Queda de 10 pontos porcentuais na avaliação positiva
do governo Lula só mostra que a economia e a
popularidade sempre apontam para a mesma direção
Otávio Cabral
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Tem base real o relativo otimismo do governo quanto à dimensão dos danos que a crise econômica ainda deve – e provavelmente vai – provocar na vida dos brasileiros. A expectativa oficial é que a diminuição das receitas públicas, o freio na produção, déficits e demissões continuem até o fim do ano, mas sem adquirir proporções catastróficas. Se pelo lado econômico o diagnóstico oficial da crise é que ela será menos assustadora do que em outros lugares do mundo, no campo político há uma intensa preocupação do governo com suas consequências, tanto as imediatas quanto as de longo prazo. As pesquisas de opinião já revelam os primeiros reflexos. Na mais recente, do instituto Sensus, a avaliação positiva do governo sofreu uma queda de 10 pontos porcentuais de janeiro a março, passando de 72,5% para 62,4%. O apoio ao presidente Lula ainda é muito expressivo e seus índices de aceitação são os maiores dos últimos vinte anos. Em democracias consolidadas, porém, já está mais que demonstrado que a popularidade do governante está relacionada ao sucesso da economia – e isso assusta o governo.
Geoff Caddick/EFE |
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Lula já confidenciou a assessores que teme perder nos próximos meses o que construiu em seis anos na Presidência. "A ciência política mostra que há uma relação direta entre o apoio ao governo e o bom desempenho da economia", afirma o cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise. "O bolso é o primeiro fator que o cidadão leva em consideração ao avaliar um governo." Em países de governo presidencialista, como o Brasil, essa relação é ainda mais direta, pois os eleitores associam a figura do presidente da República ao bem-estar dos cidadãos. As estatísticas confirmam essa relação. Desde José Sarney e seu Plano Cruzado, todos os presidentes foram bem avaliados nas pesquisas em épocas de bonança econômica e, da mesma forma, mergulharam na impopularidade quando confrontados com inflação, desemprego e recessão (veja o quadro). Um trabalho realizado pelos professores Gustavo Lana, da UFMG, e Renata Santana, da UnB, mostra que a oscilação de 1 ponto porcentual no PIB provoca uma variação de 5 pontos porcentuais na popularidade do governante. Ou seja: mantidas as previsões econômicas, o presidente Lula pode fechar o ano com índices de aceitação na casa dos 40% – patamar que ele tinha quando assumiu o governo, em 2003, em meio a uma séria crise de confiança.
Alan Marques/Folha Imagem |
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