Política
A Pequena Depressão Paul Krugman
FOLHA DE SP - 23/07/11
As negociações de dívida, se derem certo, repetirão o grande erro de 1937: opção prematura por contração fiscal freará a recuperação
Estes são tempos interessantes -no pior sentido. Estamos diante não de uma crise iminente, mas de duas, com riscos de desastre global. Nos EUA, fanáticos de direita no Congresso podem bloquear a elevação necessária do teto da dívida. E, se o plano que acaba de ser acordado por chefes de Estado europeus não acalmar os mercados mundiais, poderemos ver dominós caindo em todo o sul da Europa. Potencialmente, as duas semeariam o caos.
Mesmo que consigamos evitar uma catástrofe imediata, é praticamente garantido que os acordos que estão sendo fechados de cada lado do Atlântico agravem a depressão.
Os responsáveis pelas decisões econômicas parecem determinados a perpetuar algo que chamo de a Pequena Depressão -o período prolongado de desemprego alto que começou com a Grande Recessão de 2007-2009 e continua até hoje.
A grande bolha imobiliária da década passada, fenômeno americano e europeu, foi acompanhada por um aumento enorme na dívida das famílias. Quando a bolha estourou, a construção imobiliária residencial caiu vertiginosamente, assim como os gastos dos consumidores.
Tudo ainda poderia ter dado certo se outros atores econômicos importantes tivessem elevado gastos. Mas ninguém o fez. E os governos tampouco fazem muito para ajudar. Alguns foram, pelo contrário, obrigados a reduzir gastos em vista da queda das receitas. Os esforços modestos de governos fortes (incluindo o plano de estímulo de Obama) mal foram suficientes para contrabalançar essa austeridade forçada.
Portanto, estamos com economias enfraquecidas. O que os governantes propõem? Menos que nada.
Anteontem, os "chefes de Estado ou governo da área do euro" divulgaram seu grande acordo. Não foi tranquilizador. É difícil acreditar que a engenharia financeira que o comunicado propõe resolva a crise grega, que dirá a europeia.
Mas, mesmo que resolva, o que vai acontecer a seguir? O comunicado prevê fortes reduções do deficit "em todos os países exceto os que estão em um programa", a acontecer "até 2013 no mais tardar".
Como os países "que estão em um programa" estão sendo forçados a aderir à austeridade fiscal drástica, isso equivale a planejar que toda a Europa reduza gastos ao mesmo tempo. E nada sugere que em menos de dois anos o setor privado estará preparado para tomar medidas para que a economia cresça.
Para quem conhece a história dos anos 30, soa muito familiar. Se alguma das duas negociações de dívida fracassar, é possível que estejamos perto de um replay de 1931, o colapso global dos bancos que fez a Grande Depressão ser tão grande.
Mas, se elas derem certo, estaremos prestes a repetir o grande erro de 1937: a opção prematura por contração fiscal que fez a recuperação descarrilar e garantiu que a Depressão continuasse até que a Segunda Guerra finalmente deu à economia o incentivo de que ela precisava.
Há um ditado antigo: "Você não sabe, meu filho, com quão pouca sabedoria o mundo é governado". As elites de ambos os lados do Atlântico mostram incompetência em sua resposta ao trauma econômico, ignorando todas as lições da história.
Tradução de CLARA ALLAIN
loading...
-
A Loucura Do Rigor Europeu - Paul Krugman
O Estado de S.Paulo - 29/09Chega de complacência. Alguns dias atrás, a sabedoria convencional era que a Europa finalmente tinha as coisas sob controle. O Banco Central Europeu, com a promessa de comprar se fosse preciso os títulos de governos em dificuldade,...
-
Reagan Era Um Keynesiano - Paul Krugman
O declínio econômico que ele enfrentou era muito diferente do atual e muito mais fácil de lidar Não resta dúvida de que a recuperação dos EUA após a crise financeira tem sido frustrante. Na verdade, venho argumentando que seria melhor olhar a...
-
Sofrer Sem Ganhar - Paul Krugman
Na semana passada, a Comissão Europeia confirmou o que todos suspeitavam: as economias que ela monitora estão encolhendo, não crescendo. Não é uma recessão oficial ainda, mas a única questão real é qual será a gravidade da retração.E essa...
-
Joseph E. Stiglitz Risco Que Não Vale A Pena
O GLOBO - 05/04/2010 Uma onda de austeridade fiscal se precipita sobre a Europa e os Estados Unidos. A magnitude dos déficits orçamentários — como a magnitude da crise — pegou muitos de surpresa. Mas, a despeito dos protestos dos que propunham...
-
A Vida Sem Bolhas Paul Krugman
23/12 O ESTADO DE S. PAULO Faça a nova administração o que fizer, durante meses, um ano até talvez, um inferno econômico nos espera. Depois disso, as coisas devem melhorar à medida que o plano econômico do presidente Obama - ok, me disseram que...
Política