Vinicius Torres Freire Mentirinhas da revolução
Política

Vinicius Torres Freire Mentirinhas da revolução




Ocidente morre de medo da revolta no Egito; mídia comemora "redes sociais", mas censura Al Jazeera



HÁ TANTO riso, ó, tanta alegria com a revolução no Egito, mas também pouco siso e, ó, tanta hipocrisia. É repulsiva de farisaica a atitude ocidental em relação ao caso egípcio, tanto na política como na interpretação do tumulto. Senão, vejamos.
1) Houve tanta falação deslumbrada a respeito de mais uma revolução "twittada" ou "facebookeada", agora essa do Egito. Todo mundo tão animado com essa modinha, esse clichê autocentrado, etnocêntrico e ignorante sobre revoluções digitais, tão animado com as "possibilidades das novas mídias", blablablá, mas as grandes operadoras de TV nos EUA e no Brasil, ao menos, não oferecem o serviço da Al Jazeera, aliás empastelada no Cairo.
Essa TV é feita por gente que entende mais de árabes do que quase nós todos, que vai a lugares que não são frequentados por ocidentais, que fala a língua de quem faz a revolução, quando não são seus parentes ou amigos. Tanta conversa mauricinha sobre "novas mídias" e, no fim das contas, há censura velada de a velha mídia da TV, a censura das transmissões da Al Jazeera, cassação político-comercial de um ponto de vista diferente, o árabe;
2) Qual foi a atitude do governo do progressista Barack Obama no início do tumulto no Egito? Apoiar o regime do ditador e patrocinador de torturas, repressões e corrupções Hosni Mubarak. Obama e cia. baixaram um pano rápido diante dessa vergonheira quando perceberam que Mubarak não se aguentaria nas pernas. Mas já dera o vexame. Enfim, eles se torcem de medo que aquele povo que vive ali perto demais da Europa e em torno dos poços do petróleo balancem o coreto para valer. É o óbvio. Mas é bom ressaltar o vexame, aliás mais um do progressista de fancaria Obama;
3) Por falar em imposturas, Nikolas Sarkozy, disse que o "risco" de partidos islâmicos ganharem a eleição não é desculpa para proibir eleições no Egito. Uhm. Em 1990 e 1991, a Frente Islâmica de Salvação (FIS) ganhou as primeiras eleições livres na Argélia. Em 1991, levou 82% do parlamento. E então vieram o golpe militar e massacres do pessoal da FIS, golpe com o apoio quase indisfarçável da França, que depois viria a ser vítima de ataques terroristas de garotos árabes orientados por islamistas fulos com os franceses;
4) A elite e os burocratas corruptos da autocracia egípcia e o establishment euroamericano estão doidos para se livrar de Mubarak e tocar tudo como dantes no quartel;
5) Aparentemente, o estopim da revolta egípcia foi a falta de pão, paz e liberdade num país desigual e cheio de jovens irados e sem futuro. Semanas antes das revoltas no norte da África, a elite político-midiática ocidental voltara a falar da "inflação das commodities", sobre as "reformas de mercado" que melhorariam a oferta de comida no mundo pobre etc. Como em 2008, no outro pico da inflação da comida, quando o neocon bushista Robert Zoellick se candidatou ao Oscar de demagogia ao aparecer num palco segurando de braços abertos um pão e um pacote de arroz em um encontro do Banco Mundial, que preside. O pão é caro ou inexiste no mundo pobre entre outros motivos devido aos subsídios vergonhosos que Europa e EUA dão a seus agricultores. Alguém aí tem ouvido alguma coisa sobre a falta de pão no Egito? Falam de petróleo, Suez, Israel, islamistas loucos etc.

[email protected]



loading...

- A Hipocrisia Do Ocidente
Robert Fisk é correspondente do jornal britânico The Independent no Oriente Médio.  Artigo extraído do site Carta Maior. Quando os árabes querem dignidade e respeito, quando gritam por seu próprio futuro que Obama assinalou em seu famoso –...

- O Paradoxo Egípcio - Editorial O EstadÃo
O Estado de S.Paulo - 07/12 A Irmandade Muçulmana, a mais antiga organização civil do Egito, teve participação periférica e tardia na revolta que sacudiu o país em 25 de janeiro do ano passado e em meros 18 dias derrubou o ditador Hosni Mubarak,...

- O Despertar árabe E Israel - Thomas L. Friedman
O Estado de S.Paulo - 01/12/11 Netanyahu tem motivos para preocupar-se com a Primavera Árabe na região, mas não pode se abster de agir diante de um despertar palestino em seu quintal Israel enfrenta o maior desgaste de sua situação estratégica...

- DemÉtrio Magnoli Culturas E Ditaduras
O Estado de S.Paulo - 17/02/11 "Mudamos nosso destino. Foi uma conquista da nossa geração." Em meio ao júbilo que tomou as ruas do Egito, um manifestante explicou que eles se sentiam "acima da Lua". As imagens da explosão de euforia tiveram impacto...

- Tempestade No Deserto:: Míriam Leitão
O Egito magnetiza o mundo porque é um dos mais complexos fatos contemporâneos. Não há uma única explicação simples. Tudo é espantosamente complicado quando se tenta entender causas e consequências. Eventos que aparentemente não estão ligados...



Política








.