Política
Presunção de culpa - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 26/03
Na tentativa de afrouxar o nó em que se enroscou ao dizer que, quando ministra da Casa Civil, aprovara um negócio milionário na Petrobrás com base em relatório incompleto, a presidente Dilma Rousseff complica a cada dia a narrativa do Palácio do Planalto.
É a tal história dos equívocos em série cometidos para tentar corrigir o erro de origem. A explicação dada por Dilma na semana passada se contrapôs à versão oferecida anteriormente pela presidente e pelo ex-presidente da Petrobrás para a compra da refinaria de Pasadena. Os dois disseram que o negócio foi feito porque na época pareceu bom.
Depois, a presidente resolveu pedir o afastamento de Nestor Cerveró da diretoria da BR Distribuidora. Não ficou claro o motivo. Ele foi o responsável pelo aludido relatório, cujas falhas a presidente disse ter tomado conhecimento em 2008. Levou seis anos para ser punido antes de ter sido promovido.
Ainda assim, fica a dúvida: foi demitido por que, se o negócio era bom segundo Graça Foster, Sérgio Gabrielli e vários integrantes do Conselho de Administração que aprovaram a compra e já se pronunciaram? Ficou parecendo que o Palácio do Planalto precisava arrumar um culpado e uma demissão para dar verossimilhança à sua versão.
Agora, a fim de evitar a criação de uma CPI para investigar a Petrobrás e desestimular a convocação de Graça, Gabrielli, Cerveró e mais o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, acusado e preso por suspeita de corrupção, o governo tenta criar uma atmosfera de intimidação geral disseminando versões segundo as quais congressistas teriam muito a perder se insistirem em mexer nesse vespeiro.
A manobra obedece à dinâmica de sempre: circulam histórias de que alguém ouviu dos ex-diretores que estão prestes a explodir ao molde de homens-bomba, dispostos a contar o que sabem e, com isso, envolver e constranger boa parte da República. Será verdade?
Em relação a Paulo Roberto Costa não há como conferir, pois ele está em poder da Polícia Federal. Corre na capital que seu poder e trânsito eram "gigantes" entre parlamentares de partidos governistas. Um tanto vago, mas o suficiente para amedrontar quem tem a temer.
Quanto a Nestor Cerveró, sua volta ao Brasil (está em férias na Europa) é aguardada para a semana que vem. Segundo um amigo parlamentar que conversou com ele, está absolutamente tranquilo, não dá o menor sinal de que pretenda explodir. Afastado da diretoria da BR, continua funcionário de carreira da Petrobrás e nessa condição voltará, conversará na empresa para tomar pé da situação e, se convocado pelo Congresso, irá prestar esclarecimentos.
Para repetir o que já disseram Sérgio Gabrielli e Graça Foster: que a compra da refinaria foi baseada em estudos técnicos bem fundamentados. Ou seja, vai desmentir a presidente da República, já devidamente desmentida pelo silêncio da atual e pelo pronunciamento do ex-presidente da Petrobrás.
A tentativa de impedir a criação da CPI pela via da intimidação não parece ser a estratégia mais inteligente para ninguém. Joga tanto o Legislativo quanto o Executivo na vala comum da suspeição geral. Parte do pressuposto de que todos são culpados até prova em contrário.
O governo, porque usa desse instrumento de chantagem para impedir a abertura de uma investigação no Parlamento. E o Congresso, pela ideia de que esse tipo de ameaça seja eficaz mesmo quando dirigida a deputados e senadores da oposição.
Pode dar certo, mas pode dar muito errado. Vai depender da disposição do Legislativo de aceitar ou não a regra do jogo em que é posto, a princípio, na condição de devedor com a faca no pescoço e convidado a compartilhar da lei da Omertá.
O governo tem maioria para impedir a CPI, com suavidade. Mas, pode acabar em minoria se insistir em atuar com brutalidade.
loading...
-
Cerveró Vai Responsabilizar Dilma Por Pasadena Em Depoimento
Imagem: Reprodução / Redes SociaisO ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, preso desde quarta-feira passada, vai prestar depoimento hoje (22), na Polícia Federal, sobre a polêmica compra da Refinaria de Pasadena, no Texas...
-
As Pedras De Graça Foster - Suely Caldas Estadão
"Não fica pedra sobre pedra", prometeu a presidente da Petrobrás, Graça Foster, em entrevista ao jornal O Globo, referindo-se às investigações sobre a desastrada compra da Refinaria de Pasadena, no Texas, por ela autorizadas com atraso de dois anos...
-
Caso Sério - Dora Kramer
O Estado de S.Paulo - 25/03 A ideia de usar a Petrobrás para fins políticos já podia ser identificada claramente no primeiro grande encontro do PT logo após a eleição de Luiz Inácio da Silva, no Hotel Nacional, em São Paulo. Nos bastidores travava-se...
-
Estranhas Transações - JosÉ Casado
O GLOBO - 25/03 Dilma tem a chance de iluminar obscuros negócios na Petrobras. A omissão significa riscos, como o de assistir à ‘delação premiada’ de escândalos na luta pela reeleição A Petrobras amplia seu espaço no noticiário policial....
-
Perguntas Não Respondidas Sobre A Petrobras - Editorial O Globo
O GLOBO - 25/03 O grave disso tudo é que se estabelece relação direta entre a farra de interferências políticas na estatal e perdas bilionárias em certos negócios A aberração das cifras em torno da compra de uma refinaria em Pasadena, Texas,...
Política