Política
A Impostura Pós-Marxista
¿Será a "
sociedade do Conhecimento" a solução para os baixos salários?
- A desregulamentação dos mercados de trabalho, postulada por
Anthony Giddens, uma fotocópia dos boys de Chicago, (
teólogo da 3ª via “socialista” de Tony Blair, quem não se lembra dele?),
pelo contrário, está a contribuir para a manutenção dos baixos salários através do debilitamento do papel do Trabalho e dos Sindicatos.
Na sua análise da sociedade contemporânea
António Negri sustenta uma visão refinada e erudita, “savant”, no dizer de Michel Husson (1), da tese do “
fim do trabalho” popularizada com diferentes matizes por
Jeremy Rifkin,
Dominique Meda,
Vivianne Forrester,
André Gorz e a
escola italiana dos teóricos da “
intelectualidade das massas”, entre outros. Esta tese, que encontrou renovado eco na última década, pretende dar conta de uma suposta perda da “
centralidade do trabalho” (com o desemprego de massas como uma de suas manifestações principais; quando
de facto é o Trabalho que se deslocaliza para zonas de mais baixa remuneração) como conseqüência inevitável da passagem da “sociedade industrial” (o
modo de produção Fordista) à erradamente chamada de “sociedade pós-industrial” (quando
de facto a Indústria é subcontratada em regime de outsourcing em zonas de mais baixo custo). Nesta “
sociedade pós-industrial, os avanços tecnológicos produziriam um salto na produtividade de bens materiais que a substituição progressiva do “
trabalho vivo” pelo “
trabalho morto”, de assalariados por máquinas (robôs e computadores, e entre eles o próprio Homem), se tornaria, em crescimento exponencial, uma tendência irreversível. A aplicação dos métodos “
toyotistas” (
subcontratação em outsourcing e assemblagem)
na organização do trabalho (2) seriam, por sua vez, também produto dos avanços tecnológicos e da incorporação por parte do Capital das aspirações postas a nu pelo proletariado na “
revolta contra o trabalho de Maio68”, que teve um efeito perverso: redundou no crescimento das funções de controlo e gestão do trabalhador em detrimento da Produção para satisfazer fins sociais. “Sociedade pós-industrial”, seria pois
sinónimo da mutação das condições gerais do capitalismo na hegemonia do “trabalho imaterial” e “capitalismo cognitivo” (3). Segundo esta tese, nesta nova situação do capitalismo (cujos teóricos às vezes denominam como “
pós-capitalista”) a actividade cognitiva advém do factor essencial de criação de valor,
calculando-se este em grande parte fora dos lugares e do tempo de trabalho. O Conhecimento (quando o que vemos na prática é a
politica selectiva, classista e privatizada de Ensino neoliberal) transformar-se-ia n“um factor de produção tão necessário como o Trabalho e o Capital, e a valorização deste factor intermediário obedeceria a leis muito particulares, a tal ponto que o “
capitalismo cognitivo” (4) funcionaria de maneira diferente do capitalismo ‘comum’”, tendo como conseqüência que a “teoria do valor” já não poderia dar conta da transformação do conhecimento em Valor. O trabalhador já não necessitaria mais “dos instrumentos de trabalho" (ou seja, do
Capital Fixo) que são postos à sua disposição pelo Capital. O “capital fixo” mais importante, aquele que determina as diferenças de produtividade, encontrar-se-ia no cérebro dos seres que trabalham: é a máquina útil que cada um de nós carrega em si. É esta a novidade absolutamente essencial da vida produtiva de hoje”.
Esta tese apresenta um conjunto de unilateralidades que turvam a compreensão das condições contemporâneas do capitalismo e da luta de classes.
Esta visão que apresenta um desenvolvimento linear de uma situação de hiper-maturidade das forças produtivas é oposta à teoria que melhor dá conta das contradições do desenvolvimento histórico. Referimo-nos à
teoria do “desenvolvimento desigual e combinado” originalmente formulada por
Leon Trotsky para dar conta das peculiaridades que tornaram possível o triunfo da revolução proletária num país de desenvolvimento capitalista atrasado como a Rússia, sem que nos paises mais avançados e industrializados da Europa Ocidental a revolução advogada pelo Marxismo triunfasse: “
As leis da história não têm nada de comum com o esquematismo epistemológico pedante" (5). O desenvolvimento desigual, que é a lei mais geral do processo histórico, não se revela, em parte alguma, com a evidência e a complexidade com que se torna patente o destino dos países atrasados. Açoitados pelo chicote das necessidades materiais e da subjugação ao sistema financeiro global, os países atrasados vêem-se obrigados a avançar através de saltos qualitativos, e apenas quando isso é (ou foi) possivel. Desta
lei universal do desenvolvimento desigual (incluindo a componente cultural) deriva-se para outra que, na falta de nome mais adequado, qualificaremos de lei do desenvolvimento combinado, aludindo à aproximação das distintas etapas do caminho e à confluência de fases distintas, numa amálgama de formas arcaicas e modernas. Sem que se tenha em consideração esta lei,
inserida, naturalmente, na integridade do seu conteúdo material, seria impossível compreender a história da Rússia ou a de qualquer outro país de avanço cultural atrasado, qualquer que seja seu grau” (4). Esta teoria ou “lei” é o ponto de partida fundamental, a partir do qual, ampliando o seu alcance, visa interpretar o desenvolvimento geral do capitalismo imperialista contemporâneo, fora das visões evolucionistas ou catastrofistas. Ao não partir desta visão dialética os erros unilaterais cometidos por
Antonio Negri tornam-se inevitáveis.
(1) Adaptado de
Claudia Cinatti (4ª Internacional)
(2)
Antonio Negri, “
Exílio” 1998
(3)
Enzo Rullani, “
O Capitalismo Cognitivo: Déjà Vu?”, Revista Multitudes nº 2
(4)
Maurício Lazzarato e Antonio Negri, “
Trabalho Imaterial e Subjetividade”, em “Futur Antérieur”, 1991
(5)
Leon Trotsky “
Historia de la Revolución Russa”
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