Resposta ao Dr. Paulo Estêvão sobre a Disciplina de Ciência Política
Política

Resposta ao Dr. Paulo Estêvão sobre a Disciplina de Ciência Política


O Dr. Paulo Estêvão, líder do PPM Açores e Vice-Presidente do PPM nacional, respondeu ao desafio que lhe lancei, fundamentando a sua posição contra a obrigatoriedade de uma disciplina de ciência política no âmbito do ensino secundário. A discussão começou aqui, seguiu para aqui e aqui. Continua agora com o presente post.

Mas, antes de mais, devo sublinhar o seguinte. Pareceu-me que, de forma algo precipitada, e com vista a enquadrar a sua resposta, o Dr. Paulo Estêvão revelou uma grande facilidade na emissão de juízos de valor, ao mesmo tempo que demonstrou possuir um vasto e intrigante conhecimento sobre a minha pessoa:

1) “O autor do “Activismo de Sofá” é um auto-assumido preguiçoso”;
2) “O seu exemplo de “Activismo de Sofá” não será o melhor exemplo comunitário…”;
3) “[O autor do Activismo de Sofá] abstém-se de dar o seu contributo na “vida real”;
4) “[O autor do Activismo de Sofá] passa a vida a desancar nos desgraçados dos políticos que lhe aparecem na frente. Mas que alternativa oferece o senhor à sociedade? Falta-lhe algum conhecimento ideológico?”
5) “O que lhe falta a si é o mesmo que falta a muitos dos nossos jovens. Garanto-lhe que não resolve isso com aulas de Ciência Política.”

Bem… Confesso ter ficado surpreendido com o tom despropositado de algumas afirmações, que facilmente podem ser entendidas como acusações. Fiquei surpreendido sobretudo tendo em conta o seu autor que, a propósito, não revelou uma grande facilidade na identificação de ironias no discurso - e.g. ponto 1) e 2). Terei entendido mal o tom geral do post? Não me pareceu, mas admito naturalmente ser esclarecido a este respeito.

De qualquer modo, vamos então ao debate de ideias, Dr. Paulo Estevão, que se quer caloroso, mas sem resvalar para afirmações que possam parecer excessivas. Centrar-me-ei na temática da disciplina de ciência política, abstendo-me naturalmente de responder às considerações que teceu sobre este blogue e o seu autor.

a) No que à balcanização do sistema de ensino diz respeito, tendo a concordar consigo, embora não tenha uma opinião solidamente formada a este respeito.

b) Quanto aos conteúdos da disciplina de ciência política existirem em disciplinas como educação cívica e história, tenho as maiores dúvidas. Com o mesmo raciocínio, em última análise, poderíamos quase dizer que os conteúdos da disciplina de Português estão dispersos por uma série de outras disciplinas. Por outro lado, como julgo que concordará, a transmissão eficaz dos conhecimentos de uma determinada área académica faz-se com um corpo global de conteúdos coerentes, e não com a sua “balcanização” (expressão sua) por diversas disciplinas.

c) Quanto ao facto de considerar perigosa a existência de uma “disciplina estatal de explicação da hermenêutica política”, parece-me um argumento pouco sólido à partida. Posso concluir da sua afirmação que duvida do carácter científico da ciência política? Ou duvida do carácter cientifico na elaboração dos programas escolares?
No primeiro caso, é naturalmente livre de ter as suas opiniões, mesmo que as referidas esbarrem no reconhecimento indiscutível, a nível nacional e internacional, da área académica da ciência política.
No segundo caso, com o referido raciocínio, deveremos também acabar com os conteúdos que diz já existirem nas disciplinas de história e educação cívica?

d) Sobre as orientações pedagógicas, a respeito da abordagem dos programas em algumas escolas e municípios deste país, tendo a não ser tão pessimista como o Dr. Paulo Estêvão. Mais uma vez, a irmos por aí, invalidávamos a existência de uma série de outras disciplinas ou conteúdos das mesmas. Não é isso que pretendemos, pois não?

e) Por último, relativamente à solução que apresenta para o desinteresse dos jovens – “uma atitude diferente de todos em relação à vida cívica” – parece-me um contributo um pouco modesto para a “vida real” (expressão sua). Se me permite, neste caso concreto, parece que afinal foi aqui o activista de sofá a tentar apontar soluções de política pública, não caindo portanto em aspirações algo vagas de mudança da realidade social.

Saudações



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