Os nativos estão calmos - VINICIUS TORRES FREIRE
Política

Os nativos estão calmos - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 02/09


Pibinho não tem impacto no prestígio de Dilma, que continua a crescer até entre adversários


DE QUASE nenhuma parte se ouve crítica pesada ao governo de Dilma Rousseff, com exceção da facção mais aguerrida, "teórico-ideológica", dos economistas-padrão, e da direita ideológica, nanica.

Os inimigos internos de sua coalizão até que estão comportados, com exceção do sindicalismo público, que acabou, no entanto, domado pelo reajuste salarial sensato e pela firmeza da presidente.

O partido de Dilma Rousseff, ao menos nominalmente, está esquecido de morder, em parte petrificado pela ameaça real de cadeia. Os peemedebismos estão distraídos com a eleição. A oposição realmente existente (PSDB) inexiste.

O desempenho medíocre da economia não suscita revoltas maiores ou menores. Os nativos não estão inquietos: o povo está amaciado pelo consumo que ainda aumenta. Há mais demissões, mas tais avarias no emprego são setoriais.

A economia não cresce porque não se investe e o comércio exterior vai mal das pernas. Não será possível sustentar esse padrão por muito mais tempo, de consumo sem expansão quantitativa e qualitativa do investimento e da mão de obra, mas isso é irrelevante para a política, no curto prazo ao menos.

Dilma marcou pontos com os mais céticos ao bancar uma política econômica heterodoxa, sem lá grande visão de futuro, mas que ficou muito longe de dar com os burros n'água ("descontrole inflacionário" e outras histerias). Em vez disso, vai deixar o país com juros e dívida pública relativamente baixos. No caso dos juros, contou com a "ajuda" da conjuntura internacional (paradeira e tsunami monetário), decerto, mas apenas em parte.

Dilma descobriu tarde, mas descobriu, que precisava privatizar serviços públicos. Vamos ver resultados disso apenas a partir do final de seu governo, mas politicamente a presidente fez pontos e converteu mais "liberais" ao seu governo.

No fim das contas, apesar da problemática e evidente falta de "reformas", Dilma deve entregar um setor público com contas quase equilibradas, juro real por volta de 2% e dívida pública que é um terço da europeia ou americana. A inflação ainda será desconfortável, um problema, mas contida.

Dilma conquistou a maior parte do empresariado com juros básicos menores, muito juro subsidiado, muita isenção setorial de imposto, muito crédito de banco público, câmbio melhor e algum protecionismo.

Acelerou o programa Minha Casa, Minha Vida, para o qual a elite não liga muito, mas que alegra o povo miúdo. Os programas sociais para miseráveis continuam a se expandir e a se aperfeiçoar, assim como os planos de levar a pequena classe média e pobres para o ensino superior, coisa que causa enorme impacto entre essas pessoas.

Apesar da adoção tardia de um plano de governo (uma descoberta, não um projeto), Dilma praticamente não tem responsabilidade pelo Pibinho, que em dois anos fará uma média semelhante à dos anos FHC. Nos três primeiros anos, o crescimento terá sido pouco melhor que o dos anos fernandinos.

Mas o país vem de anos razoáveis de crescimento, distribuiu um pouco mais de renda, cuidou melhor de seus miseráveis e também dos apenas remediados.

Por ora, basta para acalmar os nativos.



loading...

- 2013: Dilma Estatiza O Crédito - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 27/12 Presidente acelerou crescimento da banca pública, desde junho com mais de 50% do crédito 2013 foi um ano de estatização do crédito no Brasil. Foi também mais um ano de queixas empresariais contra o excesso de Estado e...

- Mais Um Ano Se Passou - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 09/08 Já se foi quase metade do governo de Dilma Rousseff. Para ser mais preciso, 40%, nesta semana. E daí? E daí que o tempo restante de Dilma é menor que 60%. Em termos de tempos parlamentares, já se foi mais da metade mesmo, pois...

- Vinicius Torres Freire - O Governo Morde E Assopra
Folha de S Paulo No dia seguinte à alta do "juro do BC", governo deve anunciar mais crédito barato por meio do "juro do BNDES" ESTÁ QUASE certo que o governo federal, via Tesouro da União, vai emprestar mais R$ 50 bilhões ao BNDES a juros baixinhos,...

- Vinicius Torres Freire Sai Por Uma Porta, Entra Por Outra
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/02/11 O GOVERNO aumentou o capital da CEF e o do BNDES. Esses bancos públicos terão assim mais dinheiro para financiar investimentos. Em breve, o governo deve ainda emprestar mais dinheiro para o BNDES, algo em torno de R$ 50...

- Vinicius Torres Freire A Dieta De Dilma
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/02/11 Itaú estima em 3,9% a alta do PIB no primeiro biênio de Dilma; governo fala em 5,9% na média dos quatro anos A PAISAGEM da economia no primeiro biênio de Dilma Rousseff será mais cinzenta que a do espetáculo circense...



Política








.