A 2ª “morte” de Slobodan Milosevic
Política

A 2ª “morte” de Slobodan Milosevic


Em 6 de Outubro de 2005, a procuradora italiana berluscónica Carla Del Ponte da secção do Tribunal sediado em Haia para a Jugoslávia (TPIY) deu uma conferência em Londres perante um auditório de homens de negócios da Goldman Sachs, cuja alocução se mostrou reveladora do tipo de papel desempenhado pelo TPI, como um parceiro fiável ao serviço do neoliberalismo. Este é o corolário lógico bem na sequência do que aconteceu anteriormente nos conflitos na Croácia e Bósnia (1991-1995) e no Kosovo (1998-1999).

Milosevic, foi detido, apesar da sua auréola de herói nacional, pelas forças invasoras da NATO, enviadas pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Depois da invasão do Kosovo, quando os bombardeamentos da NATO desabaram contra esta provincia autónoma da Jugoslávia, o governo nacionalista sérvio, o único da zona que resistíu às imposições neoliberais, acabou por ceder e cair. A inferioridade das forças armadas da Sérvia para fazer face às incursões aéreas dos exércitos dos EUA e da Europa coligados levou a uma derrota mal digerida pela maior parte da população, que responsabilizou Clinton e a União Europeia pelo sucedido. O Kosovo é um exemplo de como a invasão/imigração é meio caminho andado para o desaparecimento da unidade dos Povos, e de como este desmembramento só beneficia aos mesmos de sempre.

Esta morte, que por um lado poupa alguns embaraços às chamadas Democracias Ocidentais, mas que por outro deixa Carla del Ponte de mãos vazias, ocorreu uma semana após a notícia do suicídio, no mesmo local, de outro destacado responsável político da ex-Jugoslávia, Milan Babic (o sexto prisioneiro a morrer no TPI). Segundo um dos seus advogados, citado pela BBC, Milosevic teria dito, depois do envio da carta de socorro que “não sustentaria este caso tanto tempo se tivesse a intenção de provocar danos a mim mesmo”. Para o PCP, trata-se de acontecimentos que "desejam iludir as graves consequências do intervencionismo" dos Estados Unidos, que pretendem ver "enterrada a verdade sobre a guerra que desencadearam nos Balcãs".

É neste clima geral de suspeição sobre as condições que rodearam a morte do dirigente que presidiu à República da Jugoslávia (depois apenas da Sérvia) entre 1989 e 2000, detido à ordem do Tribunal Penal Internacional, num centro de detenção das Nações Unidas, TPI que é uma organização criada e que funciona sob condição de não julgar cidadãos norte americanos, o diário El País titulava: "A morte de Milosevic abre as portas à reconciliação completa da Europa".
Como o cidadão comum, alienado pelos orgãos de desinformação que fazem parte integrante dos jogos de guerra do Império, não consegirão “ver assim às primeiras” que relação tem a “reconciliação europeia” com a guerra dos Balcãs e com o desmembramento da ex-Jugoslávia, Michel Collon faz perguntas à opinião pública, colocando as seguintes questões, a que se deverá responder sob a forma de teste, para que se possa aquilatar qual a qualidade de informação de que se dispôs:
1 ¿A guerra nos Balcãs começou em 1991 com as secessões eslovaca e croata?
O Sím O Não O NãoSei
2 ¿a Alemanha provocou deliberadamente a guerra civil?
O Sim O Não O NãoSei
3 ¿os Estados Unidos permaneceram realmente nesta guerra "passivos e desinteressados"?
O Sím O Não O NãoSei
4 ¿o Banco Mundial e o FMI participaram na fragmentação do país?
O Sím O Não O NãoSei
5 ¿os Media apresentaram uma imagem enganosa de Tudjman e Izetbegovic, "nossos amigos"?
O Sim O Não O NãoSei
6 ¿ os Media ocultaram dados essenciais da historia e da geografía da Bosnia?
O Sim O Não O Não Sei
7 ¿ Era correcto o esquema "sérvios agressores, croatas e muçulmanos vitimas"?
O Sim O Não O Não Sei
8 ¿ a Sérvia levou a cabo um programa de limpeza étnica?
O Sim O Não O NãoSei
9 ¿ houve Informação correcta sobre Srebrenica?
O Sim O Não O Não sei
10 ¿ As primeiras vítimas da guerra foram assassinadas pelos servios?
O Sim O Não O NãoSei
11 ¿ Era falso o célebre anuncio dos "campos de concentração"?
O Sim O Não O NãoSei
12 ¿ Informaram-nos da verdade sobre os três grandes massacres de Sarajevo?
O Sim O Não O NãoSei
13 ¿ A maior limpeza étnica da guerra foi cometida pelo exército croata?
O Sim O Não O NãoSei
14 ¿ Utilizaram também os Estados Unidos bombas de urânio na Bosnia?
O Sim O Não O NãoSei
15 A guerra contra a Jugoslavia, ¿foi a única "guerra boa" dos Estados Unidos?
O Sim O Não O NãoSei

