma mais do que o costume devido às suspeitas de ter sido orquestrada. A manifestação foi organizada pelo Sindicato dos Bancários, filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) no estado. A CUT, é bom lembrar, é do PT.



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