
As ligações nos negócios é impossivel sem dialogar (leia-se: combinar as percentagens de luvas) com os nomes relacionados com o Poder Politico e o Regime que vão até ao mais alto nivel da hierarquia desde familiares do presidente José Eduardo dos Santos, a Generais, Ministros, ex-Ministros, e toda uma arraia menor de funcionários Superiores que orbita o Poder, a malta dos “esquemas e da Gasosa”, diz-se em dialecto local – nomeando os figurões que pululam nos seus carros de luxo topo-de-gama numa Luanda ainda devastada, pelo meio das latas apodrecidas da população e dos enxames de crianças andrajosas de barrigas inchadas por não comerem. Excepto nas marcas dos bólides, guiados por pretos (bastantes) em vez de brancos (poucos), o panorama não mudou nada, desde que quatro décadas atrás os nossos soldados que rumavam para se perder na guerra Colonial percorriam a via sacra desde o desembarque no porto de Luanda onde eram carregados em vagões de mercadorias a caminho do campo militar do Grafanil, antes de serem expedidos para as matas do interior. Os mais velhos lembram-se desse percurso dramático através da linha férrea que passava pelos enormes e compactos musseques dos subúrbios, e da estupefacção ao ver o comboio ser perseguido por centenas de crianças negras seminuas implorando esmolas e comida das rações de combate; “tostão, tostão, Senhor!” - jamais os jovens soldados rápidamente transformados em combatentes à força esquecerão esses gritos da tragédia humana que, desde que empreendemos a “ajuda” aos nativos, se desenrola em África.
Óbviamente que as lógicas dos negócios e das guerras não se compadecem com práticas nem com revivalismos bondosos. Por (co)reincidência uma das figuras de proa da presente comitiva é Luis Amado, o ministro da Defesa que assim nos passa novamente para o ataque, (“Treino para a Paz”, diz ele) não já orgulhosamente sós como antigamente, mas apadrinhados por quem na altura via na nossa presença empecilhos à exploração das riquezas petrolíferas (e outras) da então Colónia. É conhecido que os Estados Unidos financiaram os movimentos de Libertação pró-ocidentais em Angola numa remake africana da guerra-fria contra o Comunismo. Depois da panelinha combinada com as autoridades militares de Luanda, Amado seguiu para Kinshasa como enviado especial da “NATO Response Force” preparando o terreno para interferir no resultado das primeiras eleições que se vão efectuar no Congo desde 1961. O principio da aventura militar portuguesa em Angola que asssenta que nem uma luva na estratégia militar de Dos Santos. Não há-de faltar muito para vermos uma intervenção de Angola no Congo com apoio da Nato e da UE. (Programa de Apoio às Missões de Paz em África (PAMPA) à revelia da verdadeira força de Paz estacionada naquele país sob a égide da ONU. Luís Amado na tarde do dia antes de partir teve o seu primeiro encontro de trabalho com o Presidente da República, Cavaco Silva, no Palácio de Belém. O Presidente é o Comandante Supremo das Forças Armadas; mais uma vez o Petróleo continua a ser um bem essencial cuja defesa não se compadece com os interesses dos povos. Quantos sacrificios, miséria e vidas custa cada tonelada de carbono queimada para a atmosfera pela nossa brilhante civilização do homus automobilis?
Oficialmente Luís Amado defendeu "que Angola, pela sua experiência, tem muito a dar a nível mundial em questões de segurança e defesa neste momento de globalização. Angola resolveu o seu conflito militar interno de forma exemplar e tem sido bastante útil na resolução de forma pacífica de vários problemas militares no continente africano e as suas experiências são bastantes importantes para o mundo, reconheceu o ministro português"; mas esqueceu-se muito convenientemente de referir que esse know-how militar foi inteiramente fornecido por Israel, incluindo os próprios pilotos da Força Aérea dotados da mesma tecnologia GPS com que estes abatem com misseis os alvos palestinianos - de forma igual à usada para eliminar a oposição democrática que concorreu às eleições em Angola em 1992. Exemplar, como disse o "nosso" ministro.