OTAN & LISBON TREATY
Política

OTAN & LISBON TREATY

















1. a NATO foi fundada no pós-guerra como União da Europa Ocidental (WEU) com 10 membros. A Turquia aderiu em 1952 e desde então tem permitido instalar no seu território um imenso arsenal bélico, desde bases militares até instalações da Nasa. Actualmente a Turquia é o principal problema a resolver entre a NATO e a União Europeia, (a famigerada adesão turca à UE) com o designio de fomentar o epicentro para ataques a Leste

2. Em 31 de Março de 2009 o Tratado de Lisboa (não ratificado democraticamente pelas populações europeias, a começar pela Irlanda) pôs termo à cláusula que previa o actual conceito de “defesa mútua” entre europeus e, como resultado a WEU (como componente da NATO) verá a sua actividade cessar em Julho de 2011. Uma vez que já não existe a “ameaça comunista” para o imperialismo norte americano a Europa já não é importante.

O conhecimento da História passada determina a compreensão do futuro

3. a NATO foi pensada como coligação dos vencedores no final da 2ª GGuerra e fundada em 1949. Tratou-se, como ironizou Lorde Ismay de “servir de pretexto para manter os Americanos dentro da Europa, os Russos fora dela e os Alemães, como vencidos, debaixo do peso de pagar as indemnizações de guerra. O artigo 5º do Tratado (firmado em Washington), considera que um ataque armado contra qualquer dos paises membros é considerado um ataque contra esta organização dirigida pelo Império industrial militar norte americano. Foi, obviamente, uma provocação ao acordado entre as potências em Yalta. Como reacção a URSS patrocinou a criação do Pacto de Varsóvia a que aderiram 7 paises que tinham inscrito o socialismo nas suas Constituições.

4. O Artigo 6º do Tratado do Atlântico Norte (nitidamente desactualizado) define a área de actuação aos paises da zona Euro-Atlântica através dos “Conselhos de Parcerias”. Foi nesta base que foi negociada a “Iniciativa de Istambul” e a instalação das bases militares na Turquia. É sobre a necessidade de alterar este artigo e na invocação do Artigo 5º após o 11 de Setembro que se justificou a intervenção no Afeganistão, a dezenas de milhares de quilómetros do Atlântico, (cuja força de invasão, a ISAF, os contribuintes portugueses são forçados a sustentar com a sua quota parte)

Hegemonia Americana e Nova Ordem Mundial

5. Como muito bem diz Francisco Louçã: “a NATO tem sido um exército cuja divisa é o dólar, o braço armado do capitalismo ocidental, a defesa da propriedade das companhias e activos financeiros que hegemonizam os mercados”, ou seja “fazendo coincidir a defesa desses factores” com os interesses do complexo industrial militar dos EUA criado pelo keynesianismo para intervir no cenário da 2ª GGuerra. Mas o que diz Louçã, ou até Luis Fazenda (“Impedir o Triunfo dos Porcos”) e os votos que desejam captar, não chega.

6. Para conseguir conquistar o domínio dos mercados, desde cedo se colocou o problema de garantir o pagamento das dívidas externas dos países a dominar. A propósito, Dominique Carreau e Malcom Shaw escreveram o ensaio “O Estabelecimento do Défice da Alemanha em 1953 – Algumas linhas para se perceber a actual crise de crédito”. Aqui se versam três das maiores realizações do imperialismo no pós-guerra (o perdão de 70% das dívidas anteriores à guerra), reajustar o serviço de dívida por forma a que a Alemanha tenha hipótese de pagar e as cláusulas de imposição de autoridade – manutenção de forças militares dos EUA em território alemão como forma de assegurar a dependência da Alemanha a longo prazo.

7. O instrumento para levar por diante esta politica económica foi a “Brady Iniciative”. Trata-se de regular a relação entre a crise global da dívida nos países periféricos e a crise de acumulação do sistema capitalista nos paises centrais do sistema. Em contraste com os anos 50, desde os anos 70, pese embora a hegemonia dos Estados Unidos, o sistema tem sido incapaz de absorver os custos de estabilização do mundo capitalista dos mercados e virou-se para uma aproximação selectiva do que será a solução para a crise global do endividamento (ver análise do Cato Institute)
Nos anos 80 seguem-se uma sequência de crises graves nos chamados paises emergentes, desde a Ásia ao Brasil, uma década perdida em que o desenvolvimento estagnou, até ao colapso da economia do Japão em 1992.

8. No final, a crise global e o investimento armamentista afectou o capitalismo de Estado interdependente da URSS. Com a implosão do bipolarismo dos dois condominios antagónicos (o Pacto de Varsóvia foi dado como extinto em Junho de 1991) em Novembro de 1991 reuniu a Cimeira da NATO em Roma, para definir um novo plano estratégico. A aparentemente “clara” vocação defensiva para manter a paz e a segurança internacional” é abandonada.

