O pior dos resultados para o Palácio do Planalto acabou se concretizando. A oposição está em alta, não apenas a externa como também a dos partidos aliados. O PMDB não vai tão dividido às eleições presidenciais desde 2002, quando indicou Rita Camata para vice na chapa tucana liderada por José Serra, derrotado então pelo ex-presidente Lula, que contou com o apoio de diversos grupos dissidentes regionais do PMDB.
A convenção nacional do partido decidiu apoiar a reeleição de Dilma por 59% contra 41%, dando-lhe mais 4 minutos e 36 segundos de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, mas negando o apoio de sua máquina partidária em muitos estados.
Para se ter uma ideia da defecção registrada este ano, em 2010 o apoio a Dilma foi de 84% dos convencionais do PMDB. A dissidência tem uma razão única: a disputa de espaço político com o PT. O diretório do Rio de Janeiro votou em peso contra a coligação com o PT, apesar de o governador Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o ex-governador Sérgio Cabral terem reafirmado seus apoios à presidente Dilma.
Mas todos ressaltaram que a razão da dissidência estadual, que eles fazem questão de não controlar, deve-se à candidatura do senador Lindbergh Farias, apoiado especialmente por Lula.
Na Bahia, com uma chapa oposicionista já montada com a dissidência do PMDB, não houve o propalado acordo entre Geddel Vieira Lima e a cúpula partidária: a votação maciça foi contra a aliança com o PT.
Outras bancadas, como as de Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e Ceará, também demonstraram sua insatisfação, sendo que no Ceará é possível que, em breve, a dissidência potencial do senador Eunício Oliveira acabe fechando um acordo com o grupo do tucano Tasso Jereissati. Paraíba e Santa Catarina, pelo número de faltas de seus representantes, entraram no radar da direção nacional como possíveis problemas.
Toda essa situação somou-se ao resultado da mais nova pesquisa do Ibope, que mostrou a oposição em alta e confirmou a queda da presidente Dilma, prevendo a realização de um segundo turno.
O crescimento dos candidatos do PSDB, Aécio Neves (de 20% para 22%), e do PSB, Eduardo Campos (de 11% para 13%), mostra o início da migração dos votos dos indecisos para a oposição, com Campos voltando à disputa pela terceira via, embora ainda longe de Aécio. Pelo menos deixou de disputar o terceiro lugar com o Pastor Everaldo, do PSC.
Assim como a recente pesquisa do Datafolha, também o Ibope constatou que a diferença a favor de Dilma em um eventual segundo turno reduziu-se dramaticamente. Contra Aécio, a vantagem de Dilma caiu de 19 para 9 pontos porcentuais — em menos de um mês, o resultado passou de 43% a 24% para 42% a 33%. No confronto com Campos, a vantagem diminuiu de 20 para 11 pontos. Para culminar, a rejeição à presidente Dilma subiu para 38%.
Esse conjunto de notícias ruins fez a presidente subir o tom nas duas convenções de que participou, a do PDT pela manhã e a do PMDB à tarde. Num discurso que marcou a oposição até meses atrás, agora é Dilma quem acusa seus adversários de quererem "surrupiar" os programas do governo.
Foi uma crítica indireta ao candidato do PSDB Aécio Neves, que apresentou no Congresso diversos projetos alterando o Bolsa Família para "aprimorá-lo". O governo votou contra a proposta de permanecer pagando o benefício até seis meses depois de o beneficiário ter conseguido um emprego formal, e também não quer incluí-lo na Loas (Lei Orgânica da Assistência Social), o que, no dizer de Aécio, transformaria o Bolsa Família em um programa de Estado, e não de governo.
Incomodada com a definição dos adversários de que o PT e o governo representam o atraso, Dilma garantiu: "Nós somos o avanço: o atraso são eles". Um discurso defensivo e claramente de uma candidata acuada.