FOLHA DE SP - 01/12
Povo parece contente com situação individual, presente e futura, mas parece inquieto com o país
"A INFLAÇÃO vai aumentar." Desde dezembro de 2012 até o novembro que acabou de terminar, é no que acredita uma parcela sempre maior dos brasileiros (ora em 59%), segundo o Datafolha.
O desemprego vai aumentar, acreditam 43% dos entrevistados pelo Datafolha, que andavam mais otimistas nas duas últimas pesquisas, de agosto e outubro.
O aumento do número dos pessimistas com o trabalho não é contínuo como o dos preocupados com a inflação. Mas a preocupação com o emprego mudou de patamar desde as revoltas de junho. Durante o ano anterior ao mês dos protestos, cerca de 31% dos brasileiros acreditavam em aumento do desemprego.
Desde junho, porém, é cada vez maior o número de brasileiros que voltam a dizer ao mesmo Datafolha que seu salário vai aumentar. Que sua situação econômica individual vai melhorar. Que mesmo a situação econômica do país vai melhorar.
Essas três medidas de expectativas econômicas melhoram no mesmo ritmo; no mesmo ritmo melhora a avaliação do governo de Dilma Rousseff.
Não, os brasileiros, na média, não estão doidos. Parecem na verdade sintonizados com o que se passa no país, seja por entendimento próprio, seja por "contágio".
A situação econômica dos brasileiros não piorou --pelo menos, a percepção individual e muito concreta das condições materiais da vida não piorou, pelo contrário. Está melhorando mais devagar.
Porém, parece haver um declínio do bom humor econômico ("confiança") que não está relacionado à situação econômica individual, presente ou futura. Há um ruído lá fora, na rua, mas não em casa. Talvez algo na linha do clichê simplório "a economia vai mal, mas o povo vai bem".
A renda média ainda cresce acima da inflação. O consumo cresce à metade do ritmo dos bons anos petistas, mas ainda cresce a uns 4% ao ano. O desemprego é um dos mais baixos da história. As transferências sociais de renda são as maiores desde sempre. Etc.
De algum modo o brasileiro dá a entender que "um algo" o preocupa. Como e de onde surge tal percepção?
O noticiário negativo sobre o desempenho "macro" da economia e a política econômica deve decerto causar apreensão, ainda que tal conversa seja em geral incompreensível e tediosa para o cidadão comum.
A inflação relativamente alta e persistente, com picos feios no preço da comida, certamente não é um fator de ânimo. Pesquisas de confiança do consumidor também vêm indicando faz tempo que estamos em geral mais apreensivos; outros levantamentos indicam ligeira alta na percepção de que está algo mais difícil encontrar emprego.
Tais indicadores não resolvem a dicotomia entre a recuperação recente do otimismo com a vida econômica individual e o pessimismo sobre inflação e desemprego.
Mas, entre o sentimento vago de que "algo" pode vir a dar errado e a constatação de que as melhorias concretas persistem, a maioria parece por ora dar mais importância ao fato, tanto que a avaliação de Dilma Rousseff melhora.
Sim, essa maioria desde junho ficou diminuída, em parte pelo medo de o tumulto representar sinal de crise econômica. Em parte, porque as pessoas estavam iradas mesmo é por outro motivo que não a economia.