9. Nos 50 anos anteriores a NATO nunca tinha disparado 1 tiro. Em Agosto de 1990 a invasão do Kowait, com cobertura da ONU que considera uma retaliação como acção legal, os EUA deslocam forças militares e esquadrilhas de aviões para as bases na fronteira da Turquia. Em 1992 seguindo as propostas do “Plano Albright” inicia-se as acções dirigidas para o desmantelamento da Jugoslávia. Extinta de vez a ameaça russa pela bancarrota de 1998 uma nova revisão do conceito estratégico é feita de imediato em 1999 onde se reúnem 19 países.

Obama, as Guerras do Nóbel da Paz

10. a Cimeira de Lisboa de 2010 é transitória. Trata principalmente de captar a colaboração com a Rússia (condicionada pela adesão à “Organização de Xangai”) relativamente apoiada num renascimento assente na detenção de grandes recursos energéticos, dois quais a Europa é dependente. Pela primeira vez este ano tropas da NATO desfilaram na Praça Vermelha em Moscovo nas celebrações do Dia da Vitória sobre o nazismo em 1945. Actualmente, depois do desmantelamento da URSS a NATO atrai 28 Estados para a sua órbita, com influência e capacidade interventiva crescente nas regiões leste da Europa e Ásia central. O Relatório NATO 2020, decidirá o 3º conceito da organização, sobre os pilares fundamentais que continuarão actuais, a indivisibilidade da segurança dos membros, as novas ameaças que já não são exclusivamente militares nem essencialmente de raizes regionais onde a dissidência é perfeitamente controlada pelo aparatik policial-paramilitar.

A ementa servida pelo país de Cavaco é arroz de pato

11. Aparentemente cessou “o perigo comunista” para a sociedade, mas o mundo está mais perigoso. A nova estratégia a usar para defender a supremacia do Imperialismo norte americano num cenário de crise permanente advoga uma NATO de subdivisões regionais (onde se possam distribuir os custos) e não global a expensas dos EUA, mantendo a capacidade de resposta mais ágil com meios de dissuação globais pagos por todos os vassalos – uma divisão internacional de trabalho que permita partilhar tarefas e despesas, em suma: o mesmo esquema neoliberal que vigora nas redes económico- financeiras – aplicado a uma redução nos custos de Defesa dos EUA

Outsourcing

12. Ou, como se afirma no artigo conjunto dos ministros A.S.Silva e Luis Amado (Público 18/11) – “a necessidade de se enveredar pela “afeganização” – e também da “portugalização”, da “turquialização”, “espanholização”, enfim, o que seja... desde que paguem o tributo ao Império. Como não há dinheiro para tudo (“Estamos extemamente gratos a Portugal pelo esforço financeiro que está a fazer no envio de soldados, apesar da crise” disse Hillary Clinton à chegada), delega-se o negócio da oligarquia militar no esquema de outsourcing: novos fornecedores de segurança privados que, na medida do crescimento de importância, roubam a exclusividade ao Estado. Por exemplo, os postos de controlo das zonas ocupadas por Israel na Palestina já são operados por empresas privadas.

O sistema apenas está programado para gente “normal”. E o normal é deixar que te programem para a normalidade

13. Para manter tudo a funcionar “normalmente”, uma vez que já não existem as ameaças de ataques militares entre dois exércitos – todos os civis são agora considerados soldados combatentes – invocam-se as ameaças não convencionais que só existem na imaginação dos oligarcas da nova ordem global: a existência das tradicionais “armas de destruição maciça” (WMD), ataques terroristas, ataques cibernéticos, destruição de linhas de abastecimento, catástrofes naturais, alterações climáticas com potencial para gerar conflitos, etc, tudo necessariamente a controlar por forças regionais com soldos locais.

14. Regra geral os povos não precisam de organizações bélicas, senão as de proximidade que possam controlar para sua defesa, e que não lhes condicionem a vida. Mas as fábricas de armamento, como motor da economia ocidental, precisam do belicismo como pão para a boca dos ricos. Os limites naturais para a comparticipação das despesas e compra pelos paises aliados de armamento e tecnologia militar estará na contestação da opinião pública interna. O pretexto para o expansionismo vem nas entrelinhas: “a NATO planeia a ampliação das parcerias militares no hemisfério Sul a partir de meados de 2011" (Jornal do Exército, nº599, Out./10)

15. É sempre na Avenida da Liberdade que se luta pelos grandes dias da Democracia, mas a avaliar pelo estado de divisão incutida a partir dos organismos oficiais nas diversas forças contestatárias de esquerda, mais uma vez não iremos longe
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