Política


Petróleo por Alimentos

Afinal foi sob esta sigla que se aplicou a receita a partir da qual o primeira versão Bush de 1990 fez vergar o Iraque aos seus designios. A mesma receita parece ser agora começada a aplicar ao resto do mundo. Porém, a imprensa corporativa continua a dar voz a “especialistas”, como Bert Metz, que culpam o aquecimento global, as alterações das espécies florestais que florescem mais cedo, etc. pela onda de fome que paira sobre o planeta; afinal, deturpando e contradizendo os próprios relatórios dos organismos oficiais a que são afectos.

Os preços dos produtos alimentares no mundo inteiro subiram cerca de 75 por cento nos últimos dez anos, revelou o Global Economie Prospects 2008. Esta subida em flecha deveu-se em parte à utilização cada vez maior de biocombustíveis e em parte a outros factores , como um rápido aumento de rendimentos nos paises em desenvolvimento, o aumento do preço dos fertilizantes, stocks alimentares insuficientes e secas.
É de prever que esta tendência se mantenha, porque a produção a partir de biocombustíveis continua a reforçar-se, respondendo aos imperativos do consumo e aos subsidios governamentais. Muitos países liberalizaram ou deixaram de controlar os preços dos produtos alimentares. As nações mais pobres “sentirão pressões” para controlarem os preços ou reintroduzirem programas oficiais de assistência aos necessitados, o que fará regredir as reformas liberalizantes e “desagradará ao sector privado”. Confirmando esta tendência, a Venezuela e a Rússia impuseram recentemente esse controle, segundo a revista “The Economist”.

Nos Estados Unidos verificou-se uma redução da área de plantação de oleaginosas, em favor do milho, usado para a produção de etanol, um combustível “limpo”. Esta produção duplicou desde 2003 e aumentará de cerca de 55 milhões de toneladas, equivalentes a um quinto da produção de milho em 2006, para 110 milhões de toneladas, ou 32 por cento, em 2016, segundo a Agricultural Outlook 2007-2016, o relatório conjunto da FAO e da OCDE. Logo, isto não é uma situação tão recente assim. Resulta de medidas tomadas anteriormente, como a do acordo do etanol feito entre Bush e Lula, a que se soma agora a especulação financeira dos capitais fugidos da crise do subprime.

Alimentos, a Morte e o Dolar

Trocado por miúdos, significa que começou o silencioso assassinato em massa nos paises subdesenvolvidos. Começou no México com a “guerra da tortilha” em Janeiro de 2007. Seguiu-se a Itália com a “greve do spaguetti” nove meses depois. Depois converteu-se numa onda imparável. Os protestos contra a alta de preços dos alimentos sucederam-se no Haiti, Mauritânia, Yemen, Filipinas, Egipto, Bangladesh, Indonésia, Marrocos, Guiné, Moçambique, Senegal, Camarões e Burkina Faso. Entre o desespero e a raiva, no mundo de hoje há mais fome que havia, provocando saques e roubos nos campos, em mercados e lojas; caos, pilhagens e incêndios. Muitos governos respondem com detenções arbitrárias, assassinatos e torturas. No Paquistão e na Tailândia o exército patrulha as ruas. Os gigantes retalhistas, Wall Mart e Costco, racionam a venda de arroz. Em 593 lojas “Sam’s Club” na terra da abundância (o quarto maior exportador mundial) limitam as compras a 4 quilos dia por pessoa. Perante um mundo onde as crianças passam fome, Fidel Castro pergunta: “Eles falam do fracasso do socialismo, mas onde está o sucesso do capitalismo em África e na maioria dos paises pobres?”, ou até, acrescente-se, em amplas camadas de população mais desfavorecidas no seio dos paises ricos.

O Banco Mundial prevê que a alta de preços continue pelo menos durante os próximos sete anos. Outras nações exportadoras como o Vietname, Índia e Brasil proibem temporariamente as exportações. O governo da China, para assegurar a aquisição de cereais, compra terras em África e na América Latina.
"Os dados são bem eloqüentes. No ano de 2005, pagávamos para importar uma tonelada de arroz US$250; agora pagamos US$1.050, quatro vezes a mais. Por uma tonelada de trigo pagávamos US$132; agora pagamos US$330, duas vezes e meia a mais. Por uma tonelada de milho pagávamos US$82; agora pagamos US$230, quase três vezes mais. Por uma tonelada de leite em pó pagávamos US$ 2.200; agora US$ 4.800. É uma situação perversa e insustentável". Assim expressou o vice-presidente cubano Esteban Lazo ao intervir na “Cimeira Alimentos para a Vida”, realizada recentemente em Manágua.

Economia

4 meses depois deste post, o Expresso e outros meios de difusão noticiosa deturpada, descobrem que existe uma crise no preço dos alimentos, (e também, da energia, da habitação, nos juros do dinheiro, etc.) mas não nestes termos:
A crise alimentar global é um fenómeno monetário, uma consequência não prevista do intento dos EUA de encontrar um caminho de saída para o fracasso do mercado livre. Há motivos a longo prazo para o aumento dos preços dos alimentos, porém o objectivo sem precedentes dos preços inflacionados dos cereais que começou o ano passado, é proveniente da debilidade do dólar norte americano. A miséria económica de Washington ameaça agora converter-se numa catástrofe geopolítica. (ler mais)
Mas o pior da crise não está definitavamente ultrapassada. O pior ainda está para vir. O falso estatuto atribuido ao “pico do petróleo”, a especulação bolsista no negócio dos alimentos, grandes pacotes estatais de estimulo de efeitos praticamente nulos, expulsão dos agentes débeis do acesso ao crédito, estagnação e inflacção, e os efeitos que tudo isto junto provocarão em Wall Street – afinal será esse o “problema grave que a humanidade tem entre mãos (...) que estão a levar os animais a alterar as suas migrações”, segundo a patusca terminologia do jornalista Victor Ferreira dando à estampa (Público 16 de Maio) a opinião do tal articulista holandês Bert Metz, afinal um expert da variante americana, o AlGorerítico IPCC
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