Receita Um novo caso de sonegação no mercado de luxo paulista
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Receita Um novo caso de sonegação no mercado de luxo paulista


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Nos porões do luxo

A empresária Tania Bulhões, uma referência do mercado 
de decoração, é acusada de sonegação, uso de caixa dois
e lavagem de dinheiro. Até seus clientes podem se complicar


Fábio Portela

Fotos Edu Lopes e divulgação
AO ALCANCE DA MÃO
Tania mantinha um cofre em seu escritório. 
Dentro dele, a polícia achou 2,1 milhões de
reais em cheques e em maços de dinheiro

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A mineira Tania Bulhões, de 51 anos, passou boa parte de sua vida trabalhando para realizar o sonho de tornar-se uma referência para os ricos e célebres quando o assunto é decoração de interiores. Na juventude, aproximou-se das artes plásticas. Em seguida, viajou muitíssimo para a Europa, a fim de conhecer estilos e tendências. O amor também acabou lhe proporcionando um empurrão: ela se casou com o empresário Pedro Grendene, sócio da empresa de calçados que leva o nome de sua família. O arremate do projeto veio finalmente em 2005, com a inauguração de uma loja grandiosa no bairro paulistano dos Jardins. A Tania Bulhões Home funciona em um palacete com 3 000 metros quadrados. Oferece 18 000 itens, entre móveis, cristais, pratarias e ornamentos. Uma simples colher pode custar 98 reais. Estatuetas exóticas para mesa de centro chegam a 3 900 reais. Sofás são vendidos pelo mesmo preço de um automóvel zero-quilômetro. Tania formou uma clientela fiel e conseguiu o que queria: ter seu nome associado ao refinamento. Na semana passada, essa imagem foi abalada. Uma investigação revelou que a empresária se beneficiava de um esquema de sonegação.

Esse lado oculto de Tania foi descoberto pela Polícia e pela Receita Federal. Ela usava de uma artimanha para burlar o Fisco que já está se tornando clássica. Os artigos de luxo importados pela sua loja eram despachados diretamente para o Brasil, mas as notas fiscais faziam um caminho diferente: passeavam por empresas de fachada situadas em Miami, onde eram subfaturadas. Quando chegavam ao Porto de Vitória, no Espírito Santo, as notas fraudadas registravam apenas 30% do valor real dos produtos. Com isso, Tania pagava menos imposto do que deveria. O dinheiro sonegado engordava sua margem de lucro na operação. É exatamente o mesmo expediente que vinha sendo utilizado por Eliana Tranchesi, dona da loja de roupas de grife Daslu.

Na semana passada, após um ano de investigação sigilosa, a Polícia e a Receita Federal receberam autorização judicial para vasculhar o apartamento e a loja de Tania. Na garagem do apartamento, foi apreendida uma Mercedes-Benz S500 blindada, avaliada em 500 000 reais, que os policiais suspeitam ter sido comprada com dinheiro fruto de sonegação. Na loja, duas descobertas chamaram atenção: 1) a existência de um cofre no escritório da empresária onde estavam guardados 2,1 milhões de reais, dos quais 1,5 milhão em cheques e 600 000 em dinheiro vivo, em maços de 50 e 100 reais; 2) uma contabilidade paralela, com uma lista de clientes que não recebiam nota fiscal ou recebiam notas com metade do valor que pagavam, a chamada "meia-nota". A dinheirama encontrada no cofre sugere que Tania mantinha um caixa dois. Ela ocultaria esses valores das autoridades e usaria doleiros para enviá-los para fora do país. Já a contabilidade paralela indica que a empresária também deixava de pagar outros impostos, como o ICMS.

Os clientes que topavam levar mercadorias para casa sem exigir nota fiscal – e que recebiam bons descontos por isso, segundo testemunhas – têm motivos para se preocupar. A Receita Federal também quer investigá-los. Eles podem ser corresponsabilizados pela sonegação do ICMS cometida por Tania. Como a lista está repleta de artistas e celebridades, a próxima fase da operação pode produzir um pequeno escândalo na sociedade paulistana. A empresária ainda não comentou as acusações. Ela e o marido estão na França, aproveitando o verão europeu no balneário de Saint-Tropez. Como a polícia diz ter provas fortes da sonegação até 2007, sua loja continua aberta. Não se sabe se o esquema continuou funcionando nos últimos dois anos, quando a Receita apertou o cerco sobre importações fraudulentas. Ao regressar das férias, Tania deverá ser denunciada por crime contra a ordem tributária, descaminho, formação de quadrilha, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.




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