Os salários e a crise O Estado de S. Paulo EDITORIAL,
Política

Os salários e a crise O Estado de S. Paulo EDITORIAL,


Se não forem capazes de abandonar a prática arraigada de olhar o passado para projetar o futuro, dirigentes sindicais atualmente envolvidos em difíceis negociações salariais com os empregadores correm o risco de serem atropelados pela realidade. Até algumas semanas atrás, categorias importantes conseguiram fechar acordos salariais bastante vantajosos para os trabalhadores, com reajustes baseados na inflação passada, à qual se acrescentava um aumento real, que em alguns casos foi superior a 3,5%. Mas outras categorias, com centenas de milhares de trabalhadores em suas bases, estão negociando agora num cenário muito diferente, em condições mais difíceis para empregados e empregadores, por causa da crise financeira internacional.

Diante das incertezas sobre a duração e a profundidade dos efeitos da crise em seu setor, as empresas congelaram seus planos de expansão e estão revendo as condições para a renovação dos acordos salariais. Os sindicalistas, porém, acostumados com os ganhos que obtiveram nos últimos anos, insistem na defesa das propostas que suas categorias aprovaram antes da irrupção da crise e que, hoje, se chocam com a realidade econômica.

Por causa da aceleração da inflação, as negociações salariais concluídas no primeiro semestre de 2008 não foram tão boas para os trabalhadores como as realizadas em 2006 e 2007. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), de 309 acordos fechados por categorias profissionais com data-base no primeiro semestre, 86% conseguiram reajustes iguais ou superiores à inflação passada. É um índice bem menor do que o apurado na primeira metade de 2006 e de 2007, que foi, nos dois anos, de cerca de 97%.

A dificuldade para fechar acordos salariais num período de inflação crescente provocou o ressurgimento das greves em setores que não as registravam há muitos anos. Há pouco, os metalúrgicos realizaram paralisações localizadas em diversas fábricas do setor automobilístico - onde em décadas passadas atuou o sindicalismo mais organizado do País, mas estava desacostumado com greves. As negociações foram difíceis, mas resultaram em ganhos reais de até 3,9% para os metalúrgicos.

Têxteis de Blumenau, que não faziam greve desde 1989, paralisaram o trabalho por 11 dias, para conseguir um acordo que lhes assegura aumento real. Também os bancários recorreram à greve, que durou duas semanas, para obter dos empregadores aumentos reais de até 2,8%, neste mês, depois de os mercados financeiros em todo o mundo terem registrado pesadas baixas.

Muitas empresas já sentem os efeitos da crise. No setor de papel e celulose, por exemplo, grandes empresas anunciaram perdas vultosas. Mas dados mais recentes sobre emprego e renda ainda não mostram sinais de crise no mercado de trabalho. O desemprego registrado em setembro nas seis principais regiões metropolitanas do País foi de 7,6%, igual ao de agosto e muito inferior ao de setembro de 2007, de 9%. A renda média do trabalhador, por sua vez, foi 0,9% superior à de agosto e 3,2% maior do que a de setembro de 2007. É preciso não esquecer que há uma defasagem entre o início de uma crise e seu impacto sobre o mercado de trabalho.

Até agora, porém, dirigentes de categorias importantes parecem não estar preocupados com isso. Os químicos de São Paulo querem a reposição integral da inflação mais aumento real de 7,5%. É mais do que a categoria conseguiu em 2007 (aumento real de 1,5%), um ano bem melhor para as negociações do que 2008. Os metalúrgicos filiados à Força Sindical no Estado de São Paulo têm reivindicação ainda mais ambiciosa: reajuste de nada menos do que 20%. Os comerciários de São Paulo, com data-base em 1º de setembro, estão numa situação peculiar: 40% da base, os empregados nas lojas da capital, já fecharam o acordo, com reajuste de 9% (maior do que a inflação), mas a situação está indefinida para 60% dos trabalhadores, e as negociações estão difíceis para os dois lados. Sem que cada um ceda um pouco, dificilmente se chegará a bom termo - e isso vale para todas as categorias profissionais.



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