Política
A crise chega à poupança Vinicius Torres Freire
FOLHA DE S. PAULO
Poupança teve mais depósitos que saques durante estirão do PIB; neste ano, teve primeiro trimestre negativo desde 2006
AS PESSOAS estão tirando mais dinheiro da caderneta de poupança. As pessoas tiraram muito dinheiro dos fundos de investimento em 2008. Em fevereiro, os fundos deram mais sinais de vida. Agora, em, março, voltaram a receber menos aplicações.
Para onde o dinheiro vai? Vira "seguro-desemprego" privado? Paga contas da pequena empresa, que está faturando menos? No ano passado, durante o tumulto da explosão da crise, era comum ouvir em bancos e empresas que pequenos e médios empresários estavam sacando dos fundos a fim de pagar contas.
Sim, como dizem os economistas, trata-se de uma "evidência anedótica", e há pouca pesquisa sobre a vida dos negócios menores. Mas poupança no vermelho não parece um indício de que a vida vai bem.
Caderneta de poupança é preferência nacional. É "pop", é simples e previsível. O comum dos brasileiros não tem informação suficiente para lidar com bancos e seus fundos; alguns dos mais velhos, por sua vez, ficaram escaldados com décadas de maluquices na economia e preferem não arriscar. Aliás, para ser preciso, o comum dos brasileiros não tem dinheiro para poupar, mas passemos.
O que importa aqui é que o saldo da poupança, a diferença entre depósitos e retiradas, foi negativo em março passado. Mesmo com as notícias de que a caderneta se tornou mais atrativa, dada a queda dos juros de mercado (para o aplicador, entenda-se). Pode ser um movimento aleatório. Mas não parece.
Em cada mês de setembro de 2006 a março de 2008, os depósitos superaram os saques (a "captação líquida" foi positiva). Foi o período "no azul" mais longo da poupança desde 1995, o primeiro ano inteiro depois do Plano Real. Foi também o período do estirão do PIB.
Em abril de 2008, foi sacado R$ 1,8 bilhão (para um saldo, no mês anterior, de R$ 242,6 bilhões). Em março de 2008, houvera o primeiro grande remelexo visível da crise, com a quebra do banco de investimentos Bear Stearns e outras notícias assustadoras que tiveram repercussão na mídia de público mais amplo. Mas as pessoas voltaram a depositar e, mesmo em outubro de 2008, depois da explosão da bomba atômica financeira em Wall Street, o saldo negativo foi de apenas R$ 284 milhões.
Neste ano, a poupança ficou no vermelho em janeiro e em março. No ano, a "captação líquida" está negativa em R$ 582 milhões (para um saldo total de R$ 274,7 bilhões). É o primeiro trimestre de captação líquida média no vermelho desde junho de 2006. Não deve ser por acaso.
Nos fundos de investimento mais "pop", a situação parou de piorar. Nos últimos 12 meses, a "captação líquida" ficou no vermelho em R$ 80 bilhões (o patrimônio líquido dos fundos está agora em torno de R$ 1,16 trilhão). No ano, está positiva em R$ 11,2 bilhões. Mas os fundos de renda fixa, os mais "pops", com patrimônio de R$ 343 bilhões, voltaram ao vermelho em março; os DI perdem desde fevereiro. Os fundos de curto prazo captaram muito pouco. A exceção positiva foram os fundos multimercado. Esses quatro tipos de fundo equivalem a mais de 71% do mercado. Mas, para os clientes dos fundos mais "pop", DI, renda fixa e curto prazo, parece estar sobrando, na média, menos dinheiro.
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