A justificação fictícia da suposta racionalização de “recursos”, como pretexto para privatizar os serviços sociais
Política

A justificação fictícia da suposta racionalização de “recursos”, como pretexto para privatizar os serviços sociais


O ataque às Classes Médias desafia a base de pagadores de impostos em Portugal. Com este governo, tal política já obrigou a um recuo de 2% do PIB.

Entalada entre os que produzem trabalho material e os donos dos meios de produção, a chamada classe média (às voltas com a burocracia improdutiva do sector terciário (1) é tradicionalmente avessa aos conflitos de classe. Adquiriram a ilusão que um dia terão o mesmo estilo de vida que a burguesia. E a ideologia (asséptica) das maiorias é sempre a ideologia da classe dominante. Até aqui, tem sido essa pequena burguesia a mais prejudicada com a enorme carga tributária que fizeram desabar sobre os portugueses. Mas as classes que já eram mais pobres não são atingidas (excepto no agravamento do poder de compra). Não esquecer que 3 milhões de inactivos ou reformados auferem menos de 400 €uros mensais. Os desempregados de média duração não auferem nada. Para estes sectores mais desfavorecidos da Sociedade, a mobilidade social (o chamado elevador social) é zero. Ou negativo. É um elevador que “só desce para baixo” (como diria qualquer ministro nas suas previsões optimistas)

A magreza económica das “classes médias” tem sido parcialmente compensada pelos serviços públicos prestados pelo Estado com as receitas dos impostos (2). Quando e se qualquer governo (Ps ou Psd) se atrever a esticar mais a corda e se sujeitar a quebrar as garantias mínimas de bem estar consagradas na Constituição e provocar o fim das ilusões sobre “as oportunidades sociais” (ambicionar o mesmo status dos ricos) essa grande mole de novos pobres, indiferenciados, deixará de ser a “tradicional almofada de amortecimento de conflitos”. Serão eles os geradores de conflitos. A situação é habilmente trabalhada pelo marketing governamental – por alguma razão o P”Sd” travou o corte de 24 milhões de euros na recente campanha de propaganda das Autárquicas.

(1) Desde a instauração do neoliberalismo na década de 70 os rendimentos do Trabalho foram perdendo consecutivamente terreno face a outras fontes de rendimento, as classes médias por via do acesso generalizado ao crédito barato - à mama do Estado para o cardume de corruptos de médio porte, através dos negócios assentes na especulação sobre o capital financeiro para os tubarões.
(2)A Classe Média, Ascenção e Declinio”, Elisio Estanque, 2012
relacionado:
(3) Livro em Epigrafe: Edição Le Monde Diplomatique, 2013
(4) “O Enigma do Capital e as Crises do Capitalismo”, David Harvey, 2011, que equaciona a redução do peso dos salários no PIB dos Estados Unidos.
(5) Onde se lê o modo como a crise favorece escandalosamente as grandes fortunas: “Plutocrats, The Rise of the New Global Super-Rich”, Chrystia Freeland, (“Plutocratas. a Ascenção da Nova Classe Global de Super-Ricos”)



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