A evolução da bicicleta
Política

A evolução da bicicleta


Planeta em duas rodas

O sucesso das e-bikes, dotadas de motor elétrico, mostra que o mundo redescobriu a bicicleta como meio de transporte


Carolina Romanini e Roberta de Abreu Lima

A indústria automobilística não se cansa de repetir que os carros elétricos têm um lugar garantido no futuro da frota mundial de veículos. Até hoje, porém, a maioria dos carros movidos a bateria são apenas protótipos. Já as bicicletas elétricas, que começaram a ser produzidas em série há uma década, se transformaram em uma alternativa realista de transporte de massa. Elas são dotadas de um pequeno motor movido a bateria de íons de lítio, semelhante às dos celulares, ou de chumbo, aparentada com as dos automóveis. Ambas as baterias podem ser carregadas em tomadas domésticas, por períodos que vão de duas a seis horas. As e-bikes, como são chamadas nos Estados Unidos, destinam-se a reduzir o esforço físico do ciclista nas ladeiras. Evidentemente, têm também a vantagem de não poluir o ar como as motocicletas e as antigas motonetas. Nos Estados Unidos, em 2007, foram vendidas 120.000 bicicletas elétricas. Neste ano, calcula-se que as vendas cheguem a 170 000 unidades. Na Europa, o crescimento na venda de e-bikes entre 2006 e 2007 foi de 20%. Nada que se compare à China, onde 16 milhões de bicicletas elétricas foram vendidas neste ano. Mas os chineses, como se sabe, são tradicionalmente movidos a duas rodas.

O aumento na venda de e-bikes reflete não apenas o êxito de uma tecnologia, mas uma tendência mundial de retomar a bicicleta como meio de transporte. O aumento contínuo no preço do petróleo nos últimos anos, a preocupação com a mudança climática e a necessidade de evitar o trânsito caótico das grandes cidades fazem da bicicleta uma opção freqüente para quem precisa ir de casa para o trabalho ou quer passear nos fins de semana. De quebra, pedalar faz bem à saúde. "A bicicleta deixou de ser usada apenas para o lazer e se transformou num meio de transporte eficiente e ambientalmente responsável", disse a VEJA o americano Bill Fields, consultor especializado na indústria de bicicletas.

Nos últimos oito anos, a produção mundial de bicicletas cresceu 50% – passou de 90 milhões para 135 milhões de unidades. No ano passado, foram produzidos 45 milhões de automóveis. O melhor exemplo do prestígio em alta da bicicleta é que, no mundo todo, grandes cidades estão sendo adaptadas para oferecer infra-estrutura adequada a esse meio de transporte. Isso inclui a construção de ciclovias, a reformulação de sinalizações e a criação de sistemas de aluguel de bicicletas a baixo custo. Um dos mais famosos é o Vélib, criado pela prefeitura de Paris no ano passado. As bicicletas são oferecidas em 1 450 pontos da capital francesa. O ciclista paga 1 euro pela primeira meia hora e depois o valor aumenta. Estima-se que 20.600 bicicletas circulem diariamente por quase 400 quilômetros de ciclovias disponíveis em Paris.

A prefeitura de Barcelona, na Espanha, inaugurou no ano passado um serviço de aluguel de bicicletas que ocupa 400 pontos distribuídos pela cidade. O sistema permite que o ciclista cheque pela internet, em tempo real, se há bicicletas disponíveis no ponto mais próximo. O mais moderno sistema de aluguel de bicicletas será inaugurado em 2009 em Montreal, no Canadá. As máquinas usadas para comprar os bilhetes para o aluguel são abastecidas com energia solar. As bicicletas, feitas com estrutura de alumínio resistente, são dotadas de freios internos dianteiros e traseiros, protetores no guidão e na correia e um mecanismo que propicia maior estabilidade ao ciclista. A revista Time acaba de escolher o sistema de aluguel de bicicletas de Montreal como uma das cinqüenta melhores inovações de 2008.

