Política
"Dizer à Máfia que não pagamos"
“
Cada português deve 28 mil euros graças a ele”. Vem na capa de hoje do semanário de extrema direita “
O Diabo” - o “ele” é o Sócrates da entrevista de ontem que deixou perpassar nas fracas audiências do programa que o Poder precisa de mentiras novas porque as antigas já estão gastas (José Sócrates
dizia em 2008 que não haveria crise, agora admite contabilizar os prejuízos da nacionalização do BPN no orçamento de 2008 “
o ano em que começou a crise”).
Para mentiras novas chega então um inopinado agente “da esquerda” com o recado básico e lapidar que
é preciso “dizer à Máfia que não pagamos”. Com duas expressões verbais e dois sujeitos (
“Nós” e a “Máfia”) é uma obra de arte mentir tanto com tal economia de palavras. O rapaz, que é colunista do Expresso (falamos de Daniel de Oliveira) vai longe e o patrão Balsemão (
o agente Bilderberg para Portugal) esfrega as mãos de contente porque emprega
um tipo do Bloco de Esquerda.
Analisemos então
o espírito do Diabo (
devemos)
e do Oliveira (
não pagamos).
Regra geral cada português comum não deve nada. É honesto, tudo o que tem paga, ou está em vias de pagar, senão o Estado expropria-lhes os bens e põe-os em leilão - fica de tanga, não segundo a tanga colectiva da filosofia Durão Barroso, mas
a tanga de cada sujeito por si à sua vez consoante imcumprisse. Porém, cada caso por si, de cada Sujeito, não integra o individuo num conjunto homogéneo que resulte num “Nós”. O sentido implícito da bojarda oliveiresca:“nós não pagamos” cria um protesto simbólico, sem eficácia concreta, mentiroso. Parte do principio que “nós é que mandamos no Estado, ou que é possível alterar a relação de domínio deste sem um corte revolucionário. Cada “Sujeito” é isso mesmo,
alguém que está sujeito na sua consciência individual ao constrangimento social imposto pelo aparelho ideológico do Estado. Ao admitir que “o Estado” neoliberal somos “Nós” a ideologia opera sobre e dentro dos indivíduos através de e como mecanismos ideológicos de sujeição, transformando “os indivíduos em sujeitos”. Apela-se ao individuo “não pagamos” quando de facto se pagamos, como pagamos ou não pagamos dívidas que não foram contraídas por indivíduos avulso,
é a clique que domina o Estado quem decide. E é “com a dominação dos aparelhos ideológicos de Estado que
a elite burguesa reproduz a sua lógica de dominação desigual não inclusiva de grande parte de pessoas na sociedade e procede à reprodução capitalista das relações de produção” (
Althusser).
os Aparelhos Ideológicos do Estado em geral são compostos pelo governo, partidos políticos constitucionais, pela administração fiscal, as forças militares, pela igrejas e misericórdias, forças policiais, o sistema judiciário, o sistema penal, etc. Acrescente-se em lugar de destaque remunerado
o Oliveira (e já agora o Rui Tavares pró-intervenção NATO) - “
é com finalidades ideológicas bem precisas que a filosofia burguesa se apoderou da noção jurídico-ideológica de Sujeito para dela fazer uma categoria filosófica número um”. Ao passo que a noção de sujeito “
não tem nenhum sentido para o materialismo dialéctico, que pura e simplesmente a rejeita, como rejeita (por exemplo) a questão da existência de Deus”. E ao contrário dos cronistas da ilusão do "Sujeito" com uma autonomia de decisão inexistente, a filosofia marxista deve romper com a categoria idealista de “Sujeito como Origem” de
problemáticas que só têm resolução através da Sociedade como um todo.
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