Problemas na Grécia e na Síria preocupam, mas bem mais agourenta é a situação envolvendo hoje o Irã
Três crises assolam de momento o contexto internacional: Grécia, Síria e Irã. Cada uma, em seus termos, prenhe de consequências negativas.
A crise financeira da Grécia, se a esta altura já não parece mais ameaçar a sobrevivência do euro como tal, ainda pode causar sérios danos ao sistema bancário europeu.
Progressos recentes, como o vultoso empréstimo concedido ao país há dois dias, parecem afastar em alguma medida os cenários mais pessimistas, mas o desfecho do drama ainda é incerto. Entre esses efeitos, o contágio nas avaliações de outros países -como Portugal, Espanha, Itália e mesmo a França- pelas agências de risco. No caso da França, causa preocupação a hipótese de vitória de candidato como François Hollande, cuja plataforma vai na contramão das políticas de austeridade e redução do peso do Estado na economia, necessárias para o enfrentamento da crise.
O caso da Síria configura quadro interno de quase guerra civil.
Diferentemente da Líbia, país regional e politicamente algo isolado, a situação na Síria incide sobre seus vizinhos, como Iraque e Líbano.
Incide, também, sobre os interesses do Irã, pois pode cortar as linhas de suprimento que Teerã mantém, com apoio de Damasco, com o Hizbollah no Líbano, aliado certo no caso de conflito envolvendo Israel.
Não parece provável a repetição, no caso sírio, da ação militar ocorrida na pouco povoada e militarmente débil Líbia. A crise tende a arrastar-se, pois os revoltosos não estão em condições, pelo menos por enquanto, de derrubar o regime, mesmo com o apoio da Liga Árabe.
Bem mais agourenta é a situação envolvendo o Irã. As relações entre Teerã e a União Europeia se deterioram consideravelmente com as recentes sanções contra as exportações de petróleo iraniano.
Mais grave, contudo, é a escalada de tensões, carregadas de cunho bélico, entre Teerã, de um lado, e Tel Aviv e Washington, de outro.
Israel dá claras indicações da decisão de atacar instalações nucleares iranianas em futuro próximo.
Argumenta serem os próximos meses a última janela de oportunidade para um ataque, antes que algumas das instalações se tornem inexpugnáveis e mais próximas da capacidade de produzir uma bomba atômica.
A grande incógnita está em saber se os EUA viriam a deixar-se arrastar ao conflito. O governo Obama mostra de momento cautela, e procura mesmo conter os ímpetos mais agressivos de Israel.
Washington está consciente de que um ataque ao Irã provocaria fortes retaliações e incendiaria toda a região. Os efeitos sobre a economia internacional seriam catastróficos. O preço do petróleo, que já chegou a US$ 120 o barril por conta dos exercícios militares iranianos no estreito de Ormuz, poderia atingir níveis bem mais elevados. Abortaria a incipiente recuperação da economia norte-americana e acentuaria as tendências recessivas na Europa. Tal cenário não interessa à campanha de Obama pela reeleição -mas tampouco poderia ele ficar indiferente a um conflito que ameace a integridade de Israel.
Resta, portanto, torcer para que a crise iraniana não chegue a explodir em conflito armado, e que os EUA logrem, por meio de sanções e com o apoio dos europeus, evitar o pior.