Política
Os olhos em Gaza Fernando Gabeira
RIO DE JANEIRO - Na guerra das Malvinas, era o mar revolto, escuro e frio. A cada manhã temíamos pelas imagens que os jornais trariam. Agora, são corpos empilhados, crianças. Algumas imagens não são novas. A internet antecipa o horror da manhã seguinte.
Na guerra do Líbano, tínhamos muito o que fazer. Retirar os brasileiros, às vezes por caminhos mais longos, ditados pelo controle militar de Israel. Aprendemos algo que poderá ser útil na Bolívia ou no Paraguai, onde há tantos brasileiros na berlinda.
No momento do choque Israel-Hizbollah, fizemos o trabalho de sempre: manifestações no Saara, bairro comercial do Rio, com árabes e judeus irmanados. É nossa mensagem permanente. No Brasil, é possível a coexistência.
As coisas estão mais difíceis. Há mais palpites do que foguetes e bombas. O Brasil não pode se omitir. Nem superestimar suas chances de intervenção. Não há solução militar para o conflito. Entregues a si próprios, os adversários não encontrarão o caminho da paz.
Depois do Líbano, muitos países baniram a bomba cacho, a bomba de fragmentação. Ela, às vezes, não explode e parece um brinquedo: atração fatal para as crianças.
Apesar de nossos esforços, o Brasil se recusou a firmar o acordo. Insisto nessas pequenas lições de casa: retirada de brasileiros, banir a bomba cacho. É uma tática diante de tarefas gigantescas: começar pelo que está ao nosso alcance.
Mesmo Obama sentiu como é difícil. Em Ashkelon, reconheceu o direito de defesa diante dos ataques do Hamas. Agora está preocupado com o número de mortos. Não se trata se classificar a reação como desproporcional. Ela conduz ou não a algum resultado produtivo? Tantas dúvidas, tantas mortes.
Diante do Oriente Médio, só Beckett: não podemos continuar; continuamos.
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