Existem hoje máquinas poderosas que nos permitem “ver” o passado. Se interpretassemos os sinais das antigas civilizações estaríamos hoje a questionar os sinais desses progressos desastrosos. É o que faz a obra de Ronald Wright “Breve História do Progresso” quando nos adverte para o facto das muitas da ruinas que hoje povoam as selvas e os desertos do planeta serem testemunhos iniludiveis das civilizações que cairam, vítimas da ignorância face a um modelo de crescimento desmesurado. As estátuas gigantes da ilha de Páscoa, as desoladas areias da Mesopotâmia, a Suméria (onde hoje é o Iraque), o Crescente Fértil, Angkor, são relatos históricos muito claros sobre desastres ecológicos onde as culturas intensivas de terras, o corte das florestas e a depredação do ambiente conduziram a trágicas armadilhas. Quando uma civilização se constrói e torna urbana tendo como único móbil a exploração do homem por castas que se formam sobre a alienação geral, religiosa, das populações – temos a metrópole, que se toma a si própria por moderna, mas que afinal demonstra a ignorância geral dos nativos sobre as fontes substanciais que sustentam a Natureza. Como se constatou, e se irá constatar sempre, quando uma civilização deixa de ter bases materiais de apoio, desaparece, submersa por catástrofes invisiveis – como os Anasazi de Mesa Verde ou os Maias de Teotihuacan de que só conhecemos as grandiosas construções.
“Apocalypto”, que em dialecto maia significa “um novo começo” é uma fábula muito meritória sobre a dissolução civilizacional - ”a Terra, a Vida e a Humanidade são expressões de um mesmo e imenso processo evolutivo que se iniciou faz treze mil milhões de anos e que formam uma única realidade diversificada e complexa. A Terra é Gaia, um super- organismo vivo. O ser humano (nome cuja origem filosófica provém de “húmus” e equivale a “terra boa e fértil”) é a própria Terra que sente, que pensa, que ama, que cuida e que venera. A missão do ser humano, como portador de consciência, inteligência, voluntariedade e amor, é cuidar da Terra, ser jardineiro deste esplêndido jardim do Éden” – quem o disse hoje foi Leonardo Boff, num sermão de um padre que foi excomungado pela Igreja. Quem o disse ontem foi o personagem do filme de Mel Gibson - “Jaguar Paw” quando grita aos seus perseguidores que “esta floresta é nossa, o meu pai sempre aqui caçou, e o meus filhos aqui continuarão a caçar para sempre”. Perseguido pelos fautores da “democracia universal” os selvagens que resistem à integração nas grandes civilizações urbanas insustentáveis acabam por ser aprisionados para serem sacrificados, levados a percorrer a avenida da Morte em direcção à pirâmide da Lua, em cujo topo o Monarca decide, o Guerreiro subjuga e o Feiticeiro executa a tarefa de transformar as vítimas em inimigos como pretextos para apaziguar os Deuses. Rituais que não têm outra finalidade que tentar manter intacta a cadeia corrupta do Poder na pirâmide construida sobre o Medo, a Ignorância, o Misticismo e a Mentira. Cá em baixo, multidões ululantes suburbanas espumam de alívio de cada vez que um coração é arrancado e uma cabeça rola. Afinal o que está em causa é a simples questão da ajuda dos Deuses nas guerras que tragam às massas ignaras meios de subsistência. Afinal, conforme nos diz William K. Tabb, as Guerras pelos Recursos (in “Resource Wars”) sempre tiveram uma relação próxima com as fontes da Natureza. (artigo para ler na “Monthly Rewiew”, Janeiro 2007).
“Os Estados Unidos deverão encorajar os investimentos no sector petrolífero do Iraque, através da comunidade internacional e das companhias de energia multinacionais”