São Paulo acaba de inaugurar seu sistema de aluguel de bicicletas. São oitenta delas, distribuídas em oito estações do metrô. O ciclista não paga pela primeira hora de uso e cada hora adicional custa 2 reais. A iniciativa é tímida, mas já é um começo. "Há uma demanda crescente de infra-estrutura para a circulação de bicicletas na cidade. Conforme o suporte para os ciclistas melhorar, a procura pelo aluguel deverá aumentar", prevê Ismael Caetano, um dos fundadores da ONG Instituto Parada Vital, que implementou e coordena o projeto. Para que os paulistas adotem a bicicleta para valer, será preciso investir fortemente em ciclovias. A cidade tem ínfimos 30 quilômetros de pistas dedicados a bicicletas, incluindo as localizadas dentro de parques. Por enquanto, pedalar pelas grandes avenidas de São Paulo é programa para aventureiros.

A venda de bicicletas no Brasil cresceu 20% nos últimos dois anos. Em 2007, foram comercializados 5,5 milhões de unidades. A maioria dos ciclistas brasileiros, porém, ainda não utiliza o veículo como meio de transporte. O ortopedista paulista Antônio Augusto Nunes de Abreu, de 40 anos, é uma exceção. Há quase uma década, Abreu pedala mais de 40 quilômetros por dia para ir e voltar de sua casa, na Zona Norte, até o hospital Albert Einstein, na Zona Sul, onde trabalha. "De bicicleta levo o mesmo tempo que levava de carro para percorrer o trajeto, mas evito o stress de que era vítima por ficar parado no trânsito", ele relata. Especialistas em transporte acreditam que a popularização das bicicletas é irreversível em todo o mundo. "Tenho acompanhado os melhoramentos realizados em inúmeras cidades em prol dos ciclistas e fica claro que essa transformação é definitiva", disse a VEJA o consultor americano Peter Berra, do grupo Bike Friday. As e-bikes, mais confortáveis e eficientes, podem acelerar esse processo.

Fanáticos pelo pedal

Richard T. nowitz/ Latinstock
Ciclistas em Amsterdã: uma das cidades européias com mais bicicletas. Ao lado, o ortopedista paulista Antônio de Abreu: 46 quilômetros de pedaladas por dia para ir e voltar do trabalho
Roberto Setton

Bicicleta no metrô

Osmar Maeda

Ciclistas em estação de São Paulo: nos fins de semana e à noite, o transporte de bicicletas é liberado

Evolução da simplicidade

Uma nova geração de bicicletas, elétricas ou com outros recursos, introduz inovações num dos meios de transporte mais tradicionais

Fotos divulgação

Para adolescentes
A Mongoose CX24V450 lembra uma motocicleta de esportes radicais e roda até 40 quilômetros com uma recarga elétrica. Pesa 34 quilos e alcança 25 quilômetros por hora. A bateria é de chumbo. O modelo é vendido no Brasil
Preço: 2 400 reais

Sem corrente
A Ricochet (não elétrica) utiliza uma tecnologia que combina roda dentada - no lugar da corrente - e eixo embutidos. Essa característica faz com que a bicicleta seja silenciosa, macia e fácil de manejar.
Preço: 600 dólares

Para aventureiros
Com bateria mais potente e mais opções de marchas que a maioria das e-bikes, a eZee Torq é ideal para a prática de trekking e para quem gosta de ir longe pedalando. A bateria elétrica, de íons de lítio, permite autonomia de 80 quilômetros
Preço: 1 900 dólares

À prova de surpresas
Feita de alumínio, a Trek District (não elétrica) tem correia dentada de fibra de carbono no lugar da corrente. Isso evita as costumeiras quedas de corrente nas trocas de marcha ou manchas de graxa na roupa do ciclista. Além disso, a correia a deixa mais macia e silenciosa
Preço: 600 dólares

Para levar na bagagem
A eZee Quando é dobrável e cabe numa mala grande. Nem por isso deixa de ser potente. Sua bateria de íons de lítio permite percorrer até 50 quilômetros com uma recarga. Embora seja feita de aço, pesa pouco – apenas 18 quilos
Preço: 1 500 dólares




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