Política
Roberto Pompeu de Toledo O fascínio do ão
VEJA - 05/03/2011
O novo estádio do Corinthians, em São Paulo, em tese destinado à abertura da Copa do Mundo de 2014, é por enquanto um rasgo de imaginação sobre um terreno baldio, mas já tem nome de guerra. O leitor adivinha qual é? Ai vai uma pista: o local escolhido é o bairro de Itaquera. Agora ficou fácil. O nome é Itaquerão, claro. Antes, os estádios precisavam ao menos ser construídos, para receber o enobrecimento do "ão" na última sílaba do apelido. Não mais. Não se sabe sequer quem vai pagar a conta do estádio, ou suposto estádio, do Corinthians, nem existe projeto definido. Mas o nome já lhe foi pespegado.
O uso do aumentativo para designar estádios de futebol começou com a inauguração, em 1965, do Mineirão, em Belo Horizonte - oficialmente Estádio Magalhães Pinto. mas desde o primeiro momento, e para sempre, Mineirão. Fazia sentido. O majestoso Mineirão, com capacidade para 130000 pessoas, nascia como o segundo estádio brasileiro, só atrás do Maracanã, "o maior do mundo". Dali em diante, a moda pegou, e a febre de construção de estádios que assolou o país, a partir do "milagre brasileiro" (não o do Lula, mas o do Médici), espalhou ãos pelo país afora.
Era uma questão de honra, para os governadores, construir estádios na capital do estado. A exemplo do caso mineiro, o governador que iniciasse as obras ganhava, por direito divino, o mimo de ter o nome emprestado ao do colosso. Mas as homenagens devidas ao governador, à cidade, ao estado e ao estádio não estariam completas se ao nome não se juntasse um apelido em que se engatasse um ão. Seguiu-se uma f1oração da qual constaram, entre outros, o Batistão de Aracaju (Estádio Lourival Batista, 1969), o Castelão de Fortaleza (Estádio Plácido Castelo, 1973), o Albertão de Teresina (Estádio Alberto Silva, 1976) e o Castelão de São Luís (Estádio João Castelo, 1982). Os estádios, assim como o próprio campeonato brasileiro de futebol, que chegou a abrigar quarenta clubes, em 1973, para agradar ao maior número de praças possível, íntegravam a estratégia panem et circenses do regime. Sendo que, no caso dos estádios, o circenses incluía um ão que convenientemente espelhava a grandeza da Pátria Grande concebida para embalar a fantasia dos brasileiros.
Tal era sua força que o ão se disseminou por cidades do interior. Em Presidente Prudente, interior de São Paulo, surgiu o Prudentão (1982), um entre muitos exemplos. Com o fim do regime militar, ou, antes, com o fim do milagre econômico e de sua contrapartida de Pátria Grande, transcorreram mais de duas décadas de seca na construção de estádios. Mesmo porque, nos centros mais óbvios, ou mais vistosos, sob o ponto de vista político, já tinham sido todos construídos. Mas não desapareceu a memória do ão. Quando, para os Jogos Pan-Americanos, em 2007, foi inaugurado no Rio de Janeiro o Estádio João Havelange, que apelido ganhou? O leitor não adivinha? Pista: fica no bairro de Engenho de Dentro. Claro: é Engenhão. No caso do eventual e futuro estádio do Corinthians, o apelido de ltaquerão prova que o ão sobrevive mesmo à moda recente de chamar estádio de "ar~na" (Arena da Baixada. Arena Baruen). E no entanto ...
No entanto, o inho é que melhor caracterizaria o brasileiro. Sérgio Buarque de Holanda escreveu, no clássico Raízes do Brasil (um pouco de erudição faz bem, especialmente ao amor, que se convence de estar falando coisa seria): ""A terminação inho, aposta às palavras, serve para nos familiarizar mais com as pessoas ou os objetos e, ao mesmo tempo, para lhes dar relevo. É a maneira de fazê-los mais acessíveis aos sentidos e também de aproximá-los do coração". A passagem está no famoso capítulo do "homem cordial", isto é, o homem regido pelo coração, que sena o brasileiro. Somos o país do Joãozinho, do amorzinho e da "Dilminha" (como a trata a mãe da presidente, ela também chamada Dilma). Somos a terra do jeitinho, do favorzinho e do probleminha. invocados sobretudo quando o jeito é complicado, o favor é grande e o problema insolúvel. Por esse caminho, para melhor se aninhar no coração dos brasileiros, o Mineirão deveria ser Mineirinho, o Castelão, Castelinho e o Batistão, Batistinha. Ocorre que estádios pertencem a outra esfera. Não foram feitos para cativar, mas para impressionar. Não pedem carinho, mas reverência, a si mesmos e a seus criadores. Cumprem no Brasil o que há de mais próximo ao papel das catedrais e das pirâmides, em outras épocas e lugares. Mesmo no caso de uma entidade que é puro espírito, como o propalado estádio do Cotinthians, o brasileiro é levado a considerar uma indelicadeza não chamá-lo de ão.
loading...
-
Aniversário
do Maracanã A origem do nome Maracanã vem do tupi-guarani que significa “semelhante a um chocalho”. Antes da construção do estádio, existia no local grande quantidade de aves vindas do norte do país chamadas Maracanã-guaçu, que emitiam sons...
-
Lula Rebate Ronaldo
Esta semana, Ronaldo disse que o Presidente Lula está dando uma força para o Corinthians construir seu sonhado estádio, indicando algumas empreiteiras. Hoje, o Presidente decidiu falar sobre o assunto:"Não indiquei ninguém. Desde 1963, o Corinthians...
-
Os Corintianos Já Chamam O Novo Estádio Do Corinthians De Lulão.
Com 68 mil lugares, novo estádio do Corinthians abrirá Copa 2014 - Portal Vermelho O novo estádio do Corinthians – que será construído no bairro de Itaquera, zona leste de São Paulo – será usado pela Confederação Brasileira de Futebol...
-
Lula Faz O Que Serra Não Fez: Corinthians Vai Abrir A Copa
Bye bye Serra forever Saiu na Folha Online: Abertura da Copa será no novo estádio do Corinthians, em Itaquera EVANDRO SPINELLI DE SÃO PAULO O estádio do Corinthians, que será construído em Itaquera (zona leste da cidade de São Paulo), será...
-
Por Falar Em “viver Acima Das Nossas Possibilidades”
Como é sabido, grande parte dos estádios construídos para o Euro são monumentos à mania das grandezas terceiro-mundista que tanto nos caracteriza. Só pegando em alguns exemplos, o Estádio do Algarve serve para lá se ir fazendo uns eventos giros,...
Política