Quem ficou sequelado com a bolinha na cabeça? Serra ou parte do eleitorado paulistano?
Política

Quem ficou sequelado com a bolinha na cabeça? Serra ou parte do eleitorado paulistano?


66% dos eleitores não crêem em Serra e acham que ele deixaria prefeitura para disputar Planalto
Josias de Souza
Josias de Souza

O último Datafolha trouxe uma boa e uma má notícia para José Serra. Eis a boa: o simples anúncio de sua candidatura catapultou-o do patamar de 21% para 30% das intenções de voto. Uma subida de nove pontos. Agora, a má: a maioria dos eleitores crê que Serra quer ser presidente da República, não prefeito de São Paulo.

Eleito prefeito em 2004, Serra abandonou a poltrona em ano e três meses depois, para concorrer ao cargo de governador de São Paulo, em 2006. Elegeu-se, mas empurrou para dentro de sua biografia uma mágoa que o eleitorado, segundo o Datafolha, não esqueceu.

De acordo com o instituto, 76% dos paulistanos lembram que Serra renunciou à prefeitura depois de ter assinado documento comprometendo-se a cumprir os quatro anos de mandato. Para 66%, ele procedeu mal. Na opinião de 70%, Serra não deveria repetir o gesto.

Pois bem. Há três dias, ao assumir-se como candidato, Serra voltou a prometer que, eleito em 2012, cumprirá a integralidade do mandato. “É mais do que promessa”, declarou. E quanto ao projeto presidencial? “Está adormecido. Pelo menos até 2016”, disse.

Os pesquisadores do Datafolha foram ao meio-fio na quinta e na sexta-feira, nas pegadas da entrevista de Serra. Para desassossego do tucanato, descobriram que 66% dos entrevistados não acreditam em Serra. Acham que ele vai abandonar a prefeitura novamente, para disputar o Palácio do Planalto em 2014.

Quer dizer: o grande desafio de Serra neste alvorecer de campanha será o de convencer os eleitores de que fala sério. Seus antagonistas, evidentemente, não hesitarão em esfregar-lhe na cara o passado que instila desconfiança na alma do eleitor.

Serra lidera a pesquisa em todos os cenários em que seu nome é mencionado. No quadro em que figuram os principais postulantes, o tucano amealha 30%. Em segundo, com 19%, surge Celso Russomano (PRB), candidato que o petismo tenta convencer a retirar-se da disputa.

Na sequência, aparecem na sondagem do Datafolha: Netinho (PCdoB), 10%; Paulinho (PDT), 8%; Gabriel Chalita (PMDB) e Soninha Francine (PPS), 7% cada um; e, segurando uma constrangedora lanterna, Fernando Haddad (PT), com esquálidos 3%.

Versão municipal de Dilma Rousseff, o novo “poste” de Lula é, entre os principais candidatos, o menos conhecido do eleitor. Apenas 41% dos entrevistados declaram conhecê-lo, contra 99% que dizem saber quem é José Serra. Significa dizer que, diferentemente de seu principal antagonista, o candidato de Lula entra na campanha como um jarro vazio –59% da plateia não sabe de quem se trata.

Até o dia da eleição, Haddad terá sete meses para encher o recipiente. Vai-se verificar, então, se o eleitor aprova ou não o conteúdo. O principal ingrediente será o apoio de Lula. Na cena nacional, funcionou com Dilma. Na seara municipal, o candidato tende a ser mais exigido. Em 2010, Serra perdeu a eleição. Mas prevaleceu em São Paulo –no Estado e também na capital.

Afora a aversão de parte do eleitorado paulistano ao PT, Haddad terá de vencer as estatísticas. Em março de 2010, Dilma também aparecia nas pesquisas atrás de Serra. Mas já era um “poste” conhecido por 86% dos eleitores, dos quais 59% sabiam que ela era a candidata ungida por Lula.

Neste março de 2012, além de ser bem menos conhecido do que Dilma, Haddad é identificado como apadrinhado de Lula por apenas 10% dos eleitores da capital paulista.

Outra diferença: Há dois anos, Dilma foi empurrada por um Lula dedicado à campanha em tempo integral. Hoje, o ex-soberano convalesce de um câncer na laringe, tenta reeducar a voz e talvez tenha de reduzir a presença nos palanques.

No mais, como informa o repórter Fernando Rodrigues, nenhum candidato saído de patamar tão baixo sagrou-se vencedor numa disputa pela prefeitura de São Paulo desde 2000. A cinco meses do início da propaganda de televisão, Haddad soma exíguos 3%.

Nessa mesma época, Marta Suplicy, a petista que prevaleceu na eleição de 2000, amealhava 32%. Em 2004, o vitorioso Serra beliscava 24% no mês de março. Em 2008, Kassab sagrou-se vencedor partindo de um patamar de 14% das intenções de voto.

O Datafolha testou os humores do eleitor num cenário enxuto, no qual foram apresentados apenas três candidatos: o tucano Serra, o petê Haddad e o pemedebê Chalita. O resultado foi: Serra, 49%. Chalita, 15%. E Haddad, 8%. Brancos e nulos somaram 22%. Não souberam responder 6% dos pesquisados.

Esse resultado faria de Serra um prefeito eleito no primeiro turno, já que o percentual atribuído a ele superaria a soma dos votos dos outros dois contendores. Ou seja: Lula e o petismo devem contar até mil antes de levar adiante a estratégia de retirar da disputa outros candidatos de partidos governistas.
Mais: a pesquisa mosta que, entre todos os candidatos, o preferido do vice-presidente Michel Temer parece ser o beneficiário natural de um eventual malogro de Haddad. Já coligado ao PSC, o PMDB assegurou a Chalita uma vitrine televisiva de, no mínimo, cinco minutos e meio. É tempo suficiente para que Chalita, com taxa de conhecimento de 52%, venda o seu peixe.

Assim, considerando-se os dados coletados pelo Datafolha, verifica-se que a eleição de São Paulo é, por enquanto, uma janela aberta para o imprevisível. O aparente favoritismo de Serra não faz dele um portento.

Basta recordar os números da última eleição, retirados do baú por Fernando Rodrigues. Em março de 2008, aparecia no topo do Datafolha, com 31%, Marta Suplicy. Em segundo, Geraldo Alckmin, com 23%. Kassab, que vinha em terceiro, com 14%, terminou vencendo a eleição. No segundo turno. Contra Marta.




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