Política
30 anos depois, confrontado com a eventualidade de poder vir a ser julgado por crimes de guerra, o antigo secretário de Estado
Henry Kissinger, "
admitiu erros na condução da guerra do Vietname"
Os Senhores da Guerra - o CSP um grupo militarista na sombra do poderio norte-americano (
II)
A reactivação do CPD
O CPD foi dissolvido em 1953, mas a
stay-behind continuou a exercer uma influencia preponderante. Durante os mandatos de Eisenhower, Kennedy e Nixon, as despesas com o armamento dividiram-se entre as necessidades devidas às guerras externas (designadamente no Vietname) e os prestigiantes projectos espaciais (particularmente a vontade de John F.Kennedy em enviar homens à lua, por forma a compensar o voo tripulado de Yuri Gagarin). Foram os programas Vanguard, Explorer, Mercury, Apollo.
Nos anos 70,
Henry Kissinger, afastando-se da doutrina do “containment” em nome da realpolitik, organizou a “detente” com a URSS para iniciar uma saída do Vietname. Não colocava em causa a doutrina da Guerra Fria, mas tinha a consciência de que os Estados Unidos não podiam continuar a levar a cabo uma guerra frontal na Ásia sem o apoio da sua opinião pública. Opunha portanto o seu realismo cínico à cegueira quase mística de Nitze. Em 1972 foram assinados um tratado que limitava os mísseis antibalísticos (
ABM treaty) e um acordo sobre a limitação das armas ofensivas estratégicas (
SALT 1), para grande contrariedade dos anciãos do CPD. Após a
queda de Saigão, o Congresso pôs fim ao esforço de guerra e reduziu drasticamente os orçamentos militares e certas despesas de prestígio. Por falta de créditos, os programas espaciais foram interropidos.
Em paralelo, o caso
Watergate inaugurou um período de crítica das instituições. As comissões de inquérito parlamentares trouxeram à luz os golpes baixos da CIA. A representant Elizabeth Holzman revelou a
operação Paperclip. De passagem, soube-se que a
sty-behind continuara a recrutar cientistas nazis até aos anos 60, tendo ido procurá-los aos seus esconderijos latino-americanos. Descobriu-se que os médicos nazis tinham prosseguido no arsenal de
Edgewood (Maryland) as experiências com armas químicas que haviam iniciado em
Dachau, usando agora como cobaias setecentos “voluntários” do exército norte-americano.
Neste ambiente deletério em que os objectivos, os métodos e as instituições da Guerra Fria foram postos em causa por todos os lados, nasceram fortes tensões entre o secretário de Estado, Henry Kissinger, e o secretário da Defesa, James Schlessinger. A 3 de Novembro de 1975, o presidente
Gerald Ford, cuja popularidade se encontrava no seu ponto mais baixo, decidiu dirimir esse conflito dando garantias simultaneamente à opinião pública e ao lobby militar-industrial. Confirmou Kissinger no Departamento de Estado, mas retirou-lhe a função de Conselheiro Nacional de Segurança, a qual foi confiada ao general
Brent Scowcroft. Afastou o secretário da Defesa, Schlessinger, e nomeou o chefe de gabinete da Casa Branca,
Donald Rumsfeld, em sua substituição. Prosseguindo o jogo das cadeiras musicais, nomeou
Richard Cheney para a posição anteriormente ocupada por Rumsfeld. Por fim, destituiu no director da CIA, William Colby, e nomeou para o seu lugar
George H. Bush. Esta mudança brutal de colaboradores ficou conhecida para a Histórica sob o nome de “
massacre do Halloween”.
Tendo os ventos mudado assim uma vez mais, a
sty-behind retomou a iniciativa. Uma pequena associação conservadora, o Instituto Americano da Empresa (
American Enterprise Institute – AEI), foi escolhida para produzir os argumentários; a Coligação para uma Maioria Democrática (
Coalition for Democratic Majority – CDM) reuniou alguns parlamentares democratas para fazerem lobbying; e o Comité sobre o Perigo Presente foi reactivado com o apoio financeiro da
Hewlett-Packard e do sindicato
AFL-CIO a fim de trabalhar a opinião pública interna. Controladas por Paul H. Nitze, Eugene V. Rostow e William R. Van Cleave, as três associações contestaram as análises da CIA e denunciaram o menosprezo da ameaça soviética.
A campanha foi animada publicamnete pelo senador democrata
Henry”Scoop” Jackson e integrou elementos dos lobby israelita como
Richard Perle. Com efeito, para escaparem ao processo da “detente”, os responsáveis norte-americanos pelos projectos espaciais haviam
transferido uma parte das suas pesquisas, designadamente nucleares, para Israel.O presidente Gerald Ford pôs de pé uma dupla peritagem do potencial soviético. Os peritos da CIA constituíram uma “equipa A” (Team A), enquanto os contra-peritos do CPD foram autorizados a criar uma “equipa B” (Team B). Todos eles tiveram aceso às informações mais confidenciais dos diversos serviços de informções. A equipa B era composta por uma dezena de personalidades do CPD, entre as quais Nitze, Rostow e Yan Cleave, e, muito curiosamente, pelo novo director da CIA,
George H. Bush, que podia assim puxar os cordelinhos das duas equipas supostamente concorrentes. A equipa B era assistida por alguns técnicos que efectuaram o verdadeiro trabalho de inquérito e redacção, entre os quais Richard Pipes,
Paul Wolfowitz e o general Lyman Lemntzer.
Os relatórios respectivos das duas equipas foram apresentados e confrontados de maneira puramente formal diante do Gabinete Presidencial de Informações Externas, a 21 de Dezembro de 1976, poucos dias antes de
Jimmy Carter, recentemente eleito presidente, assumir as suas funções. A equipa de Ford havia urdido tudo. Admitiu-se em poucos minutos que as anteriores estimativas da CIA estavam erradas e que a URSS se preparava para atacar os Estados Unidos. Bem entendido, como a História viria a provar depois,
tratava-se de pura montagem, baseada numa confusão entre a quantidade e a qualidade do armamento soviético. A URSS defrontava-se já com terríveis dificuldades económicas e era incapaz de procurar um confronto Este-Oeste. Não obstante, foi na base deste estudo truncado que o Congresso reactivou os programas de armamento. Tendo a quipa do ex-SS Wernher von Braum afinado já os mísseis intercontinentais e tendo igualmente realizado voos espaciais tripulados, fixou-se como novo objectivo o envio de militares para o espaço (
programas Challenger e Atlantis).
Esta nova manipulação da opinião pública norte-americana pela stay-behind foi feita às custas da CIA, mesmo na medida em que a rede stay-behind está ligada administrativamente à agência de Langley. O núcleo duro da rede entendeu sancionar a política de William Colby que, depois do Watergate, havia permitido que o Congresso inquirisse sobre os procedimentos da agência e tentara submeter a stay-behind a um controlo político.
Colocado perante um facto consumado, o presidente Carter não pôde questionar as opções orçamentais. Depurou toda a administração dos homens do CPD e logo que lhe foi possível desembaraçou-se de
George H. Bush. Nomeou o almirante Stansfield Turner para seu sucessor à frente da CIA, tendo por missão impossível pôr em ordem a agência e
eliminar o poder paralelo do stay-behind. Durante quatro anos, os ansiães do CPD comportaram-se como se fossem um “
governo sombra” ao serviço do futuro candidato republicano. Acossaram
James Carter, acusando-o de ter sido atingido pela “síndrome vietnamita” ao ponto de lhe faltar o sangue-frio nos períodos de crise, e de
ser responsável pela perda do Irão.
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