Para lembrar Sócrates
Política

Para lembrar Sócrates


Conversando com Deus
(Texto bem-humorado do médico e ex-jogador de futebol Sócrates)

Crônica Publicada na Revista Cremesp
Edição 28 -
Julho/Agosto/Setembro de 2004

Era começo dos anos oitenta. Estávamos em plena efervescência da campanha pelas eleições diretas para presidente e no meio do turbilhão chamado democracia corintia-na. Fomos convidados pelo então deputado e atual presidente do Flamengo Marcio Braga a participar de um fórum promovido pela Câmara dos Deputados que buscava fazer um diagnóstico da realidade do nosso esporte e as possíveis soluções dos seus problemas.

Naquela época, por culpa de toda mobilização popular que agitava o país, acreditávamos piamente na possibilidade de transformar rapidamente nosso país em algo novo, moderno e motivo de orgulho para toda a nação. Muito foi conquistado nestes vinte anos que nos separam. O único segmento que parou no tempo e não se modificou em nada foi o futebol que continua reacionário e amador.

Bem, voltando a nossa visita a Brasília, resolvemos viajar todos juntos. Havíamos parado alguns dias para discutir os temas que levaríamos e estávamos com o texto pronto, o que, aliás, continua muito atual. Ele nada mais era que a expressão impressa da nossa experiência corintiana e das dificuldades que encontrávamos para colocar em prática uma nova forma de conduzir um clube de futebol.

Nos encontramos em Congonhas: Juca Kfoury, Adilson Monteiro Alves e eu. Chegamos cedo e conseguimos embarcar na mesma fileira. Adilson no meio, Juca no corredor e eu na janela. A decolagem foi tranqüila e logo após a estabilização do vôo pedimos uma cervejinha gelada para enfrentarmos a hora e meia até a capital federal onde Marcio nos esperava para o jantar.

Estava lendo distraidamente no meu canto quando percebo uma nervosa movimentação na poltrona à frente do Juca. Parecia que alguém estava se debatendo, mas eu não podia saber exatamente o que havia porque não tinha nenhuma visão do local. Foi quando, de repente, ouve-se uma voz perguntando se havia um médico a bordo.

Num reflexo extremado, eu imagino que por culpa da proximidade e do pavor provocado, Juca solta um “tem” já apontando o indicador para mim e rapidamente vai se esconder nos fundos da aeronave. Imediatamente pulei por cima do Adilson e de sua bandeja de refeição para me aproximar do local. Percebo que há um senhor de média idade em plena crise convulsiva. Faço os procedimentos normais e possíveis na situação e, como era de se esperar, rapidamente ele volta ao estado normal. Converso um pouco com ele, vejo que está tudo bem e retorno pela mesma via à minha janela.

Novamente realojado confortavelmente, percebo que a minha cerveja havia esquentado e resolvi chamar os comissários para poder trocá-la. Quando me volto noto o Juca espiando o movimento com meio corpo ainda atrás da cortina da cozinha de bordo como a avaliar a situação. À distância e através de gestos respondo à sua dúvida mostrando que estava tudo bem e que ele poderia regressar ao seu assento original.

Ele então se aproxima vagarosamente e ainda muito assustado. Senta-se e começa a me olhar de uma maneira estranha. Tão estranha que me induziu a lhe perguntar por que ele estava com aquela cara. “Magrão, você é médico mesmo!” Exclamou num misto de incredulidade e satisfação. Como se eu tivesse feito algo sobrenatural. Dei uma sonora gargalhada e disse: não, eu só dou toque de calcanhar. “Mas magrão, que milagre você fez?” insistiu “Em segundos, você o salvou”. E eu ria que dava câimbra no abdomen. “Pô magrão, estou falando sério”. E sempre com aquela cara assustada.

Neste momento, eu lhe perguntei se ele achava que meu curso médico era de mentira. “Não, claro que não, mas... médico eu achei que você jamais seria”. Bela contradição que até hoje encontro na cabeça de muitos. E inevitavelmente, é claro, levo numa boa. Mas naquele dia vocês não imaginam como me incomodou. É que o Juca passou todo o jantar (e o resto da semana) a me olhar como se estivesse vendo ou conversando com Deus. É mole?





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