¿ Afinal quanto valia afinal a nossa informação sobre a fragmentação da Jugoslávia? (veja quantas bolinhas laranja somou)
as respostas a cada uma das questões postas, são dadas aqui.
O julgamento do que representam estes quatro anos do processo de Haia foi feito pelo próprio Presidente Milosevic numa das suas intervenções mais fortes neste processo – em 29 de Novembro (por sinal, o Dia Nacional da Jugoslávia) de 2005: “os senhores não conseguem arranjar provas válidas para mentiras (…) ninguém sabe qual é a acusação da Promotora Pública, a começar por ela própria. Ela também não sabe. Acho que até Franz Kafka acharia que não teve grande imaginação comparado com isto. Aqui só há uma coisa que é verdade: É verdade que há uma organização criminosa, mas não tem como centro nem Belgrado nem a Jugoslávia, mas sim aqueles que, numa guerra desencadeada na Jugoslávia, a partir de 1991 em diante, destruiram a Jugoslávia".
Uma das cenas mais caricatas deu-se quando o juiz Patrick Robinson imediatamente impediu a entrada neste tribunal de uma jornalista ocidental que pretendia depôr dizendo ter visto Osama bin Laden (quando ainda era amigo dos americanos) entrar para uma reunião no gabinete do “presidente da Bósnia” Alija Izetbegovic em Novembro de 1994. (link)
Depois da desagregação da URSS e da queda do Muro, a Jugoslávia era o último bloco a dinamitar - o que se pode deduzir do célebre “Anexo B” do protocolo de Rambouillet. Utilizando as Nações Unidas, por razões de conquista de mercado que naquela região beneficiam directamente a Alemanha, os EUA deram luz verde e financiaram o surgimento do UÇK, hostil a qualquer compromisso e disposto a assassinar qualquer "traidor" albanês que o procurasse, tornando mais difícil do que nunca qualquer tentativa para encontrar uma solução pacífica negociada. Para os americanos, que dirigiam o jogo, o simulacro de negociações que se iniciaram em 2 de Fevereiro de 1999 em Rambouillet não tinha outro objectivo a não ser provar que não havia solução pacífica possível e que era preciso fazer a guerra. Helmut Kohl e o Vaticano reconheceram de imediato a independência da Croácia! Unilateralmente. E financiaram e armaram ilegalmente croatas e bosníos! no caso da Croácia, a Alemanha chegou ao ponto de não se inibir em fazer chantagem sobre os restantes países da CEE para que estes reconhecessem a sua independência.
Quando começaram os bombardeamentos decididos por Javier Solana (um ex-militante do PSOE, à frente da NATO, o tal "Tribunal" (o mesmo que agora matou Milosevic) nem sequer aceitou a queixa do governo Jugoslavo contra estes bombardeamentos desumanos e ilegais perante a lei internacional.

Depois do livro "To Kill a Nation" de Michael Parenti e de "The Rise and Fall of Yugoslavia" de Kate Hudson, que mostram o papel da NATO e das grandes potências no desmembramento do país, a jornalista Diana Johnstone, em "Cruzada de Cegos" (traduzido recent/ pela Edit. Caminho), mostra também que a guerra nos Balcãs foi o protótipo das chamadas guerras humanitárias (vidé "O Imperialismo Humanitário" de Jean Bricmont); na verdade a Jugoslávia foi a primeira Guerra da Globalização - que como novidade teve o facto de se utilizarem ONG,s não governamentais de forma encapotada para fins bélicos. Ver aqui o verdadeiro papel no financiamento ocidental da guerra, através da Human Rights Watch (HRW).Um dos directores da Human Rights Watch foi Presidente do Tribunal onde morreu (mataram?) Milosevic e a acusação de Carla del Ponte baseou-se nos relatórios elaborados pelo Human Rights Watch. Quem acompanhou minimamente os julgamentos teria também sabido que foi também o Human Rights Watch que fez a filtragem das testemunhas croatas, “bosnías” e kosovares, e que foi o Human Rights Watch quem colheu os depoimentos no Kosovo e na Bósnia das “vítimas” e das “atrocidades” e quem os canalizava para os Media. Basta ir ao site do Tribunal e ler as actas das sessões.
Mas, os “crimes” segundo a HRW por mais que sejam repetidos por este “pensamento único”, mesmo assim não se transformarão em verdade
Em todas as guerras se cometem tremendas atrocidades. A primeira atrocidade é começar uma guerra! E foi a declaração de independência da Croácia que desencadeou a guerra civil. Este foi o empreendimento mais criminoso da social-democracia em terras europeias disse Andreas Van Buelow, antigo ministro alemão, depois autor do livro “a CIA e o 11 de Setembro” onde acrescentaria: "Se aquilo que digo está certo, a totalidade do governo americano deveria estar por trás das grades”. Este e os anteriores.
A História desse período da existência da ex-Jugoslávia está feita. Não se altera com opiniões. Factos são factos.

Na verdade, quem foi hoje a enterrar foi o Presidente do Partido Socialista da Jugoslávia, eleito democráticamente, que foi assassinado sem poder dizer ao mundo a sua verdade, enquanto os verdadeiros criminosos se passeiam impunemente por aí,,,

"Ma Verité" autobiografia
"Só a Verdade pode salvar o Mundo" texto da alocução de defesa de Slobodan Milosevic, feita pelo próprio, no tribunal de Haia em 18 de Fevereiro de 2002.


Milosevic e uma das flores com que o povo sérvio o homenageou: um Cravo - uma flor de que os portugueses se devem lembrar bem,,,



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