O Estado de S. Paulo - 14/07/2009 |
Parece promessa de bêbado, de que jamais voltará a pisar o chão de um boteco. Assim repetem os chefes de Estado em relação ao protecionismo. Todos eles o condenam e prometem fazer de tudo para garantir a abertura comercial. Mas o protecionismo avança. A cada reunião de cúpula, um dos itens assinados por todos os participantes é recomeçar as negociações da Rodada Doha, paralisada desde julho de 2008. Por insistência do presidente Lula, a reunião de cúpula do Grupo dos Vinte (G-20) que ocorreu em Londres, em novembro, garantia que até o fim de dezembro (mês seguinte) recomeçariam as negociações. Ficou o escrito pelo não escrito. Nem se mexeram. Desta vez, a cúpula do Grupo dos Oito (G-8), realizada na semana passada em Áquila, Itália, também se comprometeu não só a reabrir as negociações mas também a terminá-las em 2010. Paralelamente, o Grupo dos Cinco emergentes (G-5, composto por China, Índia, Brasil, México e África do Sul), em comunicado editado separadamente, concordou em que a retomada das negociações contribuiria para a recuperação da confiança. Dá para acreditar? O fato é que o protecionismo aumentou e não foi só em consequência da crise financeira. Os pretextos são os mais surpreendentes. A pandemia da gripe suína, por exemplo, disparou proibições de importação de carne de porco, mesmo se sabendo que a contaminação não é pelo consumo de carne suína. Alguns países chegaram a proibir a importação de qualquer tipo de carne. Às vezes, o protecionismo é bem mais sutil. O estancamento do crédito que se seguiu à quebra do Lehman Brothers aumentou a demanda pelas linhas que se mantiveram abertas. E, no entanto, muitos países, especialmente da Europa, proibiram os bancos locais de seguir emprestando para empresas e instituições de "países estrangeiros". É uma prática que passou a levar o nome de protecionismo financeiro. A Organização Mundial do Comércio (OMC), que atua como xerife planetário do comércio exterior, divulgou ontem um documento em que revela que 83 decisões de política econômica tomadas nos últimos três meses pela União Europeia e por outros 24 países contêm disposições restritivas ao comércio. O diário madrilenho El País avisa que a maioria dessas decisões corresponde ao que vem sendo chamado de "protecionismo de baixa intensidade", que vem embutido nos pacotes de estímulo à produção. Com protecionismo e tudo, a crise está provocando enormes estragos no comércio. As projeções da OMC são de que, em média, os países ricos vão perder 14% de exportações. E os países em desenvolvimento, 7%. Não dá para sustentar que, desta vez, os maiores emperradores de um acordo sejam os países ricos. A China e principalmente a Índia vêm sendo responsabilizadas pelo atual impasse. Ontem, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, observava que "é preciso enviar (ao mundo) mensagem clara e crível de que o protecionismo não é a resposta (à crise)". Teoricamente não há quem discorde disso. No entanto, na hora de tomar decisões (ou de omitir-se), prevalece a proteção aos interesses locais, porque dá mais voto e, mais que tudo, garante financiamento de campanha por parte dos sindicatos e dos grupos de lobby. Confira Olha o facão - O jornal The New York Times divulgou ontem que o presidente da Nova GMC planeja demitir mais de 400 executivos entre os 1,3 mil que possui hoje, o que dá 31%. Até agora, a tradição da GM foi manter seus executivos. Se, por uma razão qualquer, não serviam para o posto, outro lhes era oferecido. Mas em princípio ficavam na empresa. Se for confirmada, a demissão desses executivos será proporcionalmente maior do que a demissão de assalariados comuns. Em 2008, a GM tinha 74 mil funcionários nos Estados Unidos e até agora fechou 21 mil postos de trabalho (28%). |