A culpa é do homem
Política

A culpa é do homem



Redação Carta Capital

Foto: Marino Azevedo/ AFP
Mais de 550 mortes já foram registradas no Rio neste verão, e não há como responsabilizar a natureza

Desde o início dos tempos é verão nos trópicos. A estação iniciada no dia 21 de dezembro trouxe as chuvas que, marcadamente, são fortes nas primeiras semanas do ano. A novidade nessa roda natural do tempo é que a partir da ocupação desordenada das serras e das planícies nas regiões metropolitanas o temporal desse período tem provocado mortes. Hecatombes.
Tem chovido bastante na Região Sudeste. A chuva já castigou São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. No Rio de Janeiro, no entanto, a situação é quase sempre mais dolorosa. A gravidade nunca havia alcançado a dimensão de agora nas primeiras 48 horas de temporal nos dias 11 e 12 sobre a região serrana do estado, castigadas mais seriamente as cidades de Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis. Foram contadas mais de 550 mortes, até agora. Há milhares de desabrigados. O cenário é de destruição.
Não há como culpar a natureza. O País está diante de crimes cometidos pelos homens. Há uma irresponsabilidade contínua dos prefeitos de cada uma dessas cidades. Alguns por fazerem vista grossa para as ocupações desordenadas. Outros, por incentivar as moradias nas encostas. Os sucessores não fiscalizaram os antecessores, seja por camaradagem partidária, seja pela omissão provocada pela avidez de se manterem no poder a qualquer preço. E o preço é esse que se vê ao longo dos anos.
Naturalmente, a população pobre é a principal vítima desse comportamento criminoso. Vez por outra, como agora, os mais abastados tornam-se vítimas também. Mas, em regra, não são vítimas fatais. É o caso de dois filhos do saxofonista George Israel, da banda Kid Abelha, que passavam as férias em Teresópolis. A água ilhou a casa onde estavam e o pai pôde resgatá-los de helicóptero. Felizmente, somente um grande susto.
Diferente o destino do pedreiro Juacirde Ponte Rabelo, de 65 anos. Ele descreveu para o jornal O Globo um dos momentos do temporal que destruiu a casa onde vivia: “A correnteza era forte e carregava tudo o que havia no caminho. Para não ser levado tive de fazer um buraco no teto e subir no telhado com o meu irmão”. Infelizmente, não havia helicóptero para resgatá-los.
No jogo do acaso, a tragédia maior atingiu a estilista Daniela Conolly e sete parentes dela. Todos morreram afogados enquanto dormiam, hospedados em sítio alugado de um membro da tradicional família Gouveia Vieira, no fascinante Vale do Cuiabá. “É desesperador”, lamentou o vice-governador fluminense, Luiz Fernando Pezão, na ausência do governador Sérgio Cabral, que, com a família, voltou ao Rio rapidamente, encerrando as férias no exterior.
Pezão sobrevoou a região e constatou: “É pior do que Angra dos Reis no ano passado”. O temor é o de que no ano que vem a situação seja ainda pior, a considerar que a sequência histórica tem sido assim.
A presidenta Dilma Rousseff conversou com Cabral por telefone, também sobrevoou a área atingida e visitou um desses locais. E -liberou imediatamente um repasse de 780 milhões de reais para socorrer as vítimas das chuvas no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Diante da dimensão do que ocorreu no Rio, as chuvas em São Paulo, embora com consequências lamentáveis, foram gotas caídas do céu. São situações essencialmente diferentes.
O temporal na capital paulista também aconteceu na noite do dia 11 para o dia 12. Durou cerca de quatro horas. Houve 127 pontos de alagamento, o maior desde 2005, que praticamente pararam a cidade. A situação em São Paulo parece mais uma questão de má administração do que propriamente de irregularidades criminosas no processo de ocupação das áreas que circundam as cidades, como no Rio de Janeiro. Os rios Tietê e Pinheiros transbordaram, embora no ano passado tenham sido inauguradas todas as obras de expansão da Marginal do Tietê pelo governo do estado. O investimento contra enchentes foi calculado em 8,7% menor que em 2008. Em qualquer circunstância, a irresponsabilidade é a grande promotora desses espetáculos.



loading...

- Cresce O Número De Mortos Na Tragédia Da Serra
O número de mortos pela chuva na Região Serrana do Rio de Janeiro subiu para 96 pessoas. O número inclui mais nove mortes confirmadas pela prefeitura de Petrópolis nesta quarta-feira (12), onde o número de vítimas chega a dezoito pessoas, conforme...

- A Mesma Cena. E Cada Vez Mais Dor Sob Os Destroços
Francisco Alves Filho, de Nova Friburgo; Wilson Aquino, de Teresópolis; e Rafael Teixeira do RJ – ISTOÉ A chuva era prevista. Mas não houve prevenção, fiscalização nas ocupações das encostas nem planos de contingência. O resultado de tanto...

- A Tragédia Das Chuvas Só Tem Uma Resposta óbvia: Reforma Urbana
Mais de 480 vítimas fatais até agora. Mais de 13.500 desabrigados. Pelo menos 300 desaparecidos. Incontáveis feridos ou doentes vitimados pela tragédia. Os números, dignos de uma guerra, revelam o triste cenário que serve de sinistro alerta para...

- Chovendo No Molhado Zuenir Ventura
com você. O GloboPublicado em 14/01/2012 Não é de hoje que chove torrencialmente no verão, que rios transbordam, que correntezas arrastam pontes, que enxurradas derrubam casas, que estradas viram crateras, e que autoridades alegam ter sido apanhadas...

- O Devastador Poder Da Chuva
A força atômica da chuvaNa natureza, a energia liberada por uma grande tempestade só tem paralelo nas erupções vulcânicas e nos terremotos. Seu poder destruidor equivale ao das bombas atômicas Leandro BeguociAlmeida Rocha/Folha Imagem Nó no trânsito...



Política








.