Política
"Cuba, uma Odisseia Africana" cinematografia 4 análise política 5
Numa altura em que as ameaças do regime bushista a Cuba crescem de tom o documentário de Jihan El Tahri, produzido pelo Canal Arte e pela BBC entre outros, vem relembrar o importante papel de Cuba na libertação dos povos africanos. Exibido agora nas catatumbas do DocLisboa, provavelmente nunca mais será exibido neste mal frequentado canto esconso da Europa
"Com os pobres da Terra quero minha sorte lançar" José Marti
Como uma das primeiras nações a apoiar o Movimento dos Não Alinhados (com as duas superpotências – USA-URSS), que culminaram na Cimeira de Argel, a Cuba revolucionária desde sempre apoiou os movimentos de libertação africanos visando a independência dos países subjugados pelo colonialismo em África – inserem-se nessas politicas o apoio a jovens revolucionários como Patrice Lumumba, Amilcar Cabral ou Agostinho Neto. Acabaram todos assassinados, Lumumba por um golpe da CIA (como reconheceu o agente Larry Devlin) que entronizou o ditador pró-ocidental Mobutu, Cabral pela policia politica portuguesa, ou mortos em circunstâncias ainda por esclarecer como foi o caso de Ben Barka, o anfitrião argelino na Cimeira onde esteve presente Che Guevara - de onde proferiu o seu famoso "Discurso aos Povos de Todo o Mundo" que continua a galvanizar milhões de pessoas em todo o mundo - apesar das funcionárias comichões da "Hiena Matos"
Há, nos arquivos norte americanos, um documento interessante: os registos de uma longa conversa de Fidel em1978 com dois emissários do presidente Carter. Tinham vindo exigir-lhe que Cuba retirasse as suas tropas de Angola - ameaçada pelos racistas de Pretória - e deixasse de ajudar os movimentos de libertação do Zimbábwe, Namíbia e África do Sul. Se Cuba acatasse, as ordens solicitadas, então os Estados Unidos poderiam afrouxar as suas políticas e levantar o embargo contra Cuba. Fidel respondeu-lhes: "Estamos profundamente irritados, ofendidos e indignados pelo facto de, durante 20 anos, (presentemente já vão em 40) os senhores terem usado o bloqueio para nos pressionar e exigir coisas de nós (...) Talvez deva acrescentar algo mais. Quero que os senhores não se equivoquem - não nos podem pressionar, corromper ou comprar (...). Talvez, por serem os Estados Unidos uma grande potência, pensem que podem fazer tudo o que lhes dá na gana, contudo, cremos que é profundamente imoral que os senhores utilizem o embargo como uma maneira de pressionar Cuba. Espero que a história seja testemunha da vergonha dos Estados Unidos que, durante 20 anos, não permitiram a venda a Cuba de medicamentos necessários para salvar vidas. (...) A história será testemunha da vossa vergonha"
Fidel tinha enviado os seus 450 mil soldados (um número extraordinário considerando a pequenez do país) porque sabia que a vitória do Eixo do Mal - Washington e Pretória - teria significado a vitória do Apartheid, o reforço do domínio branco sobre os povos da África austral. Quando a guerra chegou a um impasse na Batalha do Cuito Cuanavale, as forças cubanas poderiam se quisessem entrar pela África do Sul adentro e pôr termo de vez ao tristemente célebre regime racista na África do Sul. É neste contexto que surge a aflição de Cárter ao enviar os dois emissários a Havana. Anos mais tarde, as palavras de um amigo, Nelson Mandela, quando visitou Havana em julho de 1991 reconheceram-se o esforço internacionalista: "Viemos aqui com o sentimento da grande dívida que contraímos com o povo de Cuba." Que outro país tem uma história de grande altruísmo como o que Cuba manifestou em suas relações com a África?
Há uma canção de Silvio Rodríguez que diz: "A Nicarágua lhes causa dor porque o amor lhes causa dor" Aos Estados Unidos, Cuba causa dor e muita. Dói-lhes porque os venceu, os humilhou. Por certo, não foram agressões cubanas. A Baía dos Porcos e Angola, foram agressões dos Estados Unidos, contudo o império soberbo nunca a perdoou. E vinga-se como pode, é a vergonha do cobarde: com o infame bloqueio, para destruir as conquistas da Revolução Cubana – o sonho do acesso de todos os povos à saúde e à educação - e tratando de reescrever a história, mentindo, manipulando, a fim de apagar o papel de Cuba – eles não compreendem que exista alguém que possa agir sem ser por interesse em petróleo ou diamantes, consoante alternem no poder republicanos neocons ou democratas, sociais “democratas ou socialistas” ou ambos coligados ao mesmo tempo, em duas palavras: imperialistas e colonialistas - actualizando: neocolonialistas e neoliberais.
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