Revoluções 2.0
Política

Revoluções 2.0


De um momento para o outro, e sem que nada o fizesse prever, um amplo descontentamento popular tomou conta da Tunísia. E em pouco tempo, após fortíssima contestação nas ruas, o ditador que governava o país há 23 anos abandonou-o apressadamente. O efeito de contágio não se fez esperar. Os holofotes viraram-se então para o Egipto e, também em pouco tempo, um movimento popular nunca visto tomou as ruas exigindo a demissão do ditador que há três décadas governa o país. A insatisfação já se começou a fazer sentir noutros países da região, crescendo as expectativas sobre se poderá estar em curso uma onda de mudança no Norte de África e Médio Oriente.

Todo este fenómeno tem sido amplamente noticiado em todo o mundo e, como seria de esperar, é também este intenso acompanhamento que tem apoiado o avançar dos acontecimentos. Ou seja, a comunicação assume um papel central neste tipo de processos. Os actores sabem que é também na luta pela comunicação que se ganham e perdem estas batalhas. Nestes domínios, as revoluções tunisina e egípcia têm reflectido dinâmicas muito inovadoras.

Por um lado, importa destacar a cobertura televisiva impressionante que está a ser feita pela Al Jazeera. Disfarçando pouco o seu apoio às movimentações de protesto, a estação de televisão tem conseguido furar constantemente as diversas barreiras à comunicação que têm sido impostas pelos governos. Com correspondentes omnipresentes e com directos permanentes a acompanhar tudo o que se passa nas ruas, a Al Jazeera tem fornecido ao mundo a evolução dos acontecimentos passo a passo. Transformou de facto o que se passa no Cairo numa revolução em directo, onde pudemos assistir em tempo real ao que se passa no terreno.

Mas os media sociais trouxeram também grandes novidades. Uma vez que estas revoluções têm sido despoletadas sobretudo por jovens qualificados das grandes cidades em situação de desemprego, é nas redes sociais que estes encontram o meio privilegiado de contornar a censura governamental. À semelhança do que aconteceu no Irão em 2009, as revoluções tunisina e egípcia têm-se apoiado fortemente no Twitter, no Facebook e no You Tube. Tais ferramentas servem não só para os movimentos contestatários comunicarem entre si, reportando mutuamente o que vão encontrando no terreno, mas sobretudo para mostrar ao mundo o que se está a passar. Os relatos chegam em tempo real e na primeira pessoa, tornando um indivíduo com um telemóvel ou com um computador com acesso à Internet num poderoso actor do processo em curso.

A projecção que as tecnologias conseguem dar ao que se vai passando nos quatro cantos do globo não é uma problemática nova. No século XX, primeiro com a rádio e depois com a televisão, os meios de comunicação permitiram coberturas cada vez mais em cima do acontecimento. A evolução foi progressiva neste sentido, culminando com a cobertura exaustiva da guerra do Golfo pela CNN. A guerra em directo permitiu que todo o mundo experimentasse um imediatismo até então desconhecido na cobertura de conflitos.

Nos últimos anos, tal imediatismo não tem deixado de se aprofundar, suportado naturalmente por novos meios que se têm feito sentir noutras esferas do social. É isso que explica, se calhar sem surpresa, que estas revoluções sejam já apelidadas de revoluções Twitter, Facebook, You Tube e Al Jazeera. O papel que tais meios de comunicação têm tido no desenrolar dos acontecimentos é praticamente inquestionável. Como é evidente, não são eles que fazem as revoluções. Mas passou a ser quase impossível fazer revoluções sem eles.
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Artigo hoje publicado no Açoriano Oriental
(Imagem: Erum Haider)



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