Política
Vozes ao ouvido - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 13/10RIO DE JANEIRO - Céu e mar estão competindo pelo azul nesta primavera carioca -um azul de tinteiro, de caneta Parker, de Technicolor dos anos 50. Todas as manhãs, o calçadão Ipanema-Leblon transborda de gente contente por apenas estar ali, exercendo o seu direito de viver. É gente de várias extrações, idades, cores, línguas e de todos os estilos de caminhar ou correr. A exceção é a minoria que, indiferente ao azul, caminha atracada ao celular, o cenho franzido, discutindo coisas inadiáveis.Minoria na orla, mas maioria ao redor. No próprio calçadão, já vi um "homeless" em andrajos, sentado na escadaria do Leblon, falando ao celular. Sentei-me ao seu lado como quem não quer nada, tentando ouvir retalhos da conversa. O fulano falava numa língua que eu não entendia, talvez português. Tudo bem, o importante era o mendigo falando ao celular -o meio era a mensagem.Há pouco, num shopping, um menino de quatro ou cinco anos levava ao ouvido um ursinho de pelúcia. Não sei se o ursinho tinha um celular embutido. Podia ser como o menino enxergava os adultos -todos com um objeto à orelha- e achasse que aquela era a maneira de usar o mundo.Não seria uma visão absurda. Descendo no Santos-Dumont na semana passada, eu era o único passageiro na "boarding bridge" ("finger", em português) sem o telefone ao ouvido. Em vez disso, trazia na mão um objeto outrora tão popular quanto o celular: um livro. Por acaso, uma edição de bolso do clássico "Memórias de um Sargento de Milícias".Instintivamente, repeti o gesto de todo mundo e levei o livro à orelha. E, então, deu-se o milagre. Escutei a voz de Leonardo, do Vidigal, da saloia Maria Regalada e dos outros anti-heróis de Manuel Antonio de Almeida. Vozes vindas de um tempo remoto -o tempo do rei-, mas que chegavam a mim com incrível nitidez.
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