Vitória ou Morte (o Massacre de Nanquim)
Política

Vitória ou Morte (o Massacre de Nanquim)



O slogan “filmes que não terminam quando acabam” não poderia ter melhor aplicação. O melhor filme exibido no Indie Lisboa não esteve a concurso; mas no folheto de apresentação é alvo de remoque por ter sido “analisado pelos censores chineses por recusar uma visão simplista dos militares japoneses”. Vendo a obra, de uma rigorosa reconstitução histórica que em meios nada fica a dever aos blockbusters de Spielberg, não se percebe o porquê da idiotice implícita na observação. Trata-se de um épico hino ao nacionalismo chinês. Premiado como o melhor no Festival de San Sebastian, a “Cidade da Vida e da Morte” (City of Life and Death) passa-se em 1937 quando o Exército Imperial do Japão tomou Nanquim, a antiga capital da China situada na foz do Yangtzé.

O filme realizado por Chuan Lu (Hong Kong, 2009) começa com o assalto à muralha pela Porta de Zhonghua. Quando a cidade finalmente caiu, o exército japonês chacinou e violentou a população vencida e os soldados que se renderam, de forma descomunal. No meio do caos, um pequeno grupo de ocidentais reuniu-se para estabelecer uma zona de protecção para os refugiados, onde mais de 200 mil chineses encontraram refúgio. Desarmados, esses missionários juntos com a burguesia local que tinha concertado e facilitado a invasão à espera de favores dos ocupantes, entre os quais o delegado nazi John Rabe, acabariam também por não ser poupados à carnificina.

Centenas de mulheres foram violadas e mortas. O episódio, que ficou conhecido como o Massacre de Nanking, de acordo com posterior julgamento do Tribunal Militar para o Extremo Oriente (1945), causou nas primeiras seis semanas de ocupação japonesa entre civis não combatentes e prisioneiros de guerra, mais de 260 mil vítimas registadas. Somando os desaparecidos, enterrados vivos e queimados dentro de locais de refúgio em igrejas e armazéns, segundo o memorial erigido na actual Nanjing totalizariam 300 mil.



Como se pode ver pelos documentos da época, as insígnias das fardas de alguns prisioneiros são das forças militares do Kuomitang, o partido conservador liderado por Chiang Kai-Shek, inimigo fidagal do Partido Comunista, fundado na China em 1921.

Inspirados pela Revolução Russa de 1917 os povos oprimidos de todo o mundo levantam-se. É preciso recuar no tempo para se integrar a história na China dessa época, quando as pessoas morriam inanimadas de fome nas ruas. Acontecia há apenas 80 anos.
O Kuomitang foi fundado pouco depois da dissolução da monarquia da dinastia Quing em 1911, uma luta liderada pelo general Sun Yat-Sem contra a anarquia no processo de unificação da China onde até aí imperavam os senhores da guerra que governavam em regime de feudos locais. (episódio narrado em "O Último Imperador" de Bertolucci). Em 1926 a vitória das forças republicanas tornou-se evidente, mas, por pressões politicas exteriores, o Exército Popular de Libertação da China, liderado pelo Partido Comunista não foi aceite como interlocutor no processo de democratização. Tal facto provocaria uma longa guerra civil.
Em 1932 parte da burguesia nacional apelou à intervenção do Japão contra “o perigo comunista”, estabelecendo-se na região noroeste da Manchúria um Estado-fantoche. Aproveitando a traição, as ambições imperialistas dos japoneses não se confinaram ao controlo do Estado na região norte que os invasores denominaram de Manchukuo (de etnia Manchu, conquanto a maioria da população fosse da etnia chinesa Han). O Japão avançou China adentro, fazendo tábua rasa dos acordos feitos com os traidores nacionalistas e perpretando novas atrocidades. Depois de perder a batalha de Shangai, Chiang Kai-Shek sabia que a queda da capital Nanking era uma simples questão de tempo. Aconselhados por consultores da Alemanha Nazi, temendo a aniquilação, o exército nacionalista do Kuomitang recuou para as regiões no interior da China onde continuaram a guerra contra o comunismo. Entretanto, suprema humilhação para a China, o Japão celebra a vitória na capital:



Como gritavam os prisioneiros frente aos pelotões de fuzilamento: a China não morrerá!



Com a 2ª grande guerra mundial reacendeu-se o conflito Sino-Japonês. Com Chiang Kai-Shek desacreditado como traidor da pátria, a luta de libertação passou a ser liderada pelo Partido Comunista em completa sintonia com a maioria da população. Em 1945 o Japão é derrotado, convertendo-se num Estado dependente cuja Constituição foi redigida pela potência ocupante.

Em 1949 Mao Tsé-Tung proclama a República Popular da China com nova capital em Pequim, refugiando-se as já reduzidas forças nacional-conservadoras na ilha chinesa de Taiwan, onde fundaram outro Estado-fantoche, desta vez sob a égide imperialista dos Estados Unidos.
Cinco anos depois de terminada a grande guerra, em 1950, 300 mil soldados do Exército Popular da China atravessam a fronteira com a Coreia a partir da província da Manchúria para expulsar da parte norte do país as forças de ocupação estrangeiras lideradas pelos Estados Unidos. A Guerra anti-imperialista da Coreia, com receio do lançamento de novas bombas atómicas, culminou num armisticio que determinou a divisão do país em duas partes, uma détente que ainda se mantém na actualidade. Do mesmo modo, a devolução da província de Taiwan, ocupada e subtraída à jurisdição da China, é outro problema que se mantém em aberto
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