Não é todo dia que uma brasileira faz sucesso no polo norte. Mas Marta Vieira da Silva é uma profissional competente e respeitada no esporte sueco.
Esta semana, ela esteve, mais uma vez, na TV local. Foi no «Rakt på», algo assim como «Direto em cima», um programa de entrevistas no canal de televisão pública SVT2. Marta foi um dos dois convidados principais do entrevistador, o respeitado jornalista K-G Bergström. O outro entrevistado foi o ex-primeiro ministro Göran Persson.
Duas vezes melhor jogadora de futebol do mundo, a jovem alagoana de 22 anos, atleta do Umeå, tem a mesma idade da minha filha e é uma estrela aqui. E, como minha filha é o meu xodó, Marta deve ser também o orgulho da mãe dela.
Porque a jovem vencedora chegou à Suécia sozinha, aos 17 anos, no meio do inverno de 2004, para enfrentar uma vida totalmente nova. E, sem dúvida, ela não contou, como eu, com as benesses de uma família que tinha recursos para prepará-la para essas aventuras.
Marta teve uma infância pobre no Brasil. Mas, pela entrevista, deu para ver que ela, sim, deve ter tirado do amor da família e do calor humano das Alagoas sua força, sua garra e vontade de vencer. Que, às vezes, a levam a situações difíceis, como a agressão a outra jogadora em uma partida recente. Questionada, Marta responde com seu belo sorriso e, num sueco de bom nível, explica seu temperamento explosivo, que ela tenta controlar.
A atleta, tema de livros e documentários, é adorada por aqui. O Umeå Esporte Clube (Umeå IK) ganhou o campeonato nacional e, na partida final, ela fez seis gols! Só que, hoje, Marta chorou na televisão.
Foi quando o entrevistador K-G Bergström perguntou detalhes sobre sua infância, que Marta não agüentou e deixou as lágrimas rolarem. Eu chorei junto, é claro! Admiro muito Marta! E vê-la na TV me dá uma satisfação enorme. Por várias razões.
Marta se mostra por inteiro, em sua brasilidade, emocionada e emocionante. Com seu jeito simples, ela responde à pergunta sobre uma possível mudança para Los Angeles, de maneira meio desconcertante para a secularizada sociedade sueca:
- Não sei. Costumo deixar meu futuro nas mãos de Deus.
O que é o pior da Suécia para a jogadora? O inverno. E andar de esqui não resolve o problema, já que ela, como eu, parece também não conseguir fazer as curvas com aqueles trecos nos pés.
O melhor da Suécia para Marta Vieira da Silva? Os amigos que fez aqui e o apoio dos torcedores.
É isso aí, Marta! Difícil não se identificar com você! Desejo-lhe muito sucesso, aqui, lá ou acolá!
Leitora do blog, Sandra Paulsen, casada, mãe de dois filhos, é baiana de Itabuna. Fez mestrado em Economia na UnB. Morou em Santiago do Chile nos anos 90. Vive há quase uma década em Estocolmo, onde concluiu doutorado em Economia Ambiental.