Carlos Rydlewski e Benedito Sverberi
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VISOR MÁGICO O aplicativo do Google dá o preço dos imóveis e informações turísticas de uma região: em busca de espaço no mercado |
Não há em toda a rede uma engrenagem de distribuição de softwares tão monumental quan-to a criada pela Apple para abastecer o iPhone, hoje o carro-chefe da empresa. Com nada menos que 100 000 aplicativos disponíveis para download - oito vezes o que dispõe o Google, seu concorrente mais próximo -, ela oferece de tudo: GPS, música, livros e jogos, além de uma lista, digamos, menos convencional, que inclui programas voltados para a produção de cardápios saudáveis e outros cujo objetivo é acionar o ar-condicionado do carro ou de casa a distância - com um simples toque na tela do celular. Há até programas adequados às peculiaridades de diferentes países, a exemplo de alguns dos que aparecem abaixo, concebidos para o mercado brasileiro. Desde julho do ano passado, quando a loja virtual App Store foi aberta com o propósito de disponibilizar tais aplicativos - parte deles à venda, outros gratuitos -, mais de 2 bilhões já foram baixados por gente de 77 países, patamar jamais visto em tão curto espaço de tempo. Diz o especialista Thiago Burgers, da consultoria Integration: "A evolução aí é ter literalmente na palma da mão uma gama tão variada de serviços".
A Apple não é a precursora no negócio de aplicativos. Gigantes como a Research in Motion (RIM), fabricante do BlackBerry, e a Palm já exploram esse mercado há quase uma década. O grande avanço da empresa de Steve Jobs foi conceber uma loja virtual em que é fácil navegar e baixar os softwares. Além disso, ela consegue reunir em torno de si um número extraordinário de colaboradores. São 125.000 desenvolvedores de softwares espalhados pelo mundo - 4.800 deles no Brasil. Esse grupo, composto majoritariamente de pequenos inventores, é atraído por ferramentas para a criação de programas que primam pela simplicidade. Apesar de nem tudo o que surge daí ser útil ou relevante, é esse exército que garante, afinal, um alto índice de inovação. Há outra vantagem decisiva nesse sistema: o custo para manter a rede de colaboradores é zero. A Apple só ganha. Ela pré-seleciona os aplicativos e os expõe na loja virtual. Entre aqueles vendidos, embolsa 30% - enquanto o restante do dinheiro vai para os programadores. Pesquisa da consultoria americana Juniper Research dá conta de um faturamento de 350 milhões de dólares para a empresa de Jobs com tais softwares. É pouco diante de uma receita anual de 36 bilhões de dólares - mas trata-se de um mercado novo e com perspectivas de crescimento expressivo. Segundo a Juniper, em cinco anos a venda de aplicativos somará 25 bilhões de dólares.
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APPLEMANIA Loja na Quinta Avenida, em Nova York: a marca é decisiva para atrair clientes para a internet |
São números vistosos que fazem acirrar a concorrência no mercado. Além da RIM, da Palm e de outras grandes fabricantes de smartphones, como Nokia e LG, cogitam ingressar no páreo gigantes como a Microsoft e a Intel, a maior produtora mundial de chips. A principal ameaça à Apple, no entanto, vem do Google, que já conta com o sistema operacional Android, desenvolvido para celulares. Está sendo adotado por um crescente número de fabricantes - ao passo que a Apple se restringe ao iPhone. O site de buscas é também especialista na prestação de serviços como e-mail e localização por mapas. "A base para a criação de aplicativos já está montada, o que é uma enorme vantagem competitiva para o Google", avalia Lorenzo Mendoza, da AgênciaClick, voltada para a internet. Tudo isso sinaliza uma reviravolta no mercado de aplicativos. Hoje, a Apple responde por 70% dele. Em 2014, essa fatia tende a minguar para 20%, segundo um estudo conduzido pela consultoria inglesa Ovum.
Para obterem relevância no segmento de softwares de celulares, porém, resta aos adversários da Apple inventar um aparelho que ganhe o terreno já conquistado pelo iPhone. Foram vendidos até hoje ao redor de 50 milhões deles no mundo inteiro. Eles estabeleceram um novo padrão de comportamento no uso de aparelhos portáteis. Nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, as pessoas já passam mais tempo às voltas com jogos, mensagens de texto e internet no celular do que propriamente fazendo ligações. A atual disseminação dos softwares para celulares acentua essa tendência de maneira decisiva. Resume a americana Katy Huberty, analista do banco Morgan Stanley: "Há muito tempo não se via no campo da tecnologia uma transformação tão radical quanto a deflagrada agora pela difusão dos aplicativos. E esse é só o